sexta-feira, 12 de maio de 2023

A POLÊMICA CLEÓPATRA NEGRA DA NETFLIX



A POLÊMICA CLEÓPATRA NEGRA DA NETFLIX

Com a série Vikings: Valhalla, da Netflix, vimos uma rainha negra comandar vikings na luta pelo poder da Escandinávia, na alta idade média. Por meio da série Bridgerton, vimos nobres ingleses negros dominarem a corte inglesa no início do século XIX, ignorando totalmente a escravidão negra e o extremo racismo desse século.

 



OK, não há nenhum problema nisso, já que tanto a série Vikings: Valhalla quanto Bridgerton são séries ficcionais, ou seja, fantasiosas, em que é tão possível conceber uma rainha viking negra e uma Inglaterra do século XIX sem escravidão e racismo quanto imaginar uma estória com dragões, fadas e zumbis.


Cena de Bridgerton

Porém, quando se quer fazer um documentário sobre uma personalidade histórica, a ficção e a fantasia devem ser deixadas de lado, e se prender apenas aos fatos históricos. E parece que isso não se aplica ao novo documentário da Netflix sobre a rainha Cleópatra, que a concebe como tendo sido uma mulher negra.


Bem, uma coisa é ter total liberdade para criar uma personagem ficcional, que nunca existiu, como a rainha negra da série Vikings: Valhalla, outra é fazer um documentário e abordar uma personagem histórica, de carne e osso, e ignorar sua história em prol de um ideal político.


Cleópatra, que nasceu e morreu em Alexandria, no Egito, cidade criada pelo Imperador Alexandre o Grande e dominada pela cultura grega, pertencia a dinastia que teve início com Ptolomeu, general do imperador Alexandre, cujo vasto império ia de Portugal até parte da Índia e norte da África, e que após sua morte, foi dividido entre seus generais, cabendo a Ptolomeu I tornar-se rei do Egito.


Imagem Romana, Pintada no Tempo de Cleópatra,
Mostrando uma Mulher Branca e Ruiva


Cleópatra era descendente direta de Ptolomeu I, homem macedônico, grego, branco europeu, e que pertencia a um povo que, embora buscasse impor sua cultura helênica a outros povos, e permitisse a mistura de culturas, não permitia a mistura de sua linhagem, praticando o casamento entre irmãos como forma de manter a mesma linhagem familiar, regra mantida até recentemente por monarquias europeias, que estimulava o casamento entre parentes, e que era muito comum o casamento entre primos e sobrinhas e tios; a própria Cleópatra se casou com um irmão, Ptolomeu XIII.

 



Portanto, há inúmeras evidências históricas, incluindo esculturas da própria Cleópatra, para acreditar que ela era uma mulher branca. A crítica aqui não se trata de racismo ou outra forma de preconceito, mas de precisão histórica, já que a Netflix propõe retratar Cleópatra por meio de um documentário. Contudo, a famosa plataforma não apenas concebe a personagem principal uma mulher negra, como também todos seus irmãos e mesmo seu pai, Ptolomeu XII.


O documentário é composto por cenas encenadas por atores e dividido por comentários feitos por meio de entrevistas a algumas pessoas --- algumas delas não especialistas no assunto, com opiniões bem pessoais, sem nenhuma base histórica, mas motivadas por lembranças emotivas sobre a famosa rainha.


A falta de precisão histórica do documentário da Netflix sobre Cleópatra, reforçou em mim a desconfiança sobre o fundo político e ideológico que um documentário pode conter ao ponto de distorcer os fatos.


E não ligando para a controvérsia que mobilizou o Egito e sua população que acusa a Netflix de distorcer sua história, e a ameaça do governo egípcio de banir a empresa de seu território, o documentário da Netflix estreou nesta quarta-feira, 10 de maio.


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