ÉLIPHAS LÉVI: “BILOCAÇÃO” e “CORPO SIDERAL” DO LIVRO DOGMA E RITUAL DA ALTA MAGIA
“Éliphas Lévi era muito, muito, muito crédulo”, disse Claudio Bersot, em seu canal Caminhos do Imaginário, zombando hilariamente da credulidade exagerada do mago francês que acreditava até em lobisomem — fato apresentado no capítulo “As Transmutações”, do livro Dogma e Ritual da Alta Magia.
Bersot se referia ao fato de Éliphas Lévi acreditar na existência de lobisomem apenas baseado em relatos: “Esse célebre ocultista vai dizer o seguinte: olha, o lobisomem é lógico que existe, porque nós temos, dezenas, centenas de relatos, relatos fidedignos, relatos mais do que provados da existência desses seres. Pessoas honestas, corretas, têm contado seus relatos sobre o avistamento, o contato com esses seres. Portanto, trata-se de um absurdo dizer que esses seres não existem”.
Éliphas Lévi |
E ainda resumiu, de forma irônica, como sempre, um dos argumentos que Éliphas Lévi usa em favor da existência dos lobisomens:
“Uma outra questão muito interessante, muito lógica, que ele (Éliphas Lévi) apresenta, é o seguinte: nunca se encontrou um lobisomem morto. Claro, porque o lobisomem é um ser poderoso, que consegue escapar…. Então o fato de nunca se ter encontrado um lobisomem morto, isso mostra que é impossível de se capturar um lobisomem, comprovando a existência de um lobisomem, porque se um lobisomem fosse morto, isso ia negar a própria natureza de como se forma um lobisomem… Muito interessante, muito lógica, essa tese desse célebre mágico que até os dias de hoje é extremamente enaltecido, principalmente, aqui, no nosso youtube. São dezenas, centenas de vídeos dos nossos amigos ocultistas e espiritualistas, louvando o Éliphas Lévi”.
Lobisomens, Bilocação e Corpo Sideral
Claude Bersot zomba ainda mais ao narrar a explicação que Éliphas Lévi dá para a transformação do lobisomem, recorrendo a dois conceitos esotéricos: o corpo sideral e a bilocação.
“Mas como é que se forma o lobisomem? O Éliphas Lévi vai explicar, do ponto de vista da magia profunda, da magia mais poderosa que existe no mundo. Para isso nós temos que falar um pouquinho da “bilocação”. A bilocação, segundo Éliphas Lévi, é um fenômeno extremamente comum e provado, não há a menor dúvida que a bilocação existe. O que é a bilocação? A bilocação é o fato de um sujeito encontrar-se em dois lugares ao mesmo tempo: o sujeito tá aqui numa cidade e encontra-se em outra cidade ao mesmo tempo… E como ocorre este fenômeno tão fantástico da bilocação? Ocorre da seguinte maneira, segundo o Éliphas Lévi: nós temos nosso corpo físico e nós temos a nossa alma, no meio, nós vamos ter o corpo sideral, ligando a nossa alma ao nosso corpo físico. Então quando o sujeito dorme, o corpo sideral se põe a viajar, ele vai passear, vai conhecer, novas geografias, viver grandes aventuras, e uma dessas aventuras, ele vai viver como lobisomem. Esse lobisomem trata-se da materialização dos nossos desejos mais ocultos, dos nossos desejos mais agressivos, mais sanguinários, mais ferozes, o bicho, o animal que todos nós somos, ele será materializado no lobisomem… Então o lobisomem nada mais é do que o corpo sideral de uma pessoa que está dormindo: o cara tá na casa dele dormindo e o corpo sideral dele está pelos campos matando galinha, matando porco, matando vaca, e camponeses atrás dele ali, atingindo ele com pedra, paus, facadas… Por isso o Éliphas Lévi nos alerta:’vocês tem que ter muito cuidado quando vocês acordarem uma pessoa que está dormindo, porque quando a pessoa está dormindo, está sonhando, o seu corpo sideral está passeando, está longe, está ligado ao coração e ao cérebro por um cordão… Então essa é a explicação do lobisomem: o lobisomem nada mais é do que o corpo sideral de um sonhador…”
Nas palavras do próprio Éliphas Lévi:
“Ousemos dizer, agora, que um lobisomem outra coisa não é senão o corpo sideral de um homem, de que o lobo representa os instintos selvagens e sanguinários, e que, enquanto seu fantasma passeia, assim, nos campos, dorme penosamente no seu leito e sonha que é um verdadeiro lobo”.
Bilocação e Corpo Sideral
Para Éliphas Lévi, assim como a existência dos lobisomens era inquestionável, a bilocação também o era; escreveu ele:
“Nada no mundo, é mais bem atestado e mais incontestavelmente provado do que a presença visível e real do padre Afonso de Liguori, junto ao papa agonizante, enquanto que a mesma personagem era observada em sua casa, a uma grande distância de Roma, em oração e êxtase.”
Embora as afirmações de Éliphas Lévi sobre o lobisomem possa parecer a mais pura bobagem (como fez questão de demonstrar Claude Bersot), mais uma vez, a ciência moderna pode servir de base, não para a fantástica narrativa do lobisomem, mas para os conceitos de bilocação e corpo sideral.
Mas deixemos os lobisomens e nos concentremos nos conceitos de “bilocação” e “corpo sideral”.
Ciência Moderna, Bilocação e Corpo Sideral
Para céticos e ateus, a ciência é a única fonte segura de conhecimento, a única forma capaz de garantir que algo é verdadeiro.
E poucos lugares estão mais cheios de ciência do que salas de cirurgia e UTIs, em que o paciente está conectado aos mais variados aparelhos científicos, que medem batimento cardíaco, respiração, pressão sanguínea, atividade cerebral e estão cercados de inúmeros profissionais especializados em cada função do corpo humano. E é justamente nesses ambientes, que costuma acontecer relatos do que Éliphas Lévi chama de bilocação e corpo sideral, como partes de relatos mais amplos, chamados de Experiência de Quase Morte, em que pacientes relatam ter deixado o corpo e visto o próprio corpo inerte no leito de cirurgia ou de UTI, e ser transportado para lugares para além da sala hospitalar, estando em dois lugares ao mesmo tempo, com plena atividade mental contrariando muitas vezes a inconsciência causada pelo efeito da anestesia, e em muitos casos com aparelhos mostrando que houve parada cardíaca e um período que se assemelha com a morte do corpo.
Porém, longe dos aparelhos médicos negarem os fenômenos de bilocação e o corpo sideral em tais experiências de quase morte, eles não possuem explicação alguma, mas, ao contrário, parecem confirmar o que Éliphas Lévi afirma sobre eles.
Estranho que a ciência com seus aparelhos científicos modernos ainda não consiga explicar “bobagens” como as proferidas por Éliphas Lévi. Fico a imaginar como Claudio Bersot zombaria a total ausência de explicação científica para fenômenos ocorridos em seu próprio núcleo como são as Experiências de Quase Morte.