sábado, 12 de abril de 2025

ROMANCE PARAENSE UNI MITOLOGIA GREGA AO VAMPIRISMO E À ENCANTARIA MARAJOARA




ROMANCE PARAENSE UNI MITOLOGIA GREGA AO VAMPIRISMO E À ENCANTARIA MARAJOARA


Muito mais que apenas uma história de vampiro, o romance “Após a Chuva da Tarde - A Lenda de Camille Monfort, a Vampira da Amazônia”, do paraense Bosco Chancen, mergulha no fascinante mundo dos mitos da encantaria marajoara, explorando o desejo humano por imortalidade e investigando as incríveis semelhanças entre a mitologia grega, a encantaria paraense e a lenda europeia dos vampiros.


MITO DE ORFEU

A mitologia grega está presente por meio do Mito de Orfeu --- o herói grego que desceu ao reino dos mortos em busca de sua amada morta, Eurídice, para trazê-la à vida. E com a música de sua lira, dada por Apolo, foi capaz de adormecer cérbero, o cão de três cabeças, guardião do portal do inferno, e convencer Hades, o rei dos mortos, a permitir que sua amada volte à vida. Hades permite, mas com uma condição: que Orfeu se mantenha calado e jamais olhe para a amada durante seu retorno. Porém, acreditando que Hades teria lhe pregado uma peça, Orfeu olha para trás e vê Eurídice, quebrando a condição e fazendo-a regressar ao reino dos mortos. Atormentado pela perda da amada (em uma das versões do mito), Orfeu abandona a luz do dia, se junta às solitárias criaturas noturnas, com seu lamento.




Por meio dos elementos simbólicos do Mito de Orfeu, o livro interpreta o mito como uma busca pela eternidade por meio do inconsciente: Cérbero é o consciente que nos impede de adentrarmos o inconsciente; Hades é o inconsciente, o inferno feito de nossos traumas, dores e desejos proibidos; Eurídice é a própria imortalidade, que sempre nos escapa:




(A palavra) Cérbero… se assemelha a “cérebro”. As semelhanças não param por aí. Cérbero vigia um mundo tenebroso, impedindo que estranhos entrem, mas também que saiam; tal qual nosso cérebro, nossa consciência, que vigia o mundo interior do pensamento, impedindo que um mau pensamento saia dele e se torne um mau ato e perturbe nossos dias.


A ida de Orfeu ao submundo é como uma viagem ao inconsciente, aos nossos medos interiores, que guardamos de nós mesmos… sou como Orfeu descendo ao meu próprio inferno, a enfrentar meus medos, em caminhos cada vez mais profundos de meu ser. Mas o que busco encontrar? Que Eurídice ambiciono trazer à vida? (Fala de um dos personagens de “Após a Chuva da Tarde”).




ENCANTARIA MARAJOARA

Ambientado na Amazônia, em Belém do Pará, o romance mergulha nos mitos da Encantaria Marajoara --- mitologia milenar herdada dos indígenas da Amazônia que está em vias de desaparecer ---, cuja crença afirma que indivíduos são capazes de vencer a morte, tornando-se encantado, um habitante do misterioso mundo dos seres encantados da floresta. O romance investiga os “portais mágicos”, que uniriam o nosso mundo ao mundo dos encantados. 




O romance explora as semelhanças entre o Mito de Orfeu e a encantaria marajoara. A entrada do Hades, o reino dos mortos, são os portais mágicos da encantaria, em que, assim como no mito grego, também teria seus guardiões, criaturas míticas da encantaria; tudo mediado pelo uso do chá da ayahuasca, também conhecido por “chá dos mortos”.

  

Pessoas que, por um poder mágico, se transformam em criaturas encantadas, em guardiões da floresta, que passam a pertencer a um mundo paralelo ao nosso. Um lugar mágico cujas criaturas manteriam contato com nosso mundo por meio de portais míticos, por onde filhos de encantados conheceriam sua verdadeira origem ao adentrá-los. (Após a Chuva da Tarde).


