quinta-feira, 25 de agosto de 2016

DESVENDANDO A LENDA DA ‘MOÇA DO TÁXI’



DESVENDANDO A LENDA DA ‘MOÇA DO TÁXI’
Reza a lenda que quando viva Josephina Conte adorava passear de carro pelas ruas de Belém, sendo seu desejo sempre satisfeito por seu pai, um rico empresário da cidade. E no dia de seu aniversário, em vez de bonecas e belos vestidos, Josephina queria apenas uma corrida de táxi por toda cidade de Belém, por seus pontos turísticos. E por esses mistérios que nos encanta e ao mesmo tempo nos causa cismas, dizem que tal hábito perdura mesmo após sua morte, com seu fantasma a perambular pelas noites de Belém, em busca de um táxi que possa conduzi-la pelas ruas da cidade, e depois desaparecer misteriosamente próximo ao cemitério de Santa Izabel, onde está enterrada.


Diz a lenda que suas primeiras aparições surpreenderam taxistas que ao serem abordados por uma moça de branco em plena madrugada, foram levados próximos ao tal cemitério, e lá, após deixá-la, foram instruídos por ela a pegarem seu pagamento noutro dia em sua casa; e ao ir apanhá-lo, são surpreendidos com a visão de uma foto na parede, da bela moça da noite anterior, e após apontarem para a foto e dizerem que foi ela, são advertidos com a notícia de que ela está morta há muitos anos.



E hoje, segundo sua lenda, seu fantasma pode ser visto perambulando pelas ruas de Belém, sempre no dia 19 de abril, dia de seu aniversário de nascimento, em busca de uma corrida de táxi pelas ruas de Belém para comemorar seu aniversário.

Walcy Monteiro

Esta lenda urbana tornou-se uma das mais conhecidas de Belém, sendo escrita pela primeira vez pelo escritor paraense Walcyr Moteiro, em 1972, no seu livro “Visagens e Assombrações de Belém”. E é o próprio Walcyr que nos adverti: “Desde criança ouço falar da ‘moça do carro de praça’, pois em Belém não se usava a palavra táxi antes de 1960. A história era reproduzida de motoristas através de terceiros, mas nunca encontrei uma pessoa que tivesse visto a passageira”.

Placas em Agradecimentos a Milagres feitos por Josephine Conte

O que talvez poucos saibam é que, muito mais que apenas uma personagem de uma lenda, a partir da década de 1940, Josephina Conte passou a ser vista por uma parte do povo como santa capaz de fazer milagres. Sendo seu túmulo um dos mais frequentados dos cemitérios de Belém, no dia de finado; em que seus devotos vão para agradecer por graças alcançadas. Mas quem foi esta personagem misteriosa de nossas lendas?
JOSEPHINA CONTE

Josephina Conte nasceu em 19 de abril de 1915. E faleceu em 16 de agosto de 1931. Tinha, portanto, 16 anos quando faleceu.
A família, que ainda reside em Belém, conta que antes de morrer, a menina começou a aparentar magreza excessiva, o que logo despertou a suspeita de estar com tuberculose - doença que naqueles tempos não tinha cura, e levava os doentes para isolamentos em hospitais, restringindo o contato com familiares, onde somente médicos e enfermeiros entravam.
Josephina era a caçula da família Conte, o que agravou o pesar de sua morte para a família.
A VERDADEIRA HISTÓRIA QUE VIROU LENDA
Vista do Túmulo de Josephina Conte

Uma das mais importantes características de uma lenda é que são narrativas que se reproduzem oralmente, sendo contadas de pessoa para pessoa, geralmente começando com um “dizem” ou “ouvi dizer”. E neste processo é bastante comum que cada pessoa aumente ou acrescente novos detalhes à mesma, originando muitas vezes versões diferentes. Característica apontada por Walcyr Monteiro, que aponta as diferenças no trajeto das andanças da Moça do Táxi nas diferentes versões da lenda:
“Os trajetos variam: do cemitério para casa, da casa para o cemitério, e dizem ainda que, na data do seu aniversário, Josephina pede que o motorista faça um tour pela cidade”.
Segundo Jorge Conte, sobrinho de Josephina, relembrando lembranças de família, aponta como uma das causas da origem da lenda da Moça do Táxi, um detalhe do velório de Josephina:
“Todos os enterros naquela época eram com aqueles carros fúnebres transparentes, bonitos, que você via a urna. E o certo era sempre aquele carro ir no sentido do hospital para o cemitério, e no caso dela foi o inverso. O meu avô quis que o enterro saísse da fábrica da família, como se fosse um cortejo. E começou daí a história”.
O Sr. Jorge aponta ainda mais um importante detalhe que pode ter sido o ponta pé inicial para a origem da história fantasmagórica:
“Como a rua era toda esburacada, no balançar do carro uma porta do caixão se abriu. Então as pessoas já achavam que alguém tinha ressuscitado, porque o cortejo saiu de trás do cemitério, e no sentido contrário”.
Parece-me que isso foi o bastante para que a fértil imaginação popular, misturada com crendices já existentes, embalada pelo “disse-me disse” ou por brincadeiras levadas a sério, foi dando origem, aos poucos, a famosa lenda da Moça do Táxi. O que mais uma vez é confirmado pelo pesquisador Walcy Monteiro:
“A história era reproduzida de motoristas através de terceiros, mas nunca encontrei uma pessoa que tivesse visto a passageira”.

FONTES: http://g1.globo.com/

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