domingo, 13 de outubro de 2024

TATIANA FELTRIN X RAPHAEL MONTES


TATIANA FELTRIN X RAPHAEL MONTES

Recentemente a booktuber mais famosa de nosso país, Tatiana Feltrin, fez a resenha do livro Dias Perfeitos, do também famoso escritor brasileiro Raphael Montes, para seu canal do youtube. Sua crítica foi devastadora. Mas terá sido justa? 


Tatiana inicia seu vídeo com a descrição da história e dos personagens do livro O Colecionador (1963), de John Fowles, para mostrar a imensa semelhança entre o livro de Montes e o do escritor inglês, afirmando que o autor de Dias Perfeitos (2014) se beneficiou do fato do livro de John Fowles ter ficado por décadas sem uma nova edição em nosso país, o que facilitou ser copiado por ele e passar despercebido pela nova geração de leitores. Ela também afirmou que Montes teria copiado filmes de psicopatas dos anos 90 e o livro O Que Aconteceu Com Baby Jane? para compor seu livro.




Assistindo ao vídeo, lembrei-me de um pequeno artigo do compositor, escritor e teórico da literatura Braulio Tavares, em que ele diz que inverter as situações de uma história é uma boa maneira de criar histórias interessantes. Assim, em vez de conceber mais uma história de família assombrada por fantasma, por que não inverter e criar fantasmas sendo assombrados por pessoas vivas? Nesse molde foram feitos dois filmes famosos e com ótimas críticas: Os Outros e O Sexto Sentido. Esse procedimento acontece de forma natural em nós. Quantas vezes não estamos lendo um livro ou vendo um filme, e pensamos: “E se isso acontecesse de outro jeito, e se acontecesse em nosso país?” Ou, “Acho que isso ficaria melhor assim”.




No mesmo artigo, Braulio toma como exemplo o livro O Colecionador: “Eu me pus a imaginar uma reversada no plot de John Fowles, e imaginar uma nova Miranda (protagonista do livro de Fowles), contemporânea e carioca da gema”. Teria sido esse o procedimento usado por Raphael Montes para criar Dias Perfeitos?


Como bem viu Braulio Tavares, não há nada de errado em se inspirar em obras já feitas e imaginar variantes delas. É até uma ótima forma de criar boas histórias. Mas nesse ponto Tatiana Feltrin, afirma: “Nós vivemos um período em o que está sendo valorizado é, na verdade, é isso ó: como posso utilizar a criatividade dos outros a meu favor. Eu pego então o que aquela pessoa está fazendo, dou meu tuistedizinho, e pronto. Agora é meu!”


Mas claro que não é tarefa das mais fáceis compor uma boa obra a partir da inspiração de outra. É isso que levou Tatiana Feltrin a afirmar que Dias Perfeitos é um “arremedo”, uma cópia mal feita de O Colecionador: “É mal escrito; os diálogos são péssimos; a sequências de eventos não convence ninguém; as conversas por telefone com os pais preocupados com eles, também não convence ninguém; a posição da polícia, aqui, é caricata, e não serve pra nada; o final é uma das coisas mais patéticas que li em minha vida!”.




Sim, o protagonista de Dias Perfeitos é o estereótipo do psicopata, com o narrador ainda reforçando isso, com comentários sobre a total falta de empatia dele. É compreensível para alguém que leu e assistiu, à exaustão, centenas de livros e filmes contendo psicopatas, que um novo livro com mais um psicopata com as mesmas características já batidas, cause náuseas. E é aqui que se explica o grande sucesso de Dias Perfeitos nas gerações mais novas, pois para alguém com menos de 25 anos e com pouca experiência em termos de livros e filmes sobre psicopatas, o protagonista será visto como uma grande novidade. Agora cabe a pergunta: E sendo o público alvo de Raphael Montes da faixa etária de menos de 25 anos, caberia a exigência do personagem fugir do conhecido estereótipo do psicopata clássico?




Mas a famosa booktube afirma sem titubear que, Dias Perfeitos é um dos piores livros lidos por ela em toda sua vida, chegando a compará-lo com a “Redação (tema livre) de adolescente que curte suspense e podcast de true crime”. 


Se for assim, então Raphael Montes está em boa companhia, já que a mesma acusação Tatiana fez ao romance Estrada da Noite, do premiadíssimo Joe Hill: “Este livro, aqui, ficou com mais cara ainda de redação de ginásio. Para você que não é da minha época, ginásio seria, ali, até a 8ª série". Joe Hill, escritor estadunidense, ganhador com seu livro de estreia, o best seller Fantasmas do Século XX, dos mais importantes prêmios da literatura de horror, como o International Horror Guild Award, British Fantasy Award e o aclamado prêmio Bram Stoker Award, na categoria de melhor livro de contos de horror de 2005. Um escritor novato ganhar o Bram Stoker Award com seu primeiro trabalho, é muito, muito, muito significativo. Hill escondeu o fato de ser filho do escritor Stephen King para conseguir se estabelecer como escritor sem a influência do pai famoso, que deve ter lido a obra do filho e não deu nenhum pitaco para que ele melhorasse sua escrita de redação de ginásio?! (Risos). 


Estrada da Noite, assim como Dias Perfeitos, não parece ter como público alvo experientes leitores de James Joyce e Thomas Mann, mas adolescentes que querem apenas uma leitura divertida (sem desmerecer a obra, pois divertir por meio de leitura é difícil pacas) enquanto estão no metrô indo para a escola. Não seria por isso que eles têm essa escrita de “redação de adolescente”? 


Mas uma pergunta incômoda sobre a crítica de Tatiana Feltrin ao livro Dias Perfeitos, permanece: Até que ponto sua leitura e crítica foi influenciada pela inimizade que se abateu entre ela e Raphael Montes? Feltrin comenta que chegou ao ponto do autor de Dias Perfeitos festejar com comentários desagradáveis na internet quando ela sofreu cancelamento. 


sábado, 5 de outubro de 2024

O ESTRANHO CASO DO HOMEM QUE VIROU PIANISTA AO SER ATINGIDO POR RAIO





O ESTRANHO CASO DO HOMEM QUE VIROU PIANISTA AO SER ATINGIDO POR RAIO

A ciência moderna trata de fenômenos que acontecem a todo instante, que podem ser reproduzidos à exaustão, como a ebulição da água, ou até mesmo a explosão de uma estrela, que são explicados por leis físicas gerais. 


Mas como explicar fenômenos que são tão únicos, mas tão únicos, que não podem ser comparados a nada, que acontece apenas uma vez em milhares de anos, e que não podem ser explicados por leis gerais? Nessa hora a ciência falha, não consegue explicar. Entramos então no mundo do insólito, do extraordinário, daquilo que é tão estranho que não conseguimos classificá-lo. É o curioso caso de pessoas que voltam do coma falando idiomas que nunca aprenderam. Ou o estranho caso do médico ortopedista estadunidense Tony Cicoria. 


O Estranho Caso de Tony Cicoria


Durante um passeio com a família, Tony Cicoria, 42 anos na época, ao usar um telefone público, durante a chuva, foi atingido por um raio, que o atingiu em cheio. 


Tony conta que foi jogado para trás e que se sentiu sair do próprio corpo, voltando a ele por meio da massagem cardíaca feita por uma mulher que também esperava para telefonar.


Duas semanas depois passou a sentir uma vontade irresistível de ouvir música tocada em piano --- tipo de música que não fazia parte de seu gosto musical. Comprou então um CD de música de piano, que não parou de ouvir. Mas logo passou a sentir vontade irresistível de tocar piano, mesmo sem ter um piano em casa. Coincidentemente, foi o período em que uma antiga babá disse que estava de mudança, e se não poderia deixar um piano em sua casa. Foi nessa época que uma música passou a se repetir em seus sonhos. No sonho ele estava em um palco e ouvia a música, e tinha a nítida sensação que a música era sua. Tony comprou algumas partituras de música para piano e passou a ter aulas de piano com uma professora. Anos depois, Tony Cicoria conseguiu compor a música que ele ouvia em seus sonhos. E em 2008, ele subiu ao palco para tocá-la, que ele a chamou de The Lightning Sonata (A Sonata do Raio).


O fato é impressionante não apenas por alguém ter seu interesse musical despertado após o acidente com um raio, mas também por ter idade avançada para começar a tocar piano, e ter progredido tão rápido e tão intensamente, ao ponto de compor música no estilo mais complexo de musica, que é  a música clássica.  


Uma Explicação para o Caso Tony Cicoria

Oliver Sacks

O caso de Tony Cicoria chamou atenção de um dos melhores neurologistas do mundo, Oliver Sacks, que deu uma possível explicação para o caso, afirmando de que o raio teria trazido à tona talentos musicais latentes e reorganizado seus neurônios. Porém sem provar nada. Explicação que não convenceu nem um pouquinho o próprio Tony Cicoria, que acredita que adquiriu seus dons musicais após ter tido uma Experiência de Quase Morte. Fenômeno em que é comum pessoas que tiveram tal experiência relatarem terem voltado com conhecimentos, dons, sentimentos que não possuíam antes.


O Estranho e o Insólito 


Todos os anos, milhares de pessoas no mundo inteiro são atingidas por raios, que são fenômenos bem explicados pelas leis da eletricidade. Muitos morrem, outros sobrevivem com poucas sequelas ou nenhuma. Mas, certamente, pouquíssimas pessoas tiveram seu interesse aguçado por música após ser atingidas por um raio; até agora conhecemos apenas Tony Cicoria. 


O caso de Tony é tão único que para explicá-lo teríamos que explicar o porquê de ter acontecido somente com ele e não com outras milhares de pessoas atingidas por raio.

 

Assim, mesmo que a explicação do neurologista Oliver Sacks fosse correta, o caso de Tony continuaria sendo um grande mistério, uma exceção a todas as regras. 


Seria seu caso fruto de um mal funcionamento das leis do universo? Produto de uma zona em que coisas aconteceriam de forma independente das leis do universo, que pertenceria ao mundo do insólito, do estranho e do inexplicável?


quinta-feira, 3 de outubro de 2024

UMA VISITA AO BELO E MISTERIOSO PALACETE BOLONHA





UMA VISITA AO BELO E MISTERIOSO PALACETE BOLONHA


Pela manhã, visitamos o belo e misterioso Palacete Bolonha, construído em 1915, já no final do auge da riqueza proporcionada pela venda da borracha amazônica, que enriqueceu fazendeiros, principalmente com a exploração de trabalhadores ex-escravos. Tivemos a companhia do guia que nos contava um pouco de sua história e da função de cada compartimento.



Dizia-se que Bolonha gostava mais de seu palacete do que de sua própria esposa. 


Logo na entrada, lamentei que uma parte do palacete tivesse sido destruída para dar espaço a um anexo moderno com elevador e escada. O que parecia contraditório com o projeto de conservação do palacete. O guia nos informou que fazia parte do projeto de garantir acessibilidade a todos.




O lugar estava bem conservado, apesar de ter sido, após a morte do Bolonha, adquirido por três famílias, até ser vendido para a prefeitura de Belém no final da década de 60, já sem os móveis, vendidos por Alice após a morte do marido. 




Enquanto o guia comentava sobre fatos históricos sobre o palacete, era impossível não ter em mente as histórias não-oficiais e picantes da vida de seu criador e lendas ligadas ao palacete. 




Uma olhada pela janela para o terreno atrás do palacete, veio à minha memória que aquilo tudo era um igapó, lamacento, onde, no século XIX, dizia-se, que corpos de escravos eram jogados para ser devorados pelos animais que ali habitavam, e assim dispensavam o trabalho de ter que enterrá-los. Fato que deve ter sido o início para que lendas povoassem o lugar.




Os cômodos com belos ladrilhos e com janelas que aproveitavam bem a luz do sol e o vento, arejando os cômodos, uma forma de evitar que o ar se estagnasse, o que era visto como uma das causas das epidemias --- nessa época, as epidemias varriam cidades e inauguravam novos cemitérios.




Os comentários sobre sua fábrica de gelo e empresa importadora, foi acompanhado do meu comentário de que, dizia-se, que ele era um grande importador, inclusive de mulheres da Europa. Na época, casas de prostituição nas capitais brasileiras tinham prostitutas europeias para servir aos ricos senhores, as francesas eram as mais cultuadas, enquanto as de outras nacionalidades, eram, em geral, chamadas de “polacas”. O escritor Dalcídio Jurandi, em sua obra Belém do Grão-Pará, criou um personagem baseado em Francisco Bolonha, em que ele escrevia que havia até cadeiras reservadas no Cine Olympia para Bolonha e para as “morenas do Bolonha”, em um cantinho bem escurinho do cinema.


Chegamos à famosa banheira do Bolonha, onde, dizia-se, que ele costumava dar banho de champanhe em moças europeias de reputação duvidosa. O local é bastante citado quando o assunto é assombração e visagem, com relatos de visitantes terem visto imagens fantasmagóricas de mulheres na banheira. Fiquei a imaginar a moça se refrescando submersa na banheira e ele ao lado com garrafas de vinhos importados, caríssimos, jogando sobre os cabelos femininos. Chamou-me atenção que não havia uma portinhola para entrar na banheira, necessitando de um banquinho para transpor sua beirada. Era uma banheira para jovens, certamente não para um Bolonha ou para sua esposa já com mais idade.




Ao notar que o famoso mirante, o lugar mais alto do palacete, não havia sido citado pelo guia, perguntei por ele, e fui informado que o último andar e o mirante estavam fechados ao público por motivo de segurança. O mirante, a parte mais alta do palacete, de onde, dizia-se, que Bolonha via os barcos que chegavam aos portos de Belém, também era usado para vigiar e mandar sinal para as francesas que ele trazia e hospedava nas casas de sua Vila Bolonha.




Aproveitei para perguntar onde teria sido sepultado o corpo de Francisco Bolonha, que é um pequeno mistério. Segundo o guia, sua sepultura teria sido achada no cemitério de Santa Isabel, gasta pelo tempo mas com as iniciais FB, de Francisco Bolonha. Mas ainda fiquei com minhas dúvidas, pois Bolonha pertencia a sociedades beneficentes católicas, que poderia ter recebido seu corpo em uma das igrejas de Belém.