MITO DO VAMPIRO

Histórias de vampiro também têm como tema o desejo humano pela imortalidade. E está presente no referido romance por meio da figura enigmática da bela cantora lírica Camille Monfort.


Camille, personagem inspirada na misteriosa dama envolvida em uma controversa história de amor e morte, ocorrida com o infortunado músico inglês Jeremiah Clarke (1674 - 1707) que, ao ter seu amor rejeitado pela nobre dama, teria posto fim a própria vida. 




O sepultamento de Clarke, contrariou a lei que vigorou na Inglaterra até 1820, que proibia enterros de suicidas em locais santos --- e que no Brasil obrigava cemitérios a terem um local reservado a eles ---, teve seu sepultamento ocorrido no cemitério da igreja de Saint Paul, em Londres, no ano de 1707. Nesta época havia o costume de expor corpos de suicidas à humilhação pública, carregados por carroça e tinha uma estaca cravada no peito.  


Camille incorpora os dons da música, que no Mito de Orfeu é um instrumento de magia e poder, ela teria o dom de encantar o público com sua voz e fazê-lo cativo de sua beleza; e por amor, teria feito o amado imortal, trazendo-o das profundezas do reino dos mortos à vida.


“Dizia-se que ela tinha o poder de hipnotizar o público com sua voz, de fazer homens escravos de sua vontade, de fazê-los jogar-se aos seus pés após os concertos, de arruinar casamentos por puro prazer e, devido sua palidez e uma suposta doença adquirida em Londres, de fazer jovens mocinhas desmaiar em seus concertos para lhes roubar o sangue que supostamente a mantinha jovem para sempre.” (Após a Chuva da Tarde).


Como podemos ver, o livro tem um diferencial fundamental às histórias de vampiros, a obra não apenas recorre a fatos históricos e citações de locais reais, mas também recorre a fatos sociais e históricos concretos para abordar o vampirismo, como, em parte, o efeito da demonização de pessoas de grande talento --- fato comum na Europa do século XIX, basta lembrar de Niccolo Paganini (1782 - 1840) e a lenda de que ele teria feito pacto com o diabo para obter seus dons musicais.


Acrescente-se a isso a demonização de mulheres que ousavam fugir dos padrões sociais impostos às mulheres de sua época.


“Lembro da indignação que causou com seus banhos de chuva. As senhoras tampavam os olhos dos maridos quando a viam, seminua, a refrescar-se sob a chuva da tarde. Aquilo não parecia ser mesmo o comportamento de uma dama!” (Após a Chuva da Tarde)


Não se pode também esquecer do início da chegada à Amazônia de práticas espiritualistas, como o fenômeno da materialização de espírito, que se iniciava na cidade de Belém, na segunda metade do século XIX, outra fonte de demonização de pessoas que compartilhavam crenças religiosas diferentes da dominante.


A demonização de mulheres que não se adequam aos padrões sociais impostos pela sociedade, também encontra um correlato nas lendas amazônicas, na figura de uma entidade do folclore local, a matinta perera, cujas histórias contadas têm quase sempre como alvo mulheres solitárias, com crenças religiosas de matriz africana ou indígena, vistas com certa repulsa pela sociedade por não se encaixarem nos padrões sociais conferidos às mulheres. O que leva o romance “Após a Chuva da Tarde” a explorar as semelhanças entre a lenda dos vampiros e a lenda da matinta perera.


“Vampiro é como essa gente estudada fala pra essas coisas, piquena. Mas, pra gente, o nome disso é matinta perera, minha filha.” (Fala de uma das personagens de “Após a Chuva da Tarde”).


O romance “Após a Chuva da Tarde - A Lenda de Camille Monfort, A Vampira da Amazônia” é tudo isso e muito mais: uma boa oportunidade de conhecer um pouco da cultura amazônica e sobretudo o papel das lendas e mitos na evolução humana, tudo com uma boa dose de realismo mágico e de estética gótica.




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sábado, 15 de março de 2025

CASO VITÓRIA E A EXPLORAÇÃO DA MÍDIA




CASO VITÓRIA E A EXPLORAÇÃO DA MÍDIA

A jovem Vitória Regina foi encontrada morta em região de mata na cidade de Cajamar, interior de São Paulo, no dia 5 de março --- uma semana após ter sido dada como desaparecida pela família. Seu corpo estava nu, com um grande corte no pescoço e outros em seu peito. O caso tem despertado grande interesse dos programas jornalísticos da TV aberta, e inúmeros canais do youtube, sendo destaque até em programas de televisão e canais do youtube que não tratam de ocorrências policiais, mostrando o grande fascínio que crimes hediondos causam na imprensa e no público.


O Caso Vitória Foi Levado ao Programa de Variedades Encontro Com Patrícia Poeta. O que Provocou a Indignação do Público Quando a Apresentadora, ao Vivo, Informou ao Pai da Vítima Quem Seria os acusado de Terem Matado sua Filha, o que Causou Perplexidade ao Pai que Não Sabia

A mídia tem se dedicado não apenas a explorar as novidades do caso, mas a dar destaque a teorias sensacionalistas, na maioria das vezes, sem base alguma, tudo em nome de mais audiência e likes. Do outro lado, temos autoridades policiais que, devido à grande insistência da imprensa por novidades, sentem-se obrigadas a relatar qualquer nova hipótese sobre o caso. O que tem levado a exposição de possíveis suspeitos, fazendo-os correr o risco de serem agredidos pela população revoltada ou perderem seus empregos, para logo depois deixarem de ser considerados suspeitos. Como exemplo disso o próprio pai da vítima foi tido como suspeito, pondo-o em situação delicada e perigosa. Para logo depois ser corrigido o erro. 




E nesse festival de teorias e suposições sensacionalistas, é claro que não poderia faltar, como sempre acontece com crimes hediondos, a hipótese do ritual satânico, que levou alguns a afirmar que Vitória Regina teria sido morta em um ritual de bruxaria, devido seus cabelos terem sido cortados, com punhaladas próximas ao coração e um grande corte em seu pescoço --- como se estes fatos não fossem comuns a centenas de assassinatos. A suposição de ritual satânico, sempre se baseia nunca em evidências mas no puro e simples preconceito religioso.




E nada ganha mais atenção da imprensa do que crimes que inicialmente envolvem suposto ritual satânico, assim como foi com inúmeros casos --- Caso Evandro; meninos Emasculados de Altamira. Isso nos leva a delicada questão: O que faz com que um assassinato se torne tão popular, como no caso da menina Vitória, embora tenha existido inúmeros outros casos semelhantes aos dela, que aconteceram próximos da mesma data de sua ocorrência, e não tiveram a mesma difusão?


Embora o senso comum acredite que o que torna um crime tão popular seja o próprio crime, a verdade é que é a imprensa que escolhe dar mais atenção a este crime não aquele, devido ele ter ingredientes que podem ser melhor explorados sensacionalisticamente, mesmo que depois se revele como não verdadeiro. E sem dúvida alguma, o assassinato da jovem Vitória parecia ter elementos polêmicos: o assassinato de uma jovem por ter descoberto a relação homoafetivo de seu namorado com um vizinho, mesmo que isso tenha se revelado como não verdadeiro, mas foi o ponto de partida para a imensa popularidade do caso, pois sexo e crime, sempre foram dois elementos que sempre provocaram curiosidade de muitos.

 


domingo, 9 de março de 2025

RUÍNAS DE UM CASTELO EM PLENA CIDADE DA AMAZÔNIA







RUÍNAS DE UM CASTELO EM PLENA CIDADE DA AMAZÔNIA


Quando se é criança, qualquer história se torna viva. Na escola, havia o “buraco da bruxa”, uma passagem no muro do colégio que levava a um terreno baldio, misterioso, que provocava medo e que se contava histórias medonhas sobre ele. O local tornou-se um desafio àqueles que queriam testar sua coragem, desafiando-o ao invadir seus domínios.





E quem diria que, em plena Belém, um pedaço da floresta Amazônica guarda, com todo o seu mistério e civilizações perdidas, as ruínas de um misterioso castelo que o espera para envolvê-lo em seu clima de mistério. Para alguns é a “casa da bruxa” ou da matinta perera, personagem das lendas amazônicas. 





