quinta-feira, 3 de outubro de 2024

UMA VISITA AO BELO E MISTERIOSO PALACETE BOLONHA





UMA VISITA AO BELO E MISTERIOSO PALACETE BOLONHA


Pela manhã, visitamos o belo e misterioso Palacete Bolonha, construído em 1915, já no final do auge da riqueza proporcionada pela venda da borracha amazônica, que enriqueceu fazendeiros, principalmente com a exploração de trabalhadores ex-escravos. Tivemos a companhia do guia que nos contava um pouco de sua história e da função de cada compartimento.



Dizia-se que Bolonha gostava mais de seu palacete do que de sua própria esposa. 


Logo na entrada, lamentei que uma parte do palacete tivesse sido destruída para dar espaço a um anexo moderno com elevador e escada. O que parecia contraditório com o projeto de conservação do palacete. O guia nos informou que fazia parte do projeto de garantir acessibilidade a todos.




O lugar estava bem conservado, apesar de ter sido, após a morte do Bolonha, adquirido por três famílias, até ser vendido para a prefeitura de Belém no final da década de 60, já sem os móveis, vendidos por Alice após a morte do marido. 




Enquanto o guia comentava sobre fatos históricos sobre o palacete, era impossível não ter em mente as histórias não-oficiais e picantes da vida de seu criador e lendas ligadas ao palacete. 




Uma olhada pela janela para o terreno atrás do palacete, veio à minha memória que aquilo tudo era um igapó, lamacento, onde, no século XIX, dizia-se, que corpos de escravos eram jogados para ser devorados pelos animais que ali habitavam, e assim dispensavam o trabalho de ter que enterrá-los. Fato que deve ter sido o início para que lendas povoassem o lugar.




Os cômodos com belos ladrilhos e com janelas que aproveitavam bem a luz do sol e o vento, arejando os cômodos, uma forma de evitar que o ar se estagnasse, o que era visto como uma das causas das epidemias --- nessa época, as epidemias varriam cidades e inauguravam novos cemitérios.




Os comentários sobre sua fábrica de gelo e empresa importadora, foi acompanhado do meu comentário de que, dizia-se, que ele era um grande importador, inclusive de mulheres da Europa. Na época, casas de prostituição nas capitais brasileiras tinham prostitutas europeias para servir aos ricos senhores, as francesas eram as mais cultuadas, enquanto as de outras nacionalidades, eram, em geral, chamadas de “polacas”. O escritor Dalcídio Jurandi, em sua obra Belém do Grão-Pará, criou um personagem baseado em Francisco Bolonha, em que ele escrevia que havia até cadeiras reservadas no Cine Olympia para Bolonha e para as “morenas do Bolonha”, em um cantinho bem escurinho do cinema.


Chegamos à famosa banheira do Bolonha, onde, dizia-se, que ele costumava dar banho de champanhe em moças europeias de reputação duvidosa. O local é bastante citado quando o assunto é assombração e visagem, com relatos de visitantes terem visto imagens fantasmagóricas de mulheres na banheira. Fiquei a imaginar a moça se refrescando submersa na banheira e ele ao lado com garrafas de vinhos importados, caríssimos, jogando sobre os cabelos femininos. Chamou-me atenção que não havia uma portinhola para entrar na banheira, necessitando de um banquinho para transpor sua beirada. Era uma banheira para jovens, certamente não para um Bolonha ou para sua esposa já com mais idade.




Ao notar que o famoso mirante, o lugar mais alto do palacete, não havia sido citado pelo guia, perguntei por ele, e fui informado que o último andar e o mirante estavam fechados ao público por motivo de segurança. O mirante, a parte mais alta do palacete, de onde, dizia-se, que Bolonha via os barcos que chegavam aos portos de Belém, também era usado para vigiar e mandar sinal para as francesas que ele trazia e hospedava nas casas de sua Vila Bolonha.




Aproveitei para perguntar onde teria sido sepultado o corpo de Francisco Bolonha, que é um pequeno mistério. Segundo o guia, sua sepultura teria sido achada no cemitério de Santa Isabel, gasta pelo tempo mas com as iniciais FB, de Francisco Bolonha. Mas ainda fiquei com minhas dúvidas, pois Bolonha pertencia a sociedades beneficentes católicas, que poderia ter