segunda-feira, 14 de julho de 2014

A VERDADEIRA HISTÓRIA DO NÚMERO 666



Em 2008, na cidade russa de Yaroslavl, a polícia prendeu oito jovens acusados de matarem, esquartejarem e devorarem quatro outros com idades entre 17 e 19 anos. Um fato chamou a atenção das autoridades do lugar: todos tinham sido mortos com 666 golpes de faca. O que levou a polícia imediatamente a deduzir que se tratava de um ritual satânico.
Mas o que tal número teria haver com satanismo? Seria mesmo um número maldito ao ponto de gerar fobia em muitos e um esdrúxulo nome, proporcional ao seu terrível mistério: Hexacosioihexecontahexafobia?
É o que pretende responder o BORNAL em mais uma investigação, seguindo o método investigativo: colhendo evidências na tentativa de responder perguntas simples sobre grandes mistérios, até sua solução; destruindo, assim, falsos mitos que amedrontam os homens.



COMEÇAMOS NOSSA INVESTIGAÇÃO notando inicialmente que, ao contrário do caso de Yaroslavl, o número 666 também aparece, de modo ingênuo, associado a fatos corriqueiros de nosso dia a dia: “ Encontraram o número, por exemplo, na frase ‘Viva, Viva, Viva a Sociedade Alternativa’, da música do roqueiro Raul Seixas, onde transformaram a sílaba VI em algarismo romano (VI = 6). Então o VIva VIva VIva, virou 6 6 6. ‘Marquei um X, um X, um X no seu coração’ da cantora Xuxa também se enquadraria na famosa continha. Segundo dizem a letra X pronunciada em português seria XIS, lendo de trás para frente vira SIX que em inglês é 6. Então SIX, SIX, SIX = 666.”10 
MAS DE ONDE TERIA VINDO O FUNDAMENTO PARA TAL MEDO? Esta pergunta nos leva imediatamente ao mais famoso livro, de todos os tempos: A Bíblia.
No livro apocalipse é dito: “Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é 666”.



No livro bíblico, a Besta é um personagem misterioso associado a destruição e a maldade; consequentemente seu número também.
MAS TERIA ESSE NÚMERO UM SIGNIFICADO ANTERIOR A ESTA INTERPRETAÇÃO?
Notamos que sim. Ele aparece pela primeira vez na bíblia em um livro bem mais antigo que o Apocalipse, no encontro entre o rei Salomão e a rainha de Sabat:
Ora, o peso do ouro que se trazia a Salomão cada ano era de 666 talentos de ouro”. 1 Reis 10 – 14.
Isto nos leva a mais uma indagação: A ASSOCIAÇÃO ENTRE O NÚMERO 666 E O OURO, TERIA ALGUM SIGNIFICADO A MAIS?
Sim. Nesta frase, a associação entre o número 666 ao elemento ouro, não é à toa. O ouro, por sua cor e seu brilho, sempre foi associado ao sol. Aqui, começa a ser desvendado o verdadeiro significado do número 666.
Na Kabbalah, que é uma antiquíssima forma de conhecimento judaico, e rica de simbolismos, todos os corpos celestes, possuem um elemento chamado “quadrado mágico”5, associado a eles, divididos em tantos quadrados internos de acordo com a propriedade de cada elemento representado. Deste modo, Saturno é representado por um quadrado dividido em 3x3, quadrados internos, Júpiter em 4x4, Marte 5x5, e assim por diante.
Estes quadrados possuem números, inscritos nos quadrados internos, que vão do número 1 ao número que corresponde ao número total de quadrados internos. Todos os quadrados mágicos possuem seus números ordenados, de tal modo, que todas as somas dos números em colunas, linhas e, mesmo, em diagonais centrais, teriam o mesmo resultado. Além disso, cada corpo celeste teria um número sagrado, relacionado com tais quadrados. Estes números seria o resultado da soma de todos os números pertencentes aos seus respectivos quadrados mágicos.  Assim, por exemplo, saturno seria representado pelo quadrado mágico:


Note que a soma dos três números, tomados tanto em horizontal quanto vertical, ou mesmo em suas diagonais, sempre é igual a 15. Sendo o número sagrado de Saturno o número 45, isto é, 1+2+3+4+5+6+7+8+9 = 45.
O sol seria representado pelo quadrado mágico:


Note, também, que as mesmas propriedades podem ser conseguidas com o quadrado mágico do sol. E se você somar todos os números contidos em seu quadrado mágico obterá seu número sagrado, isto é, 1+2+3+... 34+35+36 será o famoso, e “terrível”, número 666. Portanto, O NÚMERO 666, TAL QUAL O OURO, REPRESENTARIA TAMBÉM O SOL.
Tem sido assim, a milhares de anos anterior ao Livro do Apocalipse ter sido escrito. Com o número 666 representando um elemento sagrado para a antiquíssima cultura judaica, Kabbalah: O Sol.
O sol para a Kabbalah, assim como para tantas outras culturas antigas, representaria a iluminação e todos os seres iluminados, o mais alto grau de consciência e sabedoria que um ser poderia alcançar. Portanto, não seria à toa sua associação com um dos símbolos máximos de sabedoria da bíblia, o rei Salomão.



MAS SE O SOL SIMBOLIZA TODOS OS SERES ILUMINADOS PORQUE ENTÃO SEU NÚMERO APARECE ASSOCIADO A ALGO TÃO RUIM E DEMONÍACO QUANTO A BESTA?
 “Sei que a lavagem cerebral da mídia faz com que vocês acreditem que o número 666 foi associado ao diabo e ao fim do mundo desde sempre, mas é muito importante lembrar que, antes de Gutemberg, em 1456, simplesmente não existiam exemplares da bíblia que não fossem copiados à mão por monges e mantidos trancados à sete chaves dentro das Ordens Iniciáticas e da Igreja (assistam ao filme ‘O Nome da Rosa’), ou seja, NADA de conhecimento deste número por parte da população.”
“MESMO depois de Gutemberg, a bíblia ainda era um item extremamente raro e caro de se obter. [...]. Ao contrário do imaginário popular, o povão só tomou realmente conhecimento do conteúdo da bíblia depois da metade do século XIX. Bíblias dentro de casa só se tornam uma realidade depois da metade do século XX.”
Contudo, embora o “povão” não tivesse conhecimento direto do conteúdo da Bíblia, havia toda uma tradição religiosa paralela a tais textos, como as ligadas aos livros de Enoque, como já foi visto, sobre a queda dos anjos, e embora alguns autores a tivesse substituído por uma versão cristã, a antiga, ainda, resistia ao lado da nova. E como era de se esperar, não demorou para que as duas se misturassem. Assim, “relações sexuais de anjos com humanos saíram de um passado longínquo de Enoque e passaram para o ‘tempo presente’. Falava-se de Íncubus e Súccubos [forma de demônios que supostamente manteriam relações sexuais, respectivamente, com mulheres e homens, encanto dormiam]. Então, como o novo objetivo do lado negro seria tomar o trono de Deus, nada mais prático do que criar um novo messias. Assim, já nos primeiros tempos da cristandade, a profetiza Sibila Tiburtina previa a chegada do Anticristo – que seria de origem Judia. Entretanto, Santa Hildegarda (1098 – 1179) foi a primeira a dizer que ele seria filho de ‘um demônio disfarçado de anjo de luz’.”7 Assim dizia ela:
“O filho de perdição que reinará pouco tempo, virá ao anoitecer da duração do mundo, no tempo correspondente a esse momento em que o sol desapareceu já no horizonte, isto é, que virá nos últimos dias. Armai-vos com tempo, e preparai-vos para o mais terrível de todos os combates. Após haver passado uma juventude libertina no meio de homens muito perversos e num deserto onde haverá sido conduzida por um demônio disfarçado de anjo de luz, a mãe do filho de perdição o conceberá e o aluminará sem conhecer seu pai. O filho de perdição é essa besta muito malvada, que fará morrer os que recusam crer nele...”8