Mas a construção, feita aos moldes do romantismo europeu do século XIX, foi feita para ser isso mesmo: ruínas de um castelo invadido pela floresta amazônica. 







O lugar é extremamente propício à imaginação de adultos e crianças.




O Bosque Rodrigo Alves já embalou a imaginação de milhares de crianças e ainda continua com seus 141 anos de existência, localizado no centro urbano da cidade de Belém. Foi construído em 1884, no auge da comercialização da borracha amazônica, contendo áreas temáticas, em meio a inúmeras espécies da flora e da fauna amazônica. 



segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

A INCRÍVEL SEMELHANÇA ENTRE O SER HUMANO E AS ESTRUTURAS DO UNIVERSO





A INCRÍVEL SEMELHANÇA ENTRE O SER HUMANO E AS ESTRUTURAS DO UNIVERSO


Você já reparou na semelhança entre as linhas de uma mão humana e as nervuras de uma folha de árvore? Nos galhos de uma árvore e nos brônquios de um pulmão humano? Ou na semelhança entre uma descarga elétrica e as artérias de nossos corpos?


A semelhança entre nós e outros seres, não acontece apenas com nosso corpo, também com nossa mente e o universo.

 



O fato de teorias matemáticas, extremamente abstratas, criadas sem nenhum propósito de aplicabilidade à realidade, que com o tempo acaba se descobrindo que elas podem ser aplicadas de alguma forma à realidade, deixa claro a semelhança entre as estruturas criadas pela mente humana e a estrutura do universo, o que permite sua aplicabilidade, mostrando uma íntima conexão entre o pensamento humano e o universo, como se existisse uma pré-adaptação de nossa mente ao universo. 


Acima, as Marcas Deixadas em Pessoas Atingidas por Raio, que Incrivelmente se Assemelha ao próprio Raio, Devido ao Formato Semelhante de Nossas Artérias

A moderna física quântica está cheia de exemplos disso. Várias vezes uma nova partícula de matéria é descoberta matematicamente, décadas antes de ser detectada fisicamente por aparelhos.


Stephen Hawkings

Este enigma já era conhecido por matemáticos antigos, e tem se confirmado cada vez mais com o progresso da matemática e da física moderna. O que levou mentes geniais a argumentar que “A matemática é a linguagem que Deus escreveu o universo”, Galileu Galilei (1564 - 1642). Ou: “A matemática é a única linguagem que temos em comum com a natureza”, Stephen Hawkings (1942 - 2018).


Outro bom exemplo disso é nossa concepção de infinito que, embora nunca tenhamos presenciado algo infinito, porém, somos capazes de concebê-lo matematicamente, podendo ser aplicado ao que nos parece ser algo realmente infinito: o universo. O matemático alemão George Cantor (1845 - 1918), inspirado nas discussões de filósofos medievais sobre os tipos de infinitude, criou toda uma hierarquia matemática de números infinitos, em que existe números infinitos maiores que outros números infinitos, muito antes que a densidade infinita dos buracos negros e demais grandezas infinitas de objetos astronômicos, invadissem a astronomia e física moderna.


E foi graças ao paralelismo entre as leis do pensamento humano e as leis do universo, que foi possível o surgimento dos computadores eletrônicos e a inteligência artificial, graças a formalização da lógica feita pelo matemático inglês George Boole (1815 - 1864) e sua posterior adaptação aos circuitos eletrônicos, feitos pelo matemático e engenheiro eletrônico americano Claude Shannon (1916 - 2001), que computadores são capazes de “pensar” como os humanos.


Mas como explicar essa misteriosa relação entre a mente humana e a estrutura do universo?


A semelhança Entre Nosso Sistema Solar e a Concepção de Átomo

Para o filósofo e psicólogo suíço Jean Piaget (1896 - 1980), que estudou durante anos o surgimento da formação do pensamento matemático nas crianças, a explicação para a semelhança entre as estruturas matemáticas criadas pelo ser humano e as estruturas do universo, só pode ter uma explicação biofísica. 


“A solução que as pesquisas genéticas sugerem a este respeito é que, como já visto, se as estruturas elementares provém das coordenadas gerais da ação e estas das coordenadas nervosas, é até as coordenadas orgânicas e biofísicas que é preciso recuar para atingir suas fontes…”


Em outras palavras, sendo o cérebro humano um produto das leis do universo, é natural que ele, assim como a estrutura dos planetas e galáxias, reflita estas mesmas leis em sua estrutura e criações, criando assim o paralelismo entre os produtos criados pela mente humana e a estrutura do universo, como se nossa mente fosse pré-adaptada para entendê-lo. O que, curiosamente, leva-nos à antiga filosofia de Platão, que argumentava que todas as coisas existentes no universo possuiriam uma cópia anterior a elas, que habitaria o mundo que ele chamou de “mundo das ideias”.


A Incrível Semelhança entre Neurônios Humanos e Galáxias

Ao invertermos o paralelismo entre a mente humana e o universo, isso nos leva a pergunta: Seria o universo também pensante, como um grande cérebro ou um computador de dimensões infinitas?  


Obras Consultadas:

A Epistemologia Genética, de Jean Piaget

História da Matemática, de Carl B. Boyer


 



sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

ATEU X AGNÓSTICO: QUAL A MELHOR OPÇÃO?





ATEU X AGNÓSTICO: QUAL A  MELHOR OPÇÃO? 


Há diversas definições do que é ser ATEU e AGNÓSTICO --- o youtube está cheio delas. Mas tenho a minha própria, que pode ser útil a outras pessoas, e que tem a vantagem de ser simples, e capaz de mostrar preconceitos anticientíficos que alguns ateus possuem. Vamos a ela.


A falta de crença na existência de seres divinos tem tomado diferentes formas ao longo da história humana, desde pessoas que não possuem o menor interesse pela questão “Deus existe?”, simplesmente porque estão mais preocupados com problemas do dia a dia --- emprego, família, etc. ---, até aqueles indivíduos que não acreditam na existência de seres divinos por julgarem possuir bons motivos para isso.  


Entre estes, há AGNÓSTICOS e ATEUS. E a fim de abreviar e simplificar o assunto, o texto irá se prender apenas à forma mais popular de agnóstico e ateu.

  



Ateu

Pessoa que não acredita na existência de seres divinos. Em geral, buscam no pensamento científico razões para negar a existência de deuses e também do sobrenatural.


Agnóstico

Para o agnóstico, o ser humano não é capaz de afirmar ou negar a existência de seres divinos, que não pertenceriam ao nosso mundo, pois nossa experiência e conhecimento são adaptados unicamente para nosso mundo. 


Em geral, o agnóstico é visto pelos religiosos como um ateu, e pelos ateus, como um indeciso, um “em cima do muro”, que não consegue decidir a favor ou contra a existência de seres divinos. Contudo, na prática, agnósticos são ateus, já que não dependem da crença em deuses, para tomar suas decisões ou para sua moralidade.


Duas Formas de Encarar o Conhecimento Humano Sobre o Mundo:


Materialismo 

É a crença de que “Tudo o que existe no universo é feito de matéria --- a energia seria uma manifestação da matéria, e vice versa”.


Materialismo e Ateus

Ateus tendem a fundamentar seu ateísmo no materialismo, afirmando que “Tudo que existe é matéria e obedece às leis físicas”. Em outras palavras: tudo que verdadeiramente existe é feito de matéria e só assim pode existir, podendo ser verificado e medido por meio de instrumentos científicos. Assim, mesmo o objeto mais incomum e distante do universo, ou a menor partícula de um átomo, se existe, então é feito de matéria, e obedece às leis físicas, podendo ser verificado por instrumentos científicos.


