É um absurdo a afirmação
de que o termo “sadismo” foi “uma singela homenagem ao autor Marquês de Sade” - como é afirmado no excelente site de literatura Homo literatus (ler aqui) -; o que pode ser
corroborado com uma rápida pesquisa sobre a origem do termo, presente na obra Lições de Sade, de Eliane Robert Moraes;
onde ela escreve: Foi o Dicionário Universal de Boiste, de 1834, que, ao que
tudo indica, inaugurou o termo “sadismo”, que é definido como “Aberração
horrível do deboche; sistema monstruoso e anti-social que revolta a natureza”.
Porém, o termo ganha notoriedade e assume o sentido moderno na obra do psiquiatra alemão Krafft-Ebing, no final do séc. XIX, que, como nos diz Eliane, “Ao lado do termo ‘sadismo’, o psiquiatra cria o ‘masoquismo’, insistindo porém na diferença entre os autores que inspiraram suas teorias: Sacher-Masoch é ‘um honorável escritor lido em toda a Europa’, enquanto Sade ‘não passa de um caso clínico’”. Em suma, com o termo “sadismo” a psiquiatria cuidou de PATOLOGIZAR o autor dos 120 Dias de Sodoma, tirando dele qualquer mérito literário e filosófico e tomando-o apenas como bom exemplo de um “caso clínico”. O que dificultou muito que sua obra literária fosse valorizada; tarefa que muitos escritores, como os surrealistas, se dedicaram, e que ainda hoje muitos buscam separar Sade, o escritor, do conceito de sadismo. Deste modo, torna-se impossível vermos no termo sadismo uma "homenagem" ao autor de Justine.
Porém, o termo ganha notoriedade e assume o sentido moderno na obra do psiquiatra alemão Krafft-Ebing, no final do séc. XIX, que, como nos diz Eliane, “Ao lado do termo ‘sadismo’, o psiquiatra cria o ‘masoquismo’, insistindo porém na diferença entre os autores que inspiraram suas teorias: Sacher-Masoch é ‘um honorável escritor lido em toda a Europa’, enquanto Sade ‘não passa de um caso clínico’”. Em suma, com o termo “sadismo” a psiquiatria cuidou de PATOLOGIZAR o autor dos 120 Dias de Sodoma, tirando dele qualquer mérito literário e filosófico e tomando-o apenas como bom exemplo de um “caso clínico”. O que dificultou muito que sua obra literária fosse valorizada; tarefa que muitos escritores, como os surrealistas, se dedicaram, e que ainda hoje muitos buscam separar Sade, o escritor, do conceito de sadismo. Deste modo, torna-se impossível vermos no termo sadismo uma "homenagem" ao autor de Justine.
Já quanto a usar o Nota sobre Romances, de Sade, para elucidar as intenções da literatura sadiana, vista como tendo o objetivo de mostrar os vícios
humanos para ser melhor compreendidos e combatidos, interpretação que merece
maior cuidado, lembrando que esta obra foi publicada como introdução ao conjunto de novelas Os Crimes do Amor, também de Sade, obra comportada, e
por isso, ao contrário das licenciosas,
levava o nome do autor, e escrita à maneira dos escritores de sua época,
em que a defesa da virtude era um dos seus atrativos. Nela vemos Sade como
escritor puro, mas não o pensador. E que, portanto, é bem possível que o Nota Sobre os Romances tenha sido
escrito também para agradar aos leitores desta forma de literatura, e como
forma de mostrar sua erudição, já que contradiz importantes escritos de Sade
como a introdução a obra A Filosofia na
Alcova, em que Sade esclarece que a obra é dedicada aos libertinos - sendo
os seus verdadeiros leitores -, e também ao panfleto “Franceses, mais um esforço se quiserdes ser republicanos”, incluso
na mesma obra, em que Sade propõe uma forma libertina de governo. Em suma, Sade
era uma espécie de camaleão literário, em que se torna dificílimo sabermos a
verdadeira intenção de sua literatura e filosofia. Podendo-se extrair inúmeros
Sade dela. Mas qual o verdadeiro?
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