A FEITICEIRA
Naquele
tempo — bem mais do que hoje —, ir de uma cidade a outra do interior do Pará
era algo que exigia dificuldade, devido as suas inúmeras estradas de terra mal
conservadas e transportes escassos. Por isso, naquela noite, eu e meu esposo,
havíamos aproveitado um pequeno caminhão, que transportava alimentos, para
irmos até a cidade onde morávamos. Lá chegando, paramos próximos a uma pequena
ponte. E estando nós tomados pelo pó da estrada e pelo cheiro dos alimentos, resolvemos
descermos a ponte e nos banharmos no pequeno rio antes de retomarmos o caminho
de casa, a pé.
O
silêncio reinava no lugar, interrompido apenas pelo vento que balançava os
galhos das árvores e o doce som da água do rio deslocada por nossos corpos e pela nossa
conversa. Conversávamos sobre os assuntos do dia a dia, enquanto nos banhávamos
sob o luar, que mal conseguia clarear a imensa escuridão formada pelas inúmeras
árvores ao redor. Foi quando um assobio alto e estridente fez-se ouvir da forma
mais horripilante possível, que parecia vir do começo da ponte, acima de nós. Imediatamente
nos silenciamos. Eu olhei para meu esposo, e pela expressão de seu rosto
percebi que era ela... E temendo sermos surpreendidos por ela, nos vestimos
logo. Em seguida seguimos em direção à ponte, do lado o posto ao assobio. E nos
pusemos imediatamente a caminhar em direção a nossa casa, que ficava apenas a alguns
metros dalí, sem olhar para trás. Foi quando ouvimos novamente o mesmo assobio
acompanhado agora por passos estranhos atrás de nós; passos que não pareciam
ser humanos.
Tomei meu marido sob meu braço e nos apressamos. Por sobre o ombro
olhei para trás. Vi, em meio à escuridão, um animal enorme, que parecia um
porco. Sim, ela havia se transformado em um horripilante porco, que estava parado
a nos olhar de longe. Pus-me imediatamente a rezar, enquanto aquele animal
horrível passou a caminhar em nossa direção, aumentando sua velocidade aos
poucos, enquanto apressávamos ainda mais os passos. Até que, por fim, chegamos em
casa. Cansados e assustados, fechamos imediatamente a porta. A criatura
contornou a casa. Chocou-se contra a porta, a janela. Seguiu para o quintal, produzindo
neste um som estrondoso. Depois tudo ficou em silêncio. Ouvíamos apenas nossas
respirações ofegantes. Foi quando ouvimos, ao longe, novamente o assobio
estridente. A matinta perêra havia desistido de nós.
*História escrita pelo administrador do blog
BORNAL, contada e testemunhada por seus pais.
A
Matinta Perêra é uma personagem de histórias testemunhadas por moradores da
região norte. Diz-se ser uma mulher que, por maldição herdada de família, ou pelo poder da feitiçaria, transforma-se
em um pássaro agourento (e em outros animais) que pousa sobre os muros e
telhados das casas e se põe a assobiar e só para quando o morador, já muito
enfurecido pelo estridente assobio, lhe promete algo para que pare (geralmente
tabaco, mas também pode ser café, cachaça ou peixe). No dia seguinte a velha vem até a casa do morador perturbado para cobrar o
combinado, caso o prometido seja negado uma desgraça acontece na casa do que
fez a promessa não cumprida. (Tirado, em parte, da Wikipédia).
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