Por conseguinte, para ateus, seres divinos e sobrenaturais, que são definidos como NÃO-MATERIAIS, portanto, não sujeitos às leis físicas, não existem. Dessa forma, alma, fantasma, fadas, gnomos, etc., seres definidos como imateriais, não existem. Sendo apenas criações imaginárias. Por isso, para um ateu, alguém que acredita em seres imateriais, só pode estar: enganado, mentindo, alucinado ou com problemas mentais.


Ceticismo 

Corrente de pensamento que assume a atitude de “Não aceitar nada sem questionamento, seja conhecimento, fatos, opiniões ou crenças estabelecidas”. 


Ceticismo e Agnósticos

Agnósticos tendem a fundamentar seu agnosticismo no ceticismo. Desta forma, o agnóstico mantém a postura de duvidar, até que, possua conhecimento suficiente para poder afirmar algo a respeito da coisa em questão, ou de manter a dúvida indefinidamente. No caso de seres que, por definição, possuem características de que não temos experiência e conhecimentos claros --- deuses, alma, espírito, fantasmas, etc. ---, a dúvida se mantém indefinidamente, obrigando o agnóstico a suspender, definitivamente, qualquer forma de juízo sobre tais seres. 


Ceticismo x Materialismo = Agnóstico x Ateu

Como vimos, a diferenciação entre agnóstico e ateu é essencialmente uma diferenciação de pontos de vista entre ceticismo e materialismo. 




O agnóstico, seguindo a postura cética de “duvidar de tudo até que tenha evidências suficientes para acreditar ou negar a existência e a verdade de algo”, irá aplicar este princípio ao próprio materialismo ateu, ao princípio de que “Tudo que existe é matéria e obedece às leis físicas”, descobrindo que não há evidências suficientes para acreditar que tal princípio seja verdadeiro, pois não conhecemos todo o universo para afirmar que tudo se resume em matéria; além disso, toda a informação sobre o mundo estão limitados aos nossos cinco sentidos (mesmo quando aguçado por instrumentos científicos) --- visão, olfato, audição, paladar, tato --- podendo existir coisas que existem mas que não são captadas por nossos sentidos, e acabamos por afirmar, erroneamente, que elas não existem, quando, na verdade, o que não existe é um sentido humano apropriado para perceber sua existência e propriedades.


E o materialismo ateu não é capaz de provar que nossos 5 sentidos, mesmo aguçados por instrumentos científicos, são capazes de esgotar tudo do que há para conhecer neste imenso universo, e muito menos que, tudo que existe, é única e exclusivamente material. 


Portanto, sempre haverá a possibilidade de existir algo não-material, não sujeito às leis da natureza, embora não possa ser provado sua existência, nem conhecidas pelos nossos sentidos suas propriedades e características. 


Um Preconceito Ateu Materialista e Anticientífico

Entre materialismo e ceticismo, o ceticismo se adequa melhor à ciência, pois duvidar de tudo, até que, se tenha evidências e conhecimentos suficientes da coisa em questão, sempre foi uma das bases da ciência, que leva o cientista a estar sempre aberto a novas experiências e não discriminar o objeto de pesquisa. Ao contrário disso, o materialismo, ao afirmar que “Tudo que existe é matéria”, limitaria o cientista a pesquisar apenas o que, a primeira vista, fosse concebido como material --- de acordo com sua concepção de matéria ---, renegando o que fosse considerado como não-material, como não merecedor de pesquisa, visto que, de antemão, o pesquisador já o conceberia como não existente. 


Este mesmo preconceito também está presente em muitos ateus, que, devido ao seu materialismo, são propensos a afirmar, de antemão, que coisas definidas como não-materiais, não sujeitas às leis da física --- deus, alma, espírito, e tudo que fosse definido como sobrenatural ---, não existiria, devendo ser descartadas como não existentes, antes mesmo de qualquer análise ou experiência sobre eles.  


Deste modo, o agnóstico, por seu ceticismo, seria uma melhor opção para aqueles que pretendem melhor se adequar ao pensamento científico, com menos possibilidade de cair em preconceitos conceituais.


Obra Consultada:

“O Buldogue de Darwin: A Interconexão Entre Agnosticismo e Evolução em Thomas Huxley” de Gabriel Pereira Porto.