RESUMO: O presente artigo tenta separar o homem Chico Xavier do mito, por meio da análise crítica do livro As Vidas de Chico Xavier do jornalista Marcel Souto Maior.
Deus, espírito, vida
após a morte, alma, reencarnação, sempre foram questões que despertaram em mim
interesse profundo desde muito novo, principalmente ao ver quanto tais ideias têm
poder sobre tantas pessoas ao ponto de deixarem-se enganar por aqueles que tão
bem sabem manipulá-las, ou fazer com que muitas dediquem seu precioso tempo e
vida a estas. E nascido em uma família que, como a grande maioria das famílias
brasileiras, mistura várias formas de crenças religiosas, catolicismo e
espiritismo - tendo inclusive os chamados médiuns na família -, dando pouca
importância a coerência, passei a pesquisá-las com maior empenho. E logo me
deparei com a figura de um simpático senhorzinho que dizia falar com os mortos,
Chico Xavier, que causava tanta admiração a minha família quanto a milhares de
brasileiros, isto ainda nos anos 80. Dediquei-me a conhecer mais sobre este
homem e suas ideias. E tendo sido reconhecido, ontem (3/10/12), por meio de votos, via internet, como “O Maior Brasileiro
de Todos os Tempos”, achei oportuno expor, aqui, minha a analise de suas ideias
e comportamento. Comecemos então analisando o livro que ultimamente é
reconhecido como o melhor meio de conhecer Chico:
AS VIDAS DE CHICO XAVIER
EM SEU LIVRO “AS VIDAS DE CHICO XAVIER”,
Marcel Souto Maior conta a história do famoso médium brasileiro Francisco Cândido
Xavier (1910 – 2002): uma história recheada de detalhes extraordinários de uma
vida que foi cercada por mistérios, de fenômenos sobrenaturais e, como a grande
maioria das famílias brasileiras da época, de extrema pobreza também, que tinha
como uma de suas principais características a comunicação com os mortos, por
meio do que é conhecido como “psicografia”: o poder da comunicação com o além
por meio da escrita. O autor nos transmite a ideia de um ser humano com poderes
sobre-humanos, que via e ouvia mortos desde criança, como quando o autor nos
relata que quando Chico possuía apenas quatro anos de idade, ao ouvir a
conversa de seus pais, repreendendo o aborto ocorrido com uma vizinha, disse ao
pai:
“-
O senhor está desinformado sobre o assunto. O que houve foi um problema de
nidação inadequada do ovo, de modo que a criança adquiriu posição ectópica.”
E
ao ser interpelado pelo pai, “o que é nidação?” e “o que é ectópica?”, o
pequeno Chico não sabia responder, pois apenas tinha repetido o que tinha
ouvido de um espírito.
Este
homem que, em fevereiro do ano 2000, já havia sido eleito o mineiro do século, e
que recentemente foi eleito “O Maior Brasileiro de Todos os Tempos”, é descrito por
seu biógrafo como uma grande figura religiosa como as do passado, que possuíam
poderes de cura e feitos milagrosos, como Jesus Cristo ou Buda, porém com uma
grande diferença, Chico, ao contrário das grandes figuras religiosas de então,
possui uma vida muito bem documentada, em todos os aparatos tecnológicos do
presente: televisão, fotografia, revista, jornais etc, facilitando análises
mais acuradas a seu respeito. E o que tem chamado bastante atenção para o livro
foram as declarações do autor feitas em palestras e entrevistas, afirmando que antes
de sua pesquisa, “tinha sérias dúvidas sobre questões como vida depois da morte
e encarava o líder espírita com o habitual distanciamento jornalístico”, mas
que durante a feitura deste e de outros livros seus dedicados ao tema, viu-se
transformado em um crente nos fenômenos espirituais.
Assim,
já no início de seu livro Marcel descreve fenômenos que aconteceram com ele
próprio em presença do médium, como quando diz: “Eu não sabia nem como nem por
que, mas lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto sem que eu sentisse
qualquer coisa especial. Desabavam à minha revelia, aos borbotões, sem nenhum
controle.” Ou quando afirma que quando estando na casa de Chico “um calor
insuportável tomou conta da minha mão direita – era como se ela estivesse
pegando fogo. Uma sensação tão nítida que me fez largar a caneta, saltar do
sofá, ir até a porta, girar a maçaneta e correr para o quintal.”
“Fiquei
ali fora sacudindo a mão de uma lado pro outro na noite fria...”
O
que tem também chamado bastante a atenção dos leitores para o livro, além da
transformação do mesmo em filme, é que Marcel afirma ter escrito a biografia de
Chico de modo jornalístico, imparcial, como ainda não havia sido feita, sendo
mesmo apontada por muitos espíritas como uma das “fontes mais sólidas” para se
conhecer o fenômeno Chico Xavier. Porém, não foi essa a sensação que tive ao
ler o livro. A impressão que tive foi que Marcel, ao escrevê-la, pretendeu
muito mais dar atenção aos “fatos” miraculosos tornando a vida de Chico tão
empolgante quanto aquelas histórias romanescas em que o personagem principal
após sofrer tanto com toda sorte de dificuldades, pobreza, desconfiança da
família e do público, etc., tem no fim seu valor reconhecido; ou tornando-a
semelhante às vidas de renúncia e sofrimento dos santos católicos. Em suma,
Marcel escolheu, intencionalmente, esta velha fórmula aproveitando bem os
“fatos” marcantes do mito Chico, misturando-os com doses precisas de humor, o
que fez também da narrativa leitura bastante atrativa, e assim, agradando,
automaticamente, aos milhões de brasileiros ávidos por conhecer e manter a
imagem de um Chico mitificado, com poderes sobrenaturais e santo, garantindo
assim o sucesso de seu livro, do que apresentar um Chico humano, passível de
erro e de críticas, que se envolveu com pessoas e fatos que não mereceram
credibilidade, como plágios, falsificações, etc. Fatos que Marcel Souto Maior
passou bastante longe, apenas dedicando poucas linhas aos mesmos.
E
são esses fatos, que o autor preferiu não dedicar-se a eles, que a série de textos
seguintes, dedicados ao tema, pretendem, de modo sucinto, vasculhar sua autenticidade, abordando as
questões com evidências inquestionáveis, mantendo sempre assim a imparcialidade
em suas linhas.
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