ROCK É APENAS DIVERSÃO?
“Diferente
do que muitos pensam o Rock não é apenas um estilo musical, mas um importante
movimento social que teve seu início na década de 1950, nos Estados Unidos.
Essa agitação predominantemente jovem obteve grande impacto na sociedade da
época e se manifestou especialmente na música, no estilo das roupas, cinema e
comportamento. O fato social de protesto e indignação trouxe muitas mudanças
principalmente na mentalidade da juventude”*.
E
neste universo sempre jovem, nenhuma palavra é tão pronunciada e, ao mesmo
tempo, tão pouca compreendida quanto a palavra UNDERGROUND. E ao vermos
ultimamente esta ser frequentemente associada a ideias conservadoras — o que,
em essência, seria o mesmo que negar o que tem representado a cultura
underground em sua história — isso nos leva a uma pergunta: O MOVIMENTO
UNDERGROUND ACABOU?
A
palavra inglesa ‘underground’ — subterrâneo, em português — é usada como forma
de demonstrar certa semelhança entre o que está sob a superfície da terra e o
movimento cultural de mesmo nome. E assim como o subterrâneo está distante e
não mantem contato com a superfície da terra, a cultura underground quer se
manter independente e não ter contato com a cultura dominante e oficial que nos
é imposta pelas grandes indústrias, que controlam, por exemplo, o que devemos
usar, vestir, e até mesmo, pensar e agir. Filosofia resumida na ideia Punk do
“Faça você mesmo” (Do it youself).
Por
se opor a uma cultura que nos é imposta, o movimento underground é incluído
entre os movimentos de contracultura, uma noção cultural que engloba todos os
movimentos que contrariam a cultura dominante.
Nascido
na literatura, por meio de escritores que tinham como foco personagens que não
se adequavam ao ideal da sociedade, os chamados anti heróis, a Cultura underground
chegou à música Rock por meio de outra forma de contracultura, o Hippismo.
O
Hippismo foi a forma que os jovens da década de 1960 encontraram para se opor
as ideias de consumismo e valores da sociedade americana, que privilegiavam
bens materiais, a felicidade econômica, a concorrência e o militarismo, se
opondo principalmente à guerra entre Estados Unidos e o Vietnam. Os hippies
tinham formas específicas de demonstrar sua oposição aos valores americanos.
Usavam roupas com influências indianas e também oriundas dos nativos
americanos, além de cabelos longos como forma de se opor ao militarismo que exigia
cabelos curtos.
A
mais conhecida influência do Hippismo no Rock se deu por meio do disco Sargent
Pepper and Lonely Heart Club Band, dos The Beatles, em que eles levaram para
sua música elementos não apenas da música indiana, como a cítara indiana, mas
também a filosofia hindu.
Por
seu lado, a Cultura Underground, diferentemente do Hippismo, que pregava uma
ligação maior com a natureza, sempre foi uma cultura urbana.
Após
o auge do Hippismo, marcado por grandes concertos de Rock — como o festival de
Woodstock, em que foi declarado pela juventude toda sua oposição a guerra do Vietnam,
ao militarismo, e um grito de liberdade sexual —, a juventude americana, que já
vinha brigando, desde o tempo de Elvis Presley, por maior liberdade cultural e,
principalmente, sexual — vale lembrar que o termo Rock’n’Roll (em português,
Balançar e Rolar), era usado como gíria para sexo — em que a liberdade sexual
era travada pela forte moral cristã, que privilegiava a virgindade e o
casamento, por influência do Hippismo, criou sua própria identidade cultural e
musical por meio de um som bem mais pesado, mantendo os cabelos longos, herdado
dos hippies, e uma vestimenta que, também como os hippies, deixava claro sua
rebeldia com os padrões americanos.
Portanto,
podemos notar pelo que foi visto, que o movimento underground não é apenas
música ou um modo diferente de se vestir, é muito mais do que isso, é um estilo
de vida, dirigido por formas de agir que nos possibilite fugir dos planos das
linhas controladoras das grandes indústrias de consumo e de uma moral que nos impõe
seu pensamento sem que nossa vontade faça parte disso.
Porém,
para alguns, como a fotógrafa Patrícia Cecatti, a Cultura Underground com seu
tom de protesto, de independência e seu “‘ar de revolução’ se dissipou e
movimentos como o punk e o hippie desapareceram, restando apenas, roupas,
atitude e influências musicais”. Ou seja, hoje o conceito de Underground se
esvaziou, tornou-se apenas um conceito musical, e que não atrai mais jovens por
quererem compartilhar certa independência cultural, mas que são atraídos apenas
pela música associada a ele, pelas vestimentas exóticas e por meninas que
gostam de cabeludos.
Hoje, ideias que eram impensadas de serem associadas à
Cultura Underground, são associadas sem a menor exigência de coerência, como a
indústria da moda que encorpou sua estética e vestimentas; hoje, fala-se até de
um UNDERGROUND CRISTÃO, unindo a Cultura Underground, que em sua história
sempre primou por manter-se independente de culturas dominantes, com o
Cristianismo, umas das formas de cultura mais dominantes que existiu na
humanidade, que nos é imposta desde que nascemos, e que tornou-se a mais
popular religião do mundo ao ser imposta à força a inúmeros povos.
Mas
se a Cultura Underground não morreu ela agoniza devido, em grande parte, a
movimentos contrário e estranhos ao Underground que se instala, aos poucos, em
seu ambiente, distorcendo seus conceitos originais e convertendo seus
frequentadores em tudo menos em UNDERGROUND.
* Para Saber Mais: jornal sociológico
* Para Saber Mais: jornal sociológico
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