sexta-feira, 2 de setembro de 2016

RELATO DO LEITOR: Um Toque de Morte (por Jani Brito)



Relato do leitor: Um Toque de MOrte
A morte manda aviso? Ela pode estar na figura de uma sinistra senhora? Ou tudo é apenas coincidência nessa vida? Tire suas conclusões lendo este relato assustador:
Cinco da manhã de uma quinta feira fria, era janeiro de 1965, meu marido nos leva ao Ver-o-Peso (Belém) para pegar o barco (Naquele tempo não havia alça viária, pegávamos o barco e quando chegávamos em certo ponto, passávamos para uma balsa que fazia a travessia do rio Moju) nos despedimos e embarcamos, a primeira etapa da viagem havia levado cerca de 2 horas,   chegamos ao ponto das balsas, enquanto meu filho e eu aguardávamos, uma velha andava como se procurasse algo, segurei na mão de Pedro e fiquei observando, ela se abaixou e molhou a mão na margem do rio, e se aproximou do meu filho e colocou a mão molhada em seu rosto, ele recuo, eu o tomei no colo quando seu choro se fez ouvir. A velha foi embora, os mais velhos que ali estavam, olhavam como se algo horrível tivesse se anunciado.
Passados uns minutos a balsa transportou a todos para o outro lado do rio Moju, minha irmã Helena já nos aguardava, assim fomos para a casa dos meus pais. Naquela mesma tarde fui ver se Pedro estava brincando com os primos, para minha surpresa ele estava cabisbaixo a beira do poço, eu o levei para dentro, minha mãe o colocou na rede, e foi fazer um caribé bem forte, quando ela retornou meia hora depois, ele já ardia em febre.
Aquelas alturas meu pai mandara chamar o único enfermeiro que havia naquela localidade, quando este chegou, fez tudo o que pode e passada tantas horas, não entendíamos por que a febre não baixava.
Amanhece e meu filho só piorava, chorava de dar dó, não sabia mas o que fazer... foi aí que minha tia Heloisa apareceu e perguntou tudo o que aconteceu desde a saída de Belém até chegar no Moju (município situado no nordeste do Pará.) Fui contando, até que mencionei o episódio da tal velha... ela botou a mão no peito e fez sinal para que continuasse falando, eu perguntei se ela estava bem, ela disse que sim, daí fui falando, quando terminei ela disse  para mim pegar minhas coisas, e voltar correndo para Belém, eu aflita perguntei o porquê, então ela apontando para Pedro disse que ele estava chamando pelo pai (de fato estava mesmo) eu devia levá-lo para que os médicos em Belém pudessem tratar dele... enquanto eu arrumava tudo, percebi que tia Heloisa acalentava Pedro, dizendo que logo ele ia ver o pai...  
Voltei o mais rápido que pude a Belém, entrei em casa Francisco sentado na cozinha, apenas me olhou enquanto colocava Pedro em seus braços, foi só o tempo de dizer “papai” e nosso filho morrera em seus braços.
Nunca nos recuperamos da tragédia, e anos depois eu fui analisando passo a passo o ocorrido, e cheguei à conclusão que tia Heloisa, parecia saber que meu filho precisava ver o pai... pois iria morrer... na época eu achei que ela estava apenas sendo gentil, mas fui lembrando de sua reação naquele dia. Quando voltamos ao Moju, eu a procurei mas ela nunca confirmou nada, e parecia relutante ao tocar no assunto que parecera ser mais doloroso para ela do que para mim... apenas alguns vizinhos muito antigos falaram que existia uma lenda em torno de uma velha que rondava o ponto das balsas e que marcava crianças para morrer, porém isso foi na década de 60, hoje em dia pouco se sabe sobre a “A velha da balsa” e ainda bem que ela sumiu né...


* Relato escrito pela nossa colaboradora Jani Silva, baseado na experiência vivida por Dona Hilda, sua vizinha.
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