O arrastar de passos pesados
quebra o silêncio do castelo. E em meio a densa escuridão, uma alma atormentada
caminha pelo sinuoso corredor iluminado por grossas velas rumo a magnífica sala
de música. E após acender os candelabros da silenciosa sala, senta-se ao cravo,
e põe-se a tocar uma triste melodia que fala de dor, amor e morte. Ele é um
gênio musical que revolucionou a música de seu tempo, como nenhum outro fora
capaz de fazer. Porém, tinha um lado sombrio, que expunha sua alma ao mais
terrível fogo infernal da violência, às mais altas labaredas do inferno, que o
fez mais conhecido por seus assassinatos que por sua bela e frondosa música.
Seu nome era Carlo Gesualdo (1566-1613), príncipe de Venosa. E é sobre ele que
falaremos agora.
Carlo Gesualdo fora o
único gênio musical assassino da história da música, que perpetrou violentos
assassinatos, e que um pouco como o personagem da obra literária “O Fantasma da
Ópera” produziu as mais belas melodias enquanto se escondia, protegido pelas
paredes fortes e altas de seu castelo em Ferrara, Itália.
E ainda hoje as ruínas de
seu triste castelo em Nápoles parecem contar uma história terrível de dor,
sangue, traição e morte.
Gesualdo fora um nobre
que havia nascido em uma família rica e poderosa de venosa, Itália. Que até
então não se preocupara com nada exceto a caça e a arte da música. Porém quando
seu irmão mais velho morreu, caiu sobre seus ombros a incumbência de dar
herdeiros a sua nobre família. Ele acabou casando-se, aos 26 anos, com uma
prima, Maria D’Avalos, que ao que parece era de uma beleza excepcional.
Contudo, Maria, devido a frieza do marido, arrumou um amante, Fabrizio Carafa,
Duque de Andria. E como quase sempre acontece em histórias de traição e
adultério, o marido fora o último a saber. E se todos acreditassem que Gesualdo
trataria, ao descobrir que sua bela Maria dividia seu leito com outro, com a tolerância
e indiferença de um cavalheiro, estavam todos enganados, pois isto haveria de despertar
a fera que existia nele. Gesualdo tratou logo de vingar-se.
Num belo dia de outono, criando
as circunstâncias para que os dois amantes se reunissem, “ele preparou algo que
também lhe serviria como aquecimento para o que pretendia: uma caçada com
amigos. Nada melhor que um pouco de sangue para alguém quem traz um desejo de
morte na alma. Então, em meio à caçada, Gesu resolveu ver como andavam as
coisas em seu castelo de San Severo. Testemunhas disseram que Gesualdo pediu
que os empregados segurassem Fabrizio, dando-lhe um lugar confortável onde
pudesse ver o primeiro ato da cena. Então, dedicou-se à mulher, enfiando-lhe a
espada diversas vezes. Como Maria custasse a morrer, ele berrava “Ainda não?,
Ainda não?” e seguia perfurando a pobre adúltera. Na segunda parte, ministrou
tratamento semelhante à Fabrizio, com resultado análogo. Contudo, antes, fez o
Duque de Andria trajar um vestido de noite de Maria. As roupas de Fabrizio
foram encontradas limpas e sem marcas de violência”.
Após o crime, ele deixou
o corpo de seu rival, já morto, vestido com as roupas de sua esposa ao lado do
corpo dela, nua e morta, com as pernas bem abertas no meio da rua, para que
todos vissem seu grande feito.
E como naquela época os
nobres não eram presos, Gesualdo continuou livre. Porém, isto não impedia que outro
nobre pudesse vingar-se dele. E por temer a vingança, Gesualdo arranjou outra
mulher e isolou-se, compondo sua maravilhosa obra musical no castelo de Ferrara.
Bem, aqui a história, meu
caro leitor, se divide, pois alguns dizem que Gesualdo, bem ao estilo do provérbio
que diz que “a vingança é um prato que se come frio”, fora, vinte anos mais
tarde, morto por um filho que vingaria a morte de sua mãe, Maria d`Avalos;
outros de que em seus “últimos anos de sua vida Gesualdo tinha dois serviçais
cuja principal atividade era espancá-lo. Sim, Gesualdo, o Príncipe de Venosa, o
grande compositor, em seus últimos anos era masoquista, e tinha grande prazer
em ser chicoteado”. Mas o certo é que Carlo Gesualdo teria cometido mais dois
assassinatos: a morte de um filho de Maria D’Avalos, pelo qual ele desconfiava
não ser seu filho legítimo, mas do amante de Maria; e também a morte de um
irmão desta.
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