Já havia alguns anos
que o turismo nas favelas do Rio de Janeiro era, não apenas real, como um
negócio extremamente rentável. Milhares de turistas, com suas câmeras à
tira-colo, vinham ver como um povo sobrevive apesar de toda miséria.
A idéia era
extremamente boa, e decidido a adaptá-la com alguns retoques em nossa cidade,
criamos o que chamamos de safári urbano. A idéia era simples, proporcionar aos
clientes diversão e adrenalina, e ao mesmo tempo limpar as ruas de indivíduos
nocivos à sociedade.
Os clientes chegavam
aos montes, loucos para sentirem a força e o poder de seus corpos, bem como
seus instintos, que a sociedade lhes tolhia em nome de uma paz covarde e
limitada. Queriam soltar o tigre que existiam em cada um, amordaçado e preso em
uma jaula denominada de “bons costumes”.
Todos aguardavam
ansiosos pela primeira noite, afinal seriam posto em prática tudo que tinham
aprendido durante os dois meses que antecederam esta noite.
Ao chegarem os
instrutores, partimos para a primeira caçada. As armas eram as melhores:
calibres pesados em uma estrutura tão leve quanto o alumínio e forte como o
aço.
Equipamentos
verificados, coletes aprova de balas vestidos, chegamos ao lugar escolhido.
O lugar é um bairro
afastado do centro da cidade, um bairro extremamente violento que ostentava a
cada noite o recorde de estupros e homicídios. A marginália espreitava em cada
poste, em cada entrada de beco, em cada luminária intencionalmente apagada. E
para atraí-los, nada como uma bela mulher, com uma bela bunda, tendo em suas
mãos um reluzente celular. Assim, poderíamos atrair tanto estupradores quanto
ladrões.
A isca ia à frente, a
uns cem metros de distância, monitorada por meio de rádios e linguagem em
código. O plano era deixar o primeiro ladrão ou o primeiro estuprador atacá-la,
morder a isca, para em seguida intercedermos, fazer a justiça com as próprias
mãos, ou melhor, com uma automática 765, que lhe explodiria os miolos.
A isca avisa:
- Alguém está se
aproximando, parece ser um homem, à minha esquerda... é um homem.
O sujeito aproxima-se,
chama-a de gostosa, aperta sua bunda com a mão e encosta uma faca em seu
pescoço.
- Passa a grana, vamos,
não tenho tempo... nesse bolso... neste outro... vamos, vamos, se não quer
levar uma furada na cara. Vamos, porra!, caralho!, já disse não tenho tempo, se
não lhe fodaria aqui mesmo, sua filha-da-puta! Saberia o que é uma verdadeira
pica nessa bunda!
O sujeito corre levando
a bolsa e o celular nas mãos.
A rapidez era
necessária, pois um rato como aquele conhece todos os esconderijos possíveis.
Porém, tínhamos para ele uma adorável surpresa: o celular explode com uma
simples chamada, levando junto sua mão com todos os dedos. O sangue e o cheiro
de carne queimada são suficientes para denunciar seu paradeiro. Paradeiro
imediatamente encontrado, o ladrão se esvaía em sangue. Sangue ainda suficiente
para provocar os primeiros tiros da noite. A caçada estava apenas começando!...