O HOMEM DE MOLETOM PRETO
—
POSSO SABER por que estás vestido com roupas para frio nesse imenso calor? —
perguntou a comissária de bordo, desconfiada, ao ver o homem vestindo roupas
suspeitas, após ter sido revistado, antes de entrar no avião.
—
E o que isso tem haver com suas roupas?
—
Preciso de mais sangue para irrigar meu cérebro. Em consequência, tenho cinco
graus de temperatura a menos do que alguém comum.
—
Cinco graus a menos... E isso lhe traz algum problema?
—
Na verdade só me traz benefícios.
—
Como o quê?
—
Ative a calculadora de seu celular; escolha um número, e verás.
—
Qualquer número?
—
Sim, qualquer número, com quantos dígitos quiseres.
—
Está bem... então que tal 33333?
—
Agora veja sua raiz quadrada.
—
Bem, sua raiz quadrada é 18...
—
Aproximadamente 182, 573272961... Confere? — disse o homem imediatamente.
—
Sim, sim, confere — confirmou a mulher sem o menor entusiasmo. — Então 30
porcento a mais de cérebro lhe dá este poder matemático?
—
Na verdade não, pude ver o resultado ao ler sua mente.
—
Muito interessante... — comentou ironicamente. — Bem, pode ir, mas antes me
diga: você pode apenas ler minha mente?
—
Posso também prever seu futuro — disse o homem ao recolher todos os seus
pertences e botá-los no bolso.
—
Lendo minhas mãos, suponho — comentou a mulher com um leve sorriso irônico nos
lábios.
O
homem de moletom preto deu um leve sorriso antes de dizer:
—
Sei também que adorarás minha cama redonda hoje à noite... Ah, e não esqueça de
pôr gelo em seu dedo do pé direito daqui a pouco — gritou o sujeito antes de
entrar no avião.
A
comissária riu, balançando a cabeça, por alguns instantes, da cantada tão
diferente, enquanto repetia para si mesma “poder de prever o futuro é uma ova,
apenas um truque barato!”, antes que, ao fechar a porta do avião, fosse
golpeada em cheio em seu dedo do pé direito pela porta.
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