sábado, 9 de setembro de 2023

PASTOR, EX-METALEIRO, METE MEDO COM O INFERNO EM FÃS DO SLAYER




PASTOR, EX-METALEIRO, METE MEDO COM O INFERNO EM FÃS DO SLAYER


A série de vídeos "O Satanismo na Música”, do pastor Márcio Teixeira, não chamaria minha atenção se o autor não se auto denominasse como um ex-roqueiro. Então parei para assistir um dos episódios dedicado a banda de Thrash Metal Slayer.


Marcio Teixeira começa seu vídeo sendo bastante simpático com os fãs da banda Slayer, elogiando a capacidade musical dos músicos e relembrando seu tempo de roqueiro durante os shows da banda, chegando até a condenar as críticas duras de outros pastores ao gênero musical em questão.

 



Mas logo surgem as primeiras críticas à letra da música Angel of Death, que retrata os horrores das experiências do médico nazista Joseph Mengele em prisioneiros judeus na 2ª Guerra Mundial, diz ele: “Embora a banda possa até defender o fato de que eles devessem ter o direito de cantar o que eles cantam, a escolha dessa temática reflete o que existe no coração do artista, que aliás, eles confessaram, que têm interesse no tema”. Ou seja, para o pastor a escolha deste tema histórico reflete a brutalidade que se encontra no coração daqueles que compuseram a música. O pastor não leva em conta que o interesse que alguém possa ter por determinado assunto, digamos crimes, guerras, ou terríveis fatos históricos, não o faz necessariamente um criminoso, ou sádico, assim como ter interesse por Harry Potter não faz de ninguém, necessariamente, um mago. Mais adiante ele afirma:  “Mas o fato e a realidade, é que quem é fã dessa banda (Slayer) trafega em águas profundas e muito, mais muito, perigosas de um universo espiritual complexo e sem volta”. Nesse ponto, toda a simpatia inicial demonstrada aos fãs da banda Slayer parece ter ido por água abaixo.


Marcio Teixeira usa a morte de Jeff Hanneman, um dos guitarristas da banda, que teve morte provocada por “bactéria que comeu ele vivo”, como exemplo para mostrar que dor, morte e sofrimento, temas comuns usados pela Slayer, não merecem serem cantadas pois são tão horríveis e inaceitáveis quanto a própria circunstância que se deu a morte de Jeff Hanneman. O mesmo faz com a ideia de inferno, outro tema comum nas letras do Slayer, como em Hell Awaits (O Inferno Espera), com o pastor citando sua tradução, e passando a mostrar ao seu público o que seria realmente o inferno; para tanto ele usa imagens do incêndio acontecido na ilha de Maui, no arquipélago do Hawai, com seus habitantes em desespero, cercados pelas labaredas. Então ele diz: “Agora imagina, a imensidão de um lugar sem fim, queimando dessa forma eternamente, e lotado de gente. Isso é apenas uma amostra da realidade do que seja a letra do Slayer, que diz pra você que o inferno te espera”. “Sabe de uma coisa, o Slayer está certo em algo nessa letra (Hell Awaits): o inferno é um lugar real”. E após citar a frase “Não há preço a pagar, apenas siga-me”, da música Hell Awaits, conclui com “Segue o Slayer pra você ir pro inferno”.



Vemos aqui que o pastor Márcio Teixeira usa um velho recurso cristão --- usado por séculos e séculos --- para conversão de novos fiéis: o medo do inferno. Recorrendo às imagens de um incêndio em uma das ilhas paradisíacas do Hawai para dar uma ideia aproximada a seus seguidores do que seria o “inferno real”, para onde os fãs do Slayer devem ir, segundo ele. 


É claro que todos concordarão que um incêndio jamais será um bom lugar para se estar. Porém nem todos concordarão com o mesmo significado de “inferno” dado pelo pastor, já que poderão dar os mais diversos significados à palavra “inferno”, incluindo um significado meramente simbólico, sem nenhum sentido religioso. E mesmo que os membros da banda Slayer fossem “Satanistas” --- embora não seja verdadeiro, já que o vocalista Tom Araya é declaradamente um cristão católico, que parece separar bem as histórias “satânicas” cantadas pela banda do seu dia a dia ---, sua crença deveria ser respeitado como qualquer outra forma de religiosidade, coisa que Márcio Teixeira não faz, chegando a associar em um de seus vídeos a flauta e tambores e demais instrumentos de percussão ao diabo, o que pode ser visto como um ataque direto às religiões de origem africana.

 

Aliás, é curioso o porquê de atores ou diretores de cinema que produzem filmes de terror satânico, não serem considerados satânicos, embora o mesmo não aconteça com bandas que contam histórias satânicas em suas músicas.




Mas, como todo cristão fundamentalista, Márcio Teixeira desferi sua metralhadora giratória a tudo o que é diferente de suas crenças, considerando satanista, não apenas roqueiros famosos (o que já seria de esperar), mas artistas como Michael Jackson, ídolos da música sertaneja, e até sobrou para o inocente personagem Peter Pan. 

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