VAMPIRAS, MATINTAS PERERAS E A EMANCIPAÇÃO DA MULHER
Apesar de existir uma versão masculina da lenda da matinta perera, a versão mais conhecida é a que tem a mulher como personagem da narrativa.
Na versão conhecida, a matinta perera é uma idosa que, graças a uma maldição ou poderes adquiridos, é capaz de se transformar em animais --- geralmente porco ou em coruja ---, e que se manifesta com um assobio e causa má sorte aqueles que se recusarem a dar a ela fumo ou cachaça.
Nessas histórias, mulheres acusadas de ser matintas são sempre sozinhas e possuem crença religiosa diferente da maioria.
No livro Visagens e Assombrações de Belém, de Walcyr Monteiro, há duas histórias de matinta perera: A Matinta Perera da Pedreira, em que a casa da acusada, “velha Mariana”, é assim descrita:
“Na sala localizava-se o “congá” (espécie de altar) com diversas imagens misturadas com adornos esquisitos, tais como rosário de contas pretas e vermelhas, potes, panelas e alguidares de barro hermeticamente fechados com toalhas coloridas e nem sempre limpas e ossos que nunca se soube se eram humanos ou de animais, além de velas de cores diversas.”
“Velha Mariana morava só e passava os dias trancada em casa, cozinhando sempre alguma coisa que nunca se sabia o que era e acondicionando-a nos recipientes. Quando, indiscretamente, olhavam pelo buraco da fechadura, viam-na dançando e cantando toadas que não eram bem entendidas…”
Além de descrever “Velha Mariana” com a aparência de bruxa clássica, o autor deixa bem claro que ela tinha religiosidade de matriz africana e morava sozinha, fatores que causam aversão na vizinhança.
Já em A Matinta Perera do Acampamento, tudo que o “causo” conta sobre a acusada de ser matinta é: “Ouvida, a mulher disse não ter parentes…”. Ou seja, era uma mulher sem filhos e marido, que contrariava os ideais impostos às mulheres pela sociedade da época.
O termo “matinta perera” tem tanta conotação de desprezo social que ainda hoje é usado para ofender mulheres. Nesse sentido, o termo “matinta perera” é semelhante à “bruxa”, que ainda é usado para ofender e discriminar mulheres que possuíam, crenças religiosas e comportamentos não aceitos pela sociedade da época.
Valendo-se das curiosas semelhanças entre lendas europeias e lendas da Amazônia, o romance “Após a Chuva da Tarde - A Lenda de Camille Monfort, a Vampira da Amazônia” explora curiosas semelhanças entre vampiros e matinta pereras, através de sua personagem Camille Monfort --- uma cantora lírica francesa que em 1896 vem para a cidade de Belém para concertos e causa rebuliço por por seu espírito independente e comportamento considerado não condizente com uma dama europeia, tais como tomar banho na chuva da tarde de Belém ou fazer misteriosos passeios noturnos à beira do rio Guajará, aliado a sua extrema beleza e talento, que causara inveja às senhoras da época, passa a ser chamada de “vampira” por aqueles conhecedores da cultura europeia, e por “matinta perera”, pela a população local que associa tão enigmática dama à famosa lenda amazônica.
E as semelhanças entre vampira e matinta perera não está apenas no poder sobrenatural de se transformar em animais, mas, sobretudo, como forma de qualificar mulheres devido a sua liberdade de espírito e comportamento não condizente para uma mulher de sua época.
A famosa atriz francesa Sarah Bernhardt, foi uma dessas mulheres que, no começo do século XX, por seu um talento excepcional que parecia hipnotizar o público, foi associada ao conceito de “vampira” por seu comportamento excêntrico.
Sarah Bernhardt além da grande preferência por casacos de peles e por colecionar animais selvagens, ela era vista com chapéu que ostentava um morcego empalhado e possuía um caixão usado em suas peças e que era usado por ela também como leito de dormir, que foi usado por ela pela última e definitiva dez, em 1923, pela ocasião de sua morte.
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