DESVENDANDO
A LENDA DA ‘MOÇA DO TÁXI’
Reza
a lenda que quando viva Josephina Conte adorava passear de carro pelas ruas
de Belém, sendo seu desejo sempre satisfeito por seu pai, um rico empresário da
cidade. E no dia de seu aniversário, em vez de bonecas e belos vestidos,
Josephina queria apenas uma corrida de táxi por toda cidade de Belém, por seus
pontos turísticos. E por esses mistérios que nos encanta e ao mesmo tempo nos
causa cismas, dizem que tal hábito perdura mesmo após sua morte, com seu
fantasma a perambular pelas noites de Belém, em busca de um táxi que possa
conduzi-la pelas ruas da cidade, e depois desaparecer misteriosamente próximo
ao cemitério de Santa Izabel, onde está enterrada.
Diz
a lenda que suas primeiras aparições surpreenderam taxistas que ao serem
abordados por uma moça de branco em plena madrugada, foram levados próximos ao
tal cemitério, e lá, após deixá-la, foram instruídos por ela a pegarem seu pagamento
noutro dia em sua casa; e ao ir apanhá-lo, são surpreendidos com a visão de uma
foto na parede, da bela moça da noite anterior, e após apontarem para a foto e
dizerem que foi ela, são advertidos com a notícia de que ela está morta há
muitos anos.
E
hoje, segundo sua lenda, seu fantasma pode ser visto perambulando pelas ruas de
Belém, sempre no dia 19 de abril, dia de seu aniversário de nascimento, em
busca de uma corrida de táxi pelas ruas de Belém para comemorar seu
aniversário.
Walcy Monteiro |
Esta
lenda urbana tornou-se uma das mais conhecidas de Belém, sendo escrita pela
primeira vez pelo escritor paraense Walcyr Moteiro, em 1972, no seu livro
“Visagens e Assombrações de Belém”. E é o próprio Walcyr que nos adverti: “Desde
criança ouço falar da ‘moça do carro de praça’, pois em Belém não se usava a
palavra táxi antes de 1960. A história era reproduzida de motoristas através de
terceiros, mas nunca encontrei uma pessoa que tivesse visto a passageira”.
Placas em Agradecimentos a Milagres feitos por Josephine Conte |
O
que talvez poucos saibam é que, muito mais que apenas uma personagem de uma
lenda, a partir da década de 1940, Josephina Conte passou a ser vista por uma
parte do povo como santa capaz de fazer milagres. Sendo seu túmulo um dos mais
frequentados dos cemitérios de Belém, no dia de finado; em que seus devotos vão
para agradecer por graças alcançadas. Mas quem foi esta personagem misteriosa
de nossas lendas?
JOSEPHINA
CONTE
Josephina
Conte nasceu em 19 de abril de 1915. E faleceu em 16 de agosto de 1931. Tinha, portanto, 16
anos quando faleceu.
A
família, que ainda reside em Belém, conta que antes de morrer, a menina começou
a aparentar magreza excessiva, o que logo despertou a suspeita de estar com
tuberculose - doença que naqueles tempos não tinha cura, e levava os doentes
para isolamentos em hospitais, restringindo o contato com familiares, onde
somente médicos e enfermeiros entravam.
Josephina
era a caçula da família Conte, o que agravou o pesar de sua morte para a
família.
A
VERDADEIRA HISTÓRIA QUE VIROU LENDA
Uma
das mais importantes características de uma lenda é que são narrativas que se
reproduzem oralmente, sendo contadas de pessoa para pessoa, geralmente começando
com um “dizem” ou “ouvi dizer”. E neste processo é bastante comum que cada
pessoa aumente ou acrescente novos detalhes à mesma, originando muitas vezes
versões diferentes. Característica apontada por Walcyr Monteiro, que aponta as
diferenças no trajeto das andanças da Moça do Táxi nas diferentes versões da
lenda:
“Os
trajetos variam: do cemitério para casa, da casa para o cemitério, e dizem
ainda que, na data do seu aniversário, Josephina pede que o motorista faça um
tour pela cidade”.
Segundo
Jorge Conte, sobrinho de Josephina, relembrando lembranças de família, aponta
como uma das causas da origem da lenda da Moça do Táxi, um detalhe do velório
de Josephina:
“Todos
os enterros naquela época eram com aqueles carros fúnebres transparentes,
bonitos, que você via a urna. E o certo era sempre aquele carro ir no sentido
do hospital para o cemitério, e no caso dela foi o inverso. O meu avô quis que
o enterro saísse da fábrica da família, como se fosse um cortejo. E começou daí
a história”.
O
Sr. Jorge aponta ainda mais um importante detalhe que pode ter sido o ponta pé
inicial para a origem da história fantasmagórica:
“Como
a rua era toda esburacada, no balançar do carro uma porta do caixão se abriu.
Então as pessoas já achavam que alguém tinha ressuscitado, porque o cortejo
saiu de trás do cemitério, e no sentido contrário”.
Parece-me
que isso foi o bastante para que a fértil imaginação popular, misturada com
crendices já existentes, embalada pelo “disse-me disse” ou por brincadeiras
levadas a sério, foi dando origem, aos poucos, a famosa lenda da Moça do Táxi.
O que mais uma vez é confirmado pelo pesquisador Walcy Monteiro:
“A
história era reproduzida de motoristas através de terceiros, mas nunca
encontrei uma pessoa que tivesse visto a passageira”.
FONTES: http://g1.globo.com/
FONTES: http://g1.globo.com/
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