O imenso corpo de Dona Emiliana jazia morto, coberto por um cobertor sobre a cama, no quarto do velho chalé. As mulheres chegaram primeiro para vestir o cadáver. A população de Cachoeira aguardava impaciente o início do velório. Pessoas conversavam, riam, iniciavam brincadeiras. A morte não era grande coisa para eles. E a morte de Dona Emiliana parecia ser apenas um pretexto para aquela gente pobre se divertir. A desgraça do marido fazia aquela gente feliz. Uns felizes porque puderam servir ao próximo, vestir um defunto. Duas latas de água estavam junto do fogão. Alguém chegou com o embrulho do café. Na cozinha, Dona Mercedes fazia café.
Veio o café. Houve um movimento na sala. As velas se derretiam na cabeceira do cadáver.
Depois de provar o café, Eutanázio mirou bem o fundo da xícara, olhou, e com o dedo mindinho mexeu o café. Bebeu mais um gole e qualquer coisa lhe ficou no beiço. E olhou para as pessoas que já tinham tomado ou ainda bebiam o café que Dona Mercedes sabia fazer.
— Dona Mercedes, o pessoal da sala já tomou?
— Já, foi até o primeiro que tomou.
— Pois, Dona Mercedes, houve um pequeno engano na água desse café. — E Eutanázio, indicando as duas latas d’água perto do fogão, perguntou, sorrindo, pacificamente:
— De que é a água daquelas latas?
— Uma foi Valdemar que encheu para o café e a outra foi ainda a água em que se lavou o corpo; mas por que, seu Eutanázio?
Eutanázio, devagar, levantou-se e foi acompanhado por Dona Mercedes verificar as duas latas.
— A senhora está vendo? A do café cheia e a do corpo…
— Meu Deus, será possível?
— Está aqui na minha xícara esta coisa de cadáver, isso, olhe… E Eutanázio sorria. Dona Mercedes na tentativa dum gesto quis ocultar, pedir para seu Eutanázio… Mas alguém escutara e logo se espalhou violentamente em todo o chalé, no sereno, acordou os vizinhos, encheu Cachoeira, que o pessoal do velório tinha tomado café feito com a água que lavara a defunta!
* Adaptado do Livro "Chove nos Campos de Cachoeira", do Escritor Paraense Dalcídio Jurandir.
Veio o café. Houve um movimento na sala. As velas se derretiam na cabeceira do cadáver.
Depois de provar o café, Eutanázio mirou bem o fundo da xícara, olhou, e com o dedo mindinho mexeu o café. Bebeu mais um gole e qualquer coisa lhe ficou no beiço. E olhou para as pessoas que já tinham tomado ou ainda bebiam o café que Dona Mercedes sabia fazer.
— Dona Mercedes, o pessoal da sala já tomou?
— Já, foi até o primeiro que tomou.
— Pois, Dona Mercedes, houve um pequeno engano na água desse café. — E Eutanázio, indicando as duas latas d’água perto do fogão, perguntou, sorrindo, pacificamente:
— De que é a água daquelas latas?
— Uma foi Valdemar que encheu para o café e a outra foi ainda a água em que se lavou o corpo; mas por que, seu Eutanázio?
Eutanázio, devagar, levantou-se e foi acompanhado por Dona Mercedes verificar as duas latas.
— A senhora está vendo? A do café cheia e a do corpo…
— Meu Deus, será possível?
— Está aqui na minha xícara esta coisa de cadáver, isso, olhe… E Eutanázio sorria. Dona Mercedes na tentativa dum gesto quis ocultar, pedir para seu Eutanázio… Mas alguém escutara e logo se espalhou violentamente em todo o chalé, no sereno, acordou os vizinhos, encheu Cachoeira, que o pessoal do velório tinha tomado café feito com a água que lavara a defunta!
* Adaptado do Livro "Chove nos Campos de Cachoeira", do Escritor Paraense Dalcídio Jurandir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário