terça-feira, 8 de novembro de 2011

LOS 3 BACANAS (de Haroldo Brandão)


Era uma vez há muito tempo, nos anos (favor não confundir) conhecidos como os anos 70, aqueles três, um que descendia de paraibano, outro que descendia de portugueses e o outro que tinha em suas veias sangue índio e português e nariz adunco, andavam pelas ruas da Cidade Velha com uma nuvem de fumaça sobre suas cabeças, era fácil identificá-los: era só seguir aquele fumacê aliás, na casa do que era cabeludo ao sair pela Rua Carlos Gomes o trem já fumegava, alcançando a Tamandaré. Quando adentravam o Colégio do Carmo tudo era só sorriso. Nas aulas de matemática do professor calango balado, ao ritmo de logaritmos, quase se cagavam de tanto dar risada, a sala olhava penalizada daqueles três idiotas. Na saída do Colégio a volta na loja de roupas de segunda mão na Tv. Leão XIII, vindas dos EUA era irresistível, os últimos lançamentos: casacos de inverno, casacos do exército (USArmy), jeans rasgados, botas de camurça com solado de pneu e outras peças originais para serem estreadas no cine-clube durante o audiovisual de Jesus Cristo Superstar. Como outros de nossa geração queríamos tudo ao mesmo tempo. A ditadura para os três foi uma tremenda risada em suas viagens levemente alucinadas ao som do vinil usado da Joaquim Távora. Já quase adultos embarcaram em uma heróica aventura rumo a Santarém, abastecidos com uma quarta do melhor chocolate dos trópicos providenciados por Dom Amaral ao som de Gênesis, Led Zeppelin, Queen e Lou Reed, dançaram tanto que por pouco não dançaram. Juntos estavam ainda na universidade oitentista e lá descobriram que as melhores matérias a estudar eram Beira do Rio I e II aliada a literatura beat.. Casaram, descasaram, moraram que nem hippies em comunidades alegres e tristes nos trópicos. Sob o signo de baco continuaram fumando seus cachimbos e cigarros , tudo muito ingênuo e descompromissado, voltaram a casar e então deu-se a diáspora, os paraísos artificiais tiveram que ser abandonados pela concretude da vida real, percalços: dívidas, filhos, contas, filhos, trabalho, trabalho, muito trabalho sem diversão faz de Jack um bobão. O século XXI trouxe os novos rebentos e um reencontro quase impossível pois a trip egóica era forte demais: todos haviam enlouquecido um pouco, cada um a seu modo, novas companhias, atividades, novos desafios, novas subversões. Suas lindas a tiracolo são testemunhas das três frases slogans usadas compulsivamente por uns e outro: “eu posso te arrasar..”, “no, no, no..”, “eu amo essa mulher”. Lá vão os três bacanas: um jornalista, um psicólogo e um professor , da aldeia campista à Pedreira passando pelo viaduto, na longa estrada da vida. Uma fotografia congelou no tempo estas figuras típicas do seu tempo.

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