AS CARTAS
COM SUPOSTAS MENSAGENS DE FAMOSOS ROQUEIROS BRASILEIROS JÁ MORTOS
"Se eu disser para vocês que o inferno
existe, acreditem, pois eu estava mergulhada nele, de corpo e alma, num espaço
sombrio e frio, bem interno do ser, dos pés à cabeça, sem tempo, sem luz, nem
descanso e afogava-me, a cada segundo, num oceano de matéria viscosa que
roubava até minha ilusória alegria… Naquele lugar não havia luz, somente nuvens
cinza e chuvas com raios e trovões, gritos estridentes e desesperados, gemidos
surdos, pedidos de socorro, lágrimas, desalento, tristeza e revolta…”
Assim
começa a suposta carta com mensagens da falecida Cássia Eller em que comenta o
que lhe aconteceu após sua morte: o período que passou no umbral, espécie de
inferno espírita, em que espíritos de suicidas ou com comportamentos desviantes
em vida, são mandados para lá, como forma de aprendizagem espiritual, até ser
resgatada para um período de paz, simbolizado por um calmo campo verde,
desfrutando da companhia de seu “ídolo”, Cazuza, e posteriormente de um hospital
espiritual.
A
carta, que se popularizou bastante nas redes sociais, fora psicografada no Lar
de Frei Luiz, famoso centro espírita localizado no bairro de Jacarepaguá, na
Zona Oeste do Rio de Janeiro. A carta trouxe à tona uma polêmica: as cartas
psicografadas com mensagens de cantores famosos já falecidos que, como Cássia
Eller, não seguiam em vida um padrão de vida tido como exemplar pela religião ou
pela sociedade brasileira, tais como Cazuza, Chorão, Raul Seixas, etc. E o que
me parece claro nessas cartas é o terrível tom de castigo imprimido nelas, em
alguém que não apenas foi julgado em vida e recebido preconceito sem fim da
sociedade, mas que também continua julgado mesmo de pois de morto em tais
escritos. Este tom de castigo tem sido um dos motivos que tem feito familiares
destes artistas rejeitarem a autenticidade de tais mensagens.
“Meu
marido dizia para rasgar as cartas e jogar fora. Nunca acreditei nelas, sempre
fui muito cética, apesar de respeitar quem acredita. Nenhuma citou apelidos
carinhosos, por exemplo. No dia em que realmente for o Cazuza, vou saber” —
ressalta Lucinha, mãe de Cazuza, destacando que perdeu as contas de quantas
psicografias atribuídas a Cazuza recebeu nos últimos anos.
Lucinha
ainda afirma que um assunto comum nas cartas é a afirmação de que Cazuza “está
arrependido de tudo que fez”, o que, para ela, não condiz com a personalidade
do filho, já que "ele nunca fez nada a ninguém”.
O
mesmo sentimento parece atingir Sonha Abrão quando lê as supostas cartas com
mensagens de Chorão, ex-vocalista do Charlie Bown J.R. Para ela seu primo
jamais estaria sofrendo, como descrito na carta, que também se popularizou nas
redes sociais, devido ao seu uso de drogas, que o vitimou. Na carta, Chorão,
seguindo o meloso e característico tom religioso de tais cartas, pede ainda que
“em prece a toda hora que não seja mais escravo” e implora que embora
“desprovido de paz e luz, sem pátria, família, nem Deus”, “Jesus amenize” os
seus sofrimentos, e que “tenha compaixão desse Chorão”.
“Conheço
meu primo, sei quem ele é e tudo de bom que fez para a família. Por mais que
fosse atormentado, tinha um coração de ouro. Jamais estaria naquele sofrimento.
Não aceito, nunca falaria esse tipo de coisa. Não é uma coisa boa para ninguém,
passa uma ideia de castigo” — comenta Sônia Abrão.
Quanto
ao maluco-beleza Raul Seixas, sua filham, Viviam Seixas, se limitou apenas a comentar
sobre as supostas mensagens psicografada por ele:
“Achei
uma falta de respeito, inclusive com a família”.
Abaixo
a famosa suposta carta psicografada de Cássia Eller:
"Se eu
disser para vocês que o inferno existe, acreditem, pois eu estava mergulhada
nele, de corpo e alma, num espaço sombrio e frio, bem interno do ser, dos pés à
cabeça, sem tempo, sem luz, nem descanso e afogava-me, a cada segundo, num
oceano de matéria viscosa que roubava até minha ilusória alegria… Naquele lugar
não havia luz, somente nuvens cinza e chuvas com raios e trovões, gritos
estridentes e desesperados, gemidos surdos, pedidos de socorro, lágrimas,
desalento, tristeza e revolta…
Preciso
descrever mais as cenas dantescas de animais que nos mastigavam e, em seguida,
nos devoravam sem consumir nossos corpos; se é que posso dizer que aquilo, que
sobrou de mim, era um corpo humano. queria fugir para bem longe dali, mas tudo
em vão, quanto mais me debatia no fluido grudento, mais me afundava e, quando
alcançava, de novo, a superfície apavorante, mãos e garras afiadas faziam-me
submergir naquele líquido pastoso e mal cheiroso.
Dragões
lançavam chamas de suas bocas sujas e nos queimavam, machucando e estilhaçando
a pouca consciência que me restava da lembrança de minha estada no corpo
físico, neste planeta azul. Guardiões das trevas olhavam atentos seus presos e
vigiavam todos os movimentos realizados naquele imenso espaço de sofrimentos,
dores, lamentos, depressões, angústias e arrependimentos tardios… O ar era
ácido e provocava convulsões diversas.