E esta tradição, EXTRA BÍBLIA, mantém-se até nossos dias, distorcendo, não apenas, outras religiões, como os próprios textos bíblicos.
UM EXEMPLO: A BESTA E O LIVRO DO APOCALIPSE
É preciso lembrar que, diferentemente de hoje, o ato de escrever e ler, não era tão acessivo quanto hoje, muito pelo contrário, a escrita e a leitura eram privilégios de poucos. O conhecimento pertencia a uma pequena camada religiosa. Por isso, os escribas, eram pessoas que dominavam profundamente o conhecimento religioso de sua época. E os autores bíblicos não fogem disso. E como era de se esperar, o autor do Livro do Apocalipse não é exceção à regra. Ele dominava profundamente o conhecimento judeu da Kabbalah, e, por conseguinte, jamais daria um sentido maléfico a tal número. Por isso, tal escrito é rico em simbolismos, e quando não interpretado desta forma torna-se de difícil entendimento, ou sem sentido, ou, ainda, pior, com um sentido distorcido. Por isso, Del Debbio nos faz ver que, “com um conhecimento básico de Kabbalah, ao examinarmos a primeira frase do Livro das revelações, temos9:
‘Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis’
Sabedoria e Entendimento são as duas esferas mais altas da Kabbalah, Hochma e Binah. A Besta é Chayah [...], o Abismo que separa o mundo divino do mundo das ilusões em que vivemos.
O Chayah é um nível especial de iniciação dentro do Chayoth HaKodesh, que vai representar a escolha final de um Magister Templi quando ele chega a iluminação. Portanto é um número humano e ao mesmo tempo divino. O número do Sol.
As conexões entre Tiferet [o sol] e Binah/Hochma representam os dois vértices do “continuum”, ou seja, o começo e o fim, o alfa e o ômega. 666 representa a pessoa capaz de manipular as emanações divinas e ainda assim permanecer humano encarnado.”
666 OU 616?
Contudo, é bem possível que o número 666 seja fruto de interpolação, já que O Codex Ephraemi Rescriptus, um manuscrito do Séc. V, que comporta quase todo o Novo Testamento, o qual “trata-se de um palimpsesto, ou seja, um pergaminho que foi raspado para apagar-se o conteúdo original e possibilitar ser novamente escrito”, concebe o número da Besta como sendo 616, bem como um pequeno manuscrito antigo encontrado do Livro do Apocalipse. Não havendo, portanto, unanimidade quanto a tal número, sendo, bem possível, ser o número 666 o resultado de adulteração de traduções. O que explicaria, por sua vez, toda a confusão com o sentido benéfico de tal número. Pois, é sabido que, naquele tempo, o ato de escrever em cifra ou em código, era bastante comum, consistindo, simplesmente, em atribuir valores numéricos às letras. O que era facilitado pelo fato das línguas, latim, hebreu e grego, usarem letras como símbolos de números. E, assim, podia-se conceber palavras como números e vice-versa. Deste modo, para alguns, por exemplo, o nome Cristo podia ser interpretado como 888. Todavia, uma mesma palavra, dependendo do idioma adotado, podia ter valores numéricos diversos. Assim sendo, para Orígenes, Cristo era representado pelo número 318. Tornando clara a confusão que daí poderia provir, já que muitas línguas possuíam alfabetos diferentes. Tanto que do próprio nome de Jesus de Nazaré em hebraico (YRSN VSY), transpondo para números, pode-se obter 666.
IDENTIFICANDO A BESTA
Todavia, não faltaram aqueles que usando do mesmo procedimento, tentaram identificar a Besta. E assim, por exemplo, incentivados por coincidências numéricas, viram no Papa a imagem da própria.
“Coincidências” como as que se obtém ao interpretar os títulos papais como somas de números romanos. Assim, os títulos “VICARIVS GENERALIS DEI IN TERRIS” (significando “Vigário-geral de Deus na Terra”), “VICARIVS FILII DEI” (Vigário do Filho de Deus”) e “DVXCLERI” (“Príncipe do Clero”), possuem todos o resultado 666. Por exemplo:
VICARIVS [(V=5)+(I=1)+(C=100)+(I=1)+(V=5) igual 112]
GENERALIS [(L=50)+(I=1) igual 51]
DEI [(D=500)+(I=1) igual 501]
IN [(I=1) igual 1]
TERRIS [(I=1) igual 1]
Total: 112+51+501+1+1=666
A DEFINITIVA ASSOCIAÇÃO ENTRE 666 E O DIABO10
Porém, houve aqueles que se aproveitaram da situação, como o ocultista inglês Aleister Crowley (1875 – 1947), que, aproveitando-se da liberdade de nosso tempo (antes seria certamente preso ou morto, pelos fanáticos religiosos), por volta de 1904, se auto-intitulou, com um título em grego, To Mega Therion, ou a Grande Besta (666).
Certamente para Crowley, conhecedor como era da cultura esotérica, tal título não tinha nada de demoníaco, embora fosse extremamente provocativo. E ao ficar conhecido como grande divulgador da cultura esotérica, de nosso tempo, a igreja não demorou a demonizá-lo, associando-o, de modo pejorativo, ao Diabo, e, por extensão, explorando, ao máximo, a associação entre o número 666, a magia e o anticristo. Tornando, daí adiante, tal associação, extremamente popular, divulgada, hoje, em música, livros e filmes.
CONCLUSÃO:
Devemos sempre nos lembrar que não apenas nossos atos possuem conseqüências, como também nosso modo de pensar. E que um pensamento calgado no medo e na ignorância não pode nos dar bons frutos. E que o pior medo, é aquele que surge da ignorância, pois ignorando suas origens, não podemos dominá-lo, porém ele nos domina. Por isso, desde muito cedo, é sabido: O MELHOR MEIO DE DOMINAR ALGUÉM É LHE INCUTINDO MEDO. Idéia que sempre foi usada na humanidade e que, em nós, é incutida desde que somos criancinhas, como forma infeliz de nos “acalmar” os ânimos, nos impondo medo de um bicho-papão, ou de algo parecido. E poucas são as fontes tão prodigiosas em medo quanto as religiões.
Assim, Lúcifer, Satanás, Diabo e etc, surgem como deturpações criadas de deuses, ou símbolos, pagãos, feitas pela igreja cristã. E o que são tais figuras, além de uma espécie de bicho-papão que assombrariam nossas mentes, mantendo-nos cativos de nossa própria ignorância? E, assim, provendo de um gordo dízimo àqueles interessados em mantê-las, mantendo, deste modo, o medo.
Interpretações que se arrastaram acumulando erro após erro, continuando, assim, distorcendo elementos sagrados de outras culturas. Um desses símbolos é o sagrado número 666, que passou a ser associado a algo demoníaco, e a um eventual apocalipse (fim do mundo). E assim como a palavra apocalipse não tem nada haver com o fim do mundo, já que esta provém do grego, significando revelação, (apesar de muitos, ainda hoje, estejam esperando um “apocalipse do mundo”) associaram o 666 a um ser demoníaco, embora este número nada tenha haver com isto., embora muita gente desconheça isto, e sempre lhe associe seu sentido distorcido, assim como o associe unicamente ao Livro Apocalipse. Como podemos ver, onde o número 666 aparece pela primeira vez 4:

FONTES:
1. O Diabo não é tão Feio Quanto se Pinta – I / Marcelo Del Debbio. Ver em:
(http://www.sedentario.org/colunas/teoria-da-conspiracao/o-diabo-nao-e-tao-feio-quanto-se-pinta-i-5334)
2. Baseado em: Belzebu, Satanás e Lúcifer – Parte II / Marcelo Del Debbio. Ver em:
(http://www.sedentario.org/colunas/teoria-da-conspiracao/belzebu-satanas-e-lucifer-parte-ii-5489)
3. Idem
4. Citado em: 666, The Number of The Beast / Marcelo Del Debbio. Ver em:
(http://www.sedentario.org/colunas/teoria-da-conspiracao/666-the-number-of-the-beast-5706)
5. Idem
6. Idem
7. Citado no Zine: Putrefação Agnóstica
8. Idem
9. 666, The Number of The Beast / Marcelo Del Debbio
10. Baseado em: 666, The Number of The Beast / Marcelo Del Debbio


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