terça-feira, 30 de abril de 2024

ATAÍDE: A Inusitada Criatura do Folclore Paraense



ATAÍDE: A Inusitada Criatura do Folclore Paraense

Que personagem do folclore brasileiro seria capaz de causar um tremendo escândalo sexual em uma cidade brasileira? O saci pererê, com seu cotoco de perna? A mula-sem-cabeça, com suas labaredas saindo pela venta, após ter transado com um padre? Ou o boto, pai de mais um filho encantado com uma mulher casada?




Não, não, não, a polêmica que repercutiu em toda uma cidade do estado do Pará, foi causada pela imagem de uma inusitada entidade do folclore paraense pintada em um mural da praça Edwaldo de Souza Martins, da cidade de Bragança/Pa, feita por um artista local, que causou um reboliço dos diabos quando de sua criação em 2018, devido a criatura ter atributos sexuais proeminentes.

 


Digamos que, enquanto o Pé-Grande do folclore norte-americano, tem o pé grande, o Ataíde, entidade da região do salgado paraense, tem aquilo grande, se é que vocês me entendem.




A criatura é uma entidade protetora da natureza, que costuma atacar, para desespero dos moradores da região, quem esteja de quatro catando caranguejo no mangue --- isso mesmo “de quatro”, na posição que, dizem, Napoleão perdeu a guerra ---; principalmente no período de reprodução desse saboroso crustáceo, o que prejudica a espécie.


Há vários relatos de moradores da região que já presenciaram tal criatura, que descrevem o Ataíde como um ser humanóide, com o corpo tomado por pelos, com um olho só e com um pênis descomunal, que faria o Kid Bengala se sentir um bebê de meses. E a julgar pelos relatos, quem já viu o Ataíde jamais esquece.


Na época de sua pintura, muitos moradores locais se sentiram constrangidos em ver tal imagem, devido seu gigantesco órgão sexual. Mas houve aqueles que se sentiram orgulhosos por tal entidade ser um representante dos caboclos amazônicos.


Certamente, o caboco Ataíde jamais irá estar em produções com temas folclóricos, como a série Cidade Invisível, só se for em uma versão para maiores de 18 anos.


segunda-feira, 29 de abril de 2024

BORNAL NO 4º ENCONTRO DE QUADRINISTAS E ESCRITORES DO PARÁ




BORNAL NO 4º ENCONTRO DE QUADRINISTAS E ESCRITORES DO PARÁ


O BLOG BORNAL esteve presente no 4º Encontro de Quadrinistas e Escritores do Pará, que se realizou nos dias 26 e 27 de abril.


Tivemos a oportunidade de conversar com os artistas expositores, conheci grandes desenhistas e suas revistas em quadrinhos de ótima qualidade produzidas em nossa cidade, os livretos sobre poesia de cordel, as histórias de causos e lendas amazônicas.




Foi maravilhoso ver a grande dedicação com que esses artistas dedicam à produção de suas obras, movidos pelo amor a arte e a cultura nossa, em um país em que livros e cultura são artigos de luxo e dispensáveis, tirando do próprio bolso os meios para sua produção, e muitas vezes não recebendo a devida atenção e valorização de seus trabalhos.




O público, infelizmente, não compareceu na proporção que o evento merecia, em grande parte devido a intensa chuva que perdurou por todo o sábado e também pela pouca acolhida dos meios de imprensa de nossa região.


Fiquei bastante agradecido pelo convite e por fazer parte dessa turma talentosa que luta em prol de sua arte e pela nossa cultura. Obrigado aos organizadores.













quinta-feira, 25 de abril de 2024

HISTÓRIAS E LENDAS SOBRE UMA MULHER INDEPENDENTE



HISTÓRIAS E LENDAS SOBRE UMA MULHER INDEPENDENTE


EM 1882, era fundada, em Londres, a primeira Sociedade de Pesquisa Psíquica (Society for Psychical Research), que se dedicava à pesquisa do sobrenatural; foi o começo das pesquisas científicas sobre esse tema, que passou a ser chamado de “Paranormal”, despertando interesse de artistas e cientistas do calibre de Willian Crooks, pioneiro no estudo da radiação, e Willian James, o fundador da psicologia moderna.


Willian Cooks e o Espírito de Katie King (1874)


Em 4 de abril de 1896, a cantora e membra da Society for Psychical Research, madame Camille Monfort (1869 - 1896) chega à cidade de Belém para concertos no Theatro da Paz, durante o rico período da borracha, trazendo consigo além de seu extraordinário talento musical e seu comportamento independente para uma mulher de sua época (seus banhos de chuva em vias públicas ficariam famosos), escandaliza a população local, o que se agrava com suas demonstrações de seus poderes paranormais em eventos nos palacetes de Belém. 




Os mais entendidos, devido sua beleza pálida e doentia, sob influência europeia, a chamaram de “A Vampira”, enquanto a população local, estimulada por lendas e pelo comportamento noturno da cantora lírica (ela era sempre vista à noite a trajar vestidos negros em seus passeios noturnos), passa a concebê-la como uma "matinta perera" --- fato que cronistas posteriores explicariam, mediante argumentos antropológicos, de que o elemento feminino nas lendas amazônicas, como a lenda da matinta perera, sempre recaía sobre uma mulher que, de alguma forma, chocava a sociedade em que vivia, seja por sua independência de espírito, seja por ser mãe solteira ou por ter crenças diferentes da maioria, o que não fora diferente com madame Camille Monfort .



O romance “Após a Chuva da Tarde”, recorre a pesquisas históricas, matérias de jornais da época, relatos daqueles que a conheceram e fatos sobre a Belém antiga, para reconstruir a história de tão enigmática figura, que hoje se mistura com lendas locais.


Para Adquirir:

segunda-feira, 15 de abril de 2024

JANTAR SECRETO, de Raphael Montes (RESENHA)




JANTAR SECRETO (RESENHA)


Quatro amigos de infância, Dante, Miguel, Hugo e Leitão, vindos do interior do Paraná para cursar faculdade no Rio de Janeiro, descobrem que estão devendo os últimos pagamentos do aluguel do apartamento que dividem entre si, devido um deles, Leitão, o responsável pelo pagamento, ter gasto os últimos pagamentos com uma garota de programa. Então, passam a procurar uma forma de conseguir dinheiro para saldar a dívida, e encontram em um site gastronômico que organiza encontros para jantares, a forma viável de arrumarem dinheiro. Só que Leitão, o amigo responsável por inscrever os amigos no site, decide, por pura brincadeira, dizer que o jantar será feito de carne humana. E para a surpresa deles, há pessoas que aceitam e que depositam uma boa soma de dinheiro para realizar a bizarra experiência. O que leva os quatro amigos a se verem tentados a realizar tal jantar secreto e a planejar uma forma de encontrar um cadáver para servir como prato principal da noite.




Esta é a sinopse do romance Jantar Secreto, lançado em 2016, do mais famoso escritor brasileiro da atualidade, Raphael Montes.


Raphael Montes é um escritor corajoso, por seus livros tocarem em temas pesados e cheios de gatilhos (suicídio, perversidade, violência contra mulher e canibalismo), temas que, na era do politicamente correto, poderiam tê-lo feito ser rejeitado pelas editoras brasileiras ou cancelado, o que surpreendentemente não aconteceu; em grande parte isso se deve a sua escrita leve e fluída que ajuda a amenizar a brutalidade e seriedade de seus temas; mas, por outro lado, possui seus inconvenientes. 


No romance Jantar Secreto o autor utiliza imagens bastante nojentas, grotescas e gráficas que lembram filmes como O Massacre da Serra Elétrica e O Albergue e, mais uma vez, encontramos uma escrita fluída, que explora fatos curiosos sobre seus personagens, quanto a gostos e comportamentos particulares, despertando o interesse do leitor.



O livro possui um bom ritmo, uma trama que pega o leitor logo nas primeiras páginas, sendo pura adrenalina, com seus diálogos soando familiar, se assemelhando bastante aos diálogos que lembram filmes juvenis da Sessão da Tarde e novelas da Globo. No entanto, essa forma de diálogo tem seu inconveniente: aparenta muito distante da realidade, pois ninguém realmente fala daquele jeito, soando extremamente artificial, principalmente quando o diálogo tem como foco assuntos pesados e bizarros, como o canibalismo, prejudicando a imersão do leitor à trama do livro, já que os diálogos tratam o ato de devorar pessoas como um assunto corriqueiro, do dia a dia. 


Em um de seus capítulos, por exemplo, o autor utiliza o recurso de emular uma conversa via WhatsApp, o que é uma ótima ideia e bem atual, porém ele insere nos diálogos os habituais memes engraçados mesmo quando o assunto da conversa entre os quatro amigos é o roubo de um cadáver de hospital para ser servido como jantar.

 

O motivo que levou os quatro amigos a se envolverem com canibalismo, o pagamento do aluguel atrasado do apartamento, também não parece ser tão sério (com a mãe de um deles se oferecendo a pagar e sendo negado pelo filho por questão de orgulho) ao ponto de justificar a atitude tão drástica tomada por eles, o que dá à trama um tom forçado.


Raphael Montes

Há também o excesso de expressões gordofóbicas direcionadas ao personagem Leitão, um rapaz com obesidade mórbida, que ganha um tom ainda mais irônico quando se sabe que Leitão não é um apelido, mas seu sobrenome. O narrador usa a todo momento termos depreciativos, recorrendo a expressões que remete a mal cheiro, preguiça excessiva e a falta de interesse provocado nas mulheres, quando quer se referir a sua obesidade, que me incomodaram mesmo eu sendo magro.


Mais, sem dúvida, Jantar Secreto tem seus méritos.

terça-feira, 9 de abril de 2024

O BAILE DOS VAMPIROS




O BAILE DOS VAMPIROS

Foi também no salão da condessa que conheci aquele que se tornaria um mestre e amigo, Sir Thomas Fields, esposo de Catherine e médico do rei, que me chamou atenção por se destoar dos demais vampiros por sua aparência.

A condessa, embora fosse dois mil anos mais velha do que ele, tinha aparência jovem, enquanto ele, era um decrépito ancião, opulento, que envelhecia por vontade própria. Dizia que a velhice trazia consigo certas vantagens, que eu só compreendi tempos depois. Quando me viu, logo reconheceu em mim alguém de sua espécie.

“Veja eles”, sussurrou ao meu ouvido. “Podes reconhecer quantos de nós estão aqui nesta sala agora?”, disse, enquanto olhava os convivas a dançar o sinuoso e encantador Minuetto de Boccherini. “Veja aquele rapaz, de cabelos amarrados por um gracioso laço de fita, que corteja graciosamente a bela jovem ao lado, de cujo pescoço ele não tira os olhos; será um vampiro?” A jovem de cabelos loiros, deixava à mostra uma apetitosa veia que se estendia do pescoço até a nuca, de onde suaves fios de cabelos dourados se desprendiam em cachos. “Como se pode saber sem que haja aqui um espelho, milorde?”, disse eu ao homem que olhava o salão com ar de deboche. Ao que retrucou: “Ora, assim como eu o reconheci, meu rapaz”.

Fiquei então a observar os casais, os pequenos grupos de jovens e aqueles que caminhavam ao redor do salão.

“Por julgar que ausência de reflexo em espelhos e por serem seres notívagos, sejam características de vampiro por demais óbvias, deduzo que os reconheça por outros meios. Então, confesso, milorde, que ainda não estou preparado para tanto”. Ele me respondeu: “Sim, é visível sua inexperiência, meu rapaz. Mas, venha cá comigo”.

E se pôs a andar pelo salão com sua bengala, vestido em seu jaquetão azul-celeste com botões de ouro e uma peruca empoada, salpicada de prata.

O casal citado anteriormente também saiu do recinto, caminhava à nossa frente. Ele então falou: “Devido ao prolongado tempo de vida, vampiros acumulam profundos conhecimentos e grande riqueza, por isso estão sempre entre os nobres e poderosos de qualquer país ou reino. Mas isso não é suficiente para identificá-los, já que todos aqui são ricos e poderosos, mas nem todos são vampiros. Contudo, vampiros são vaidosos. E se conheces alguém que seja vaidoso e que evite espelhos, certamente ali há um de nós. Mas há também outra forma de identificá-los. Passe-me aquele cálice de vinho e olhe meus olhos”. Fiz o que ele me pediu. Ele segurou o cálice de vinho contra a luz e logo vi seus olhos avermelhar-se ao olhar a taça, como se a cor do vinho se refletisse em seus olhos.

“Então o vinho faz seus olhos reagirem a ele”, exclamei. Ele me respondeu: “Não o vinho, mas a cor vermelha que desencadeia em nós o estímulo por sangue, revitalizando-nos. Não podes ver, mas também tens os olhos vermelhos”.

Naquele instante compreendi o porquê de eu, até àquele momento, ter sido poupado do contato com tal cor. Certamente para não me estimular ainda mais à busca pelo líquido precioso.

“Por isso, veja quantos estão a usar vermelho”, disse ele olhando os presentes. Reparei que a maioria usava tal cor, seja por meio de uma rosa nos cabelos, usado pelas damas, seja nos jaquetões dos cavalheiros ou nos lenços destes. Então, comentei: “Vejo, no entanto, milorde, que nada tens de vermelho”. Ele riu e disse: “Estás enganado, meu rapaz”. Então suspendeu as rendas de suas mangas expondo mãos descarnadas e amareladas, com os dedos repletos de anéis de rubi.

Finalmente, chegamos ao jardim e voltamos a ver o casal novamente, agora com a dama encostada a uma árvore e o rapaz em pé à sua frente.

“Olhe”, disse ele olhando em direção ao casal.

O rapaz abraçou a delicada dama e a beijou na face. E prestes a beijá-la nos lábios, ela se desvencilhou de sua boca, virou-se sobre seu pescoço e o mordeu com extrema voracidade, revirando os olhos vermelhos de prazer.

(Texto Tirado do Romance “Após a Chuva da Tarde - A Lenda de Camille Monfort: a Vampira da Amazônia”).

Livro Físico: https://loja.uiclap.com/titulo/ua53303/

E-Book: https://www.amazon.com.br/dp/B0CW1F9DM3

 

quarta-feira, 3 de abril de 2024

O QUÊ? UMA VAMPIRA NA AMAZÔNIA?

EM 1896, BELÉM enriquecia com a venda da borracha amazônica. Os Fazendeiros prosperavam, da noite para o dia, construindo luxuosos palacetes com materiais importados da Europa, e suas esposas e filhas mandavam suas roupas para o velho continente para serem lavadas e tomavam banho com água mineral importada de Londres (*).

O Theatro da Paz era o centro da vida cultural da Amazônia, com artistas vindos da Europa. Entre eles, uma chamou especial atenção por sua grande beleza: a encantadora cantora lírica francesa Camille Monfort, que causou desejos inconfessáveis nos ricos senhores e ciúmes atrozes em suas esposas.

Camille provocou indignação por seu comportamento livre das convenções sociais de seu tempo. Ela era vista seminua a dançar pelas ruas de Belém enquanto se refrescava sob a chuva da tarde; também despertou curiosidade dos que a viam em solitários passeios noturnos, com seu longo vestido negro à beira do Rio Guajará em noites de lua cheia.

Para aonde ia, sempre foi um grande mistério, nunca revelado nem mesmo por aqueles que a seguiam, pois ela parecia desaparecer dentro da noite feito um animal noturno.

Rumores maliciosos logo se espalharam sobre ela. Dizia-se que era amante do influente magnata Francisco Bolonha, que a trouxera da Europa e que lhe dava banho com caríssimas champanhes na banheira; que ela tinha o poder de hipnotizar o público com sua linda voz; de fazer homens escravos de sua vontade, de fazê-los jogar-se aos seus pés após os concertos; de arruinar casamentos por puro prazer e, devido sua palidez e uma suposta doença adquirida em Londres, de fazer jovens mocinhas desmaiar em seus concertos para lhes roubar o sangue que, supostamente, a mantinha jovem para sempre.

O que, curiosamente, coincidiu com relatos de desmaios nas dependências do teatro durante seus concertos, que eram explicados como apenas o efeito da forte emoção produzida por sua música aos ouvidos do público.

Dizia-se também que ela possuía o poder de se comunicar com os mortos e materializar seus espíritos em sessões mediúnicas. Eram, sem dúvida, as primeiras manifestações na Amazônia do que viria a ser chamado de espiritismo, praticados em misteriosos cultos nos palacetes da cidade.

No final de 1896, um terrível surto de cólera dizimou grande parte da população de Belém, fazendo de Camille uma de suas vítimas, sendo sepultada no Cemitério da Soledade.

Hoje, sua sepultura ainda está lá tomada pelo limo, musgo e pelas folhas secas, sob uma enorme mangueira que faz seu túmulo mergulhar na obscuridade de sua sombra, apenas clareada por alguns raios de sol que se projetam por entre suas folhas verdes. É um mausoléu de linhas neoclássicas com um portão fechado por um velho cadeado enferrujado, de onde se pode ver um busto feminino em mármore branco sobre a ampla tampa do túmulo abandonado; e, fixado à parede, uma pequena imagem emoldurada de uma mulher vestida de preto; em sua lápide pode-se ler a inscrição: 

Aqui jaz

Camille Marie Monfort (1869 – 1896),

A voz que encantou o mundo.

Mas há aqueles que, ainda hoje, dizem que seu túmulo está vazio, que sua morte não passara de encenação para acobertar seu caso de vampirismo, e que Monfort ainda vive na Europa, aos 155 anos de idade.

Hoje, sua história se resume apenas a uma obscura lenda urbana: “Que aquele que depositar uma rosa vermelha sobre seu túmulo, à noite, não se assuste se, ao amanhecer, a rosa tenha se tornado sangue”.

Camille Marie Monfort, cuja a vida logo fora tomada pelas brumas do tempo, foi uma dessas enigmáticas criaturas que deixou de ser história para se tornar lenda.

Aqui é contada um pouco de sua história (**).

* Devido a água da região ser barrenta e amarelar as roupas. 

** Prólogo do Romance “Após a Chuva da Tarde”.

Pedidos Pelo Link: https://loja.uiclap.com/titulo/ua53303/