terça-feira, 23 de outubro de 2012

SAFÁRI URBANO (de Bosco Silva)



Já havia alguns anos que o turismo nas favelas do Rio de Janeiro era, não apenas real, como um negócio extremamente rentável. Milhares de turistas, com suas câmeras à tira-colo, vinham ver como um povo sobrevive apesar de toda miséria.

A idéia era extremamente boa, e decidido a adaptá-la com alguns retoques em nossa cidade, criamos o que chamamos de safári urbano. A idéia era simples, proporcionar aos clientes diversão e adrenalina, e ao mesmo tempo limpar as ruas de indivíduos nocivos à sociedade.

Os clientes chegavam aos montes, loucos para sentirem a força e o poder de seus corpos, bem como seus instintos, que a sociedade lhes tolhia em nome de uma paz covarde e limitada. Queriam soltar o tigre que existiam em cada um, amordaçado e preso em uma jaula denominada de “bons costumes”.

Todos aguardavam ansiosos pela primeira noite, afinal seriam posto em prática tudo que tinham aprendido durante os dois meses que antecederam esta noite.

Ao chegarem os instrutores, partimos para a primeira caçada. As armas eram as melhores: calibres pesados em uma estrutura tão leve quanto o alumínio e forte como o aço.

Equipamentos verificados, coletes aprova de balas vestidos, chegamos ao lugar escolhido.

O lugar é um bairro afastado do centro da cidade, um bairro extremamente violento que ostentava a cada noite o recorde de estupros e homicídios. A marginália espreitava em cada poste, em cada entrada de beco, em cada luminária intencionalmente apagada. E para atraí-los, nada como uma bela mulher, com uma bela bunda, tendo em suas mãos um reluzente celular. Assim, poderíamos atrair tanto estupradores quanto ladrões.

A isca ia à frente, a uns cem metros de distância, monitorada por meio de rádios e linguagem em código. O plano era deixar o primeiro ladrão ou o primeiro estuprador atacá-la, morder a isca, para em seguida intercedermos, fazer a justiça com as próprias mãos, ou melhor, com uma automática 765, que lhe explodiria os miolos.

A isca avisa:

- Alguém está se aproximando, parece ser um homem, à minha esquerda... é um homem.

O sujeito aproxima-se, chama-a de gostosa, aperta sua bunda com a mão e encosta uma faca em seu pescoço.

- Passa a grana, vamos, não tenho tempo... nesse bolso... neste outro... vamos, vamos, se não quer levar uma furada na cara. Vamos, porra!, caralho!, já disse não tenho tempo, se não lhe fodaria aqui mesmo, sua filha-da-puta! Saberia o que é uma verdadeira pica nessa bunda!

O sujeito corre levando a bolsa e o celular nas mãos.

A rapidez era necessária, pois um rato como aquele conhece todos os esconderijos possíveis. Porém, tínhamos para ele uma adorável surpresa: o celular explode com uma simples chamada, levando junto sua mão com todos os dedos. O sangue e o cheiro de carne queimada são suficientes para denunciar seu paradeiro. Paradeiro imediatamente encontrado, o ladrão se esvaía em sangue. Sangue ainda suficiente para provocar os primeiros tiros da noite. A caçada estava apenas começando!...

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