Perguntava-me
porque ali estava se nada fizera por merecer tão infeliz destino, depois de ser
expulsa do corpo de carne através do uso maciço de drogas. A dúvida
assaltava-me os raros momentos de raciocínio menos desequilibrado e as crises
de abstinência trancavam todas as portas que dariam acesso à saída daquele
campo de penitência de espíritos rebeldes e viciados com eu.
Os
filmes de horror que assisti, quando encarnada, estariam ainda muito distantes
dos padecimentos, pânicos, pavores e temores que ficariam para sempre
registrados na minha memória mental, os piores dias que vivi até hoje, como
joguete e marionete de forças que me escravizavam o ser, debilitado, fraco,
desprovido de energias, suja, carente e chorosa.
Não
me lembrava do que acontecera comigo… Quando o medo é maior que as necessidades
básicas, a mente fica encarcerada num labirinto hipnótico e “torporizante” de
emoções truncadas e desconectadas da realidade… Assemelha-se a um pesadelo sem
fim, sempre com final trágico e apavorante. Quando conseguia conciliar um
pequeno tempo de sono; era imediatamente desperta por seres que me insultavam e
xingavam, acusavam-me de suicida maldita e jogavam-me lama misturada com
pedras… Insetos e anfíbios ajudavam a traçar o perfil horrendo dos anos que
passei no umbral. Preciso escrever estas palavras para nunca mais me esquecer:
“Com o fenômeno da morte, nós não vamos para o umbral, nós já estamos no umbral
quando tentamos forjar as leis maiores da criação com nossas más intenções e
tendências viciantes”.
Tudo
fica registrado num diário mental que traça nosso destino futuro, no bem ou no
mal. O umbral não fora criado por Deus; ele é de autoria dos espíritos que
necessitam de um autêntico e genuíno estágio educativo em zonas inferiores,
onde poderão se depurar de suas construções aleijadas no campo dos sentimentos
e dos pensamentos disformes, mal estruturados e mal conduzidos por nossa
irresponsabilidade, de mãos dadas com a imensa ignorância que nos faz seres
infelizes e distantes da tão sonhada paz de consciência.
Após
alguns anos umbralinos, despertei numa tarde serena, num campo verdejante e
calmo. Não acreditava no que via, pois tudo, agora, parecia um sonho… Percebi,
ao longe, o canto de uma ave que insistia em acordar-me daquele pesadelo no
qual já me acostumava a viver; a morrer todos os dias… Seu canto era uma música
que apaziguava meu coração e aguçava meus pensamentos na lembrança de como fui
parar ali naquele campo gramado e repleto de árvores. Consegui sentar-me na
relva e ao olhar todo aquele espaço natural, deparei-me com milhares de outros
seres como eu, nas mesmas condições de debilidade moral, usufruindo, agora, de
um bem que não merecia, mas vivia ! Todos nós dormíamos e fomos despertos com
música e preces em favor de todos os presentes…
A
maioria era de jovens e adultos, poucos idosos e centenas de enfermeiros que
olhavam atentos para nossos movimentos no gramado. Com seus olhos serenos,
projetavam em nós a mansidão e a paz tão esperadas por nossos corações
enfermos, débeis e carentes de atenção, de afeto e carinho.
Alguém
me tocava, de leve, os ombros e chamava-me pelo nome, como se me conhecesse há
muito tempo. Eu identifiquei aquela voz e “temia” olhar para trás e confirmar
minha impressão auditiva, era Cazuza todo de branco, como lindo enfermeiro, de
cabelos cortados bem curtos e estendia suas mãos para que eu levantasse,
caminhasse e conversasse um pouco em sua companhia. Não consegui me levantar,
porque uma enxurrada de lágrimas vertia dos meus olhos, como nascente de rio
descendo a montanha das dores que trazia no peito. Meu ídolo ali estava
resgatando e cuidando de sua fã, debilitada e muito carente. Ele cantou pequena
canção e tive a capacidade de avaliar o que Deus havia reservado para aqueles
que feriam suas leis e buscavam consolo entre erros escabrosos e
desconcertantes.
A
misericórdia divina sempre conspira a nosso favor, nós desdenhamos do amor
divino com nossas desatenções e desequilíbrios das emoções comprometedoras, que
arranham e esmagam as mais puras sementes depositadas no ser imortal. aprendi
palavras boas ! Somente agora enxergo que sou espírito e que a vida continua e
precisa seguir o curso natural das existências, como na roda-gigante: hora
estamos aqui no alto; hora estamos aí embaixo encarnados. Daqui de cima, parece
ser mais fácil compreender porque temos de respeitar as leis e descer num corpo
físico para, igualmente, quando aí estivermos, conquistarmos, pelo trabalho no
bem, a lucidez que explica porque há a reencarnação, filha da justiça divina.
Após
um tempo no campo reconfortante, fui reconduzida para um hospital onde me
recupero até hoje dos traumas e cicatrizes que criei no corpo do perispírito.
As lesões que provoquei foram muito graves, passei por várias cirurgias
espirituais e soube que minha próxima encarnação será dolorosa e expiarei asma,
deficiência mental e tuberculose. Mesmo assim, estou reunindo forças para
estudar, pois sempre guardamos, no inconsciente, todos os aprendizados
conquistados. Reencarnarei numa comunidade carente no interior do Brasil e
passarei por muitos reveses, para despertar em mim o valor da vida do espírito
na pobreza e na doença crônica. Peço orações e a caridade dos corações que já
sabem o que fazem e para onde desejam chegar. Invistam suas forças e energias
espirituais em trabalhos de auxílio ao próximo e serão, naturalmente, felizes.
Obrigada por me aceitarem como necessitada que sou!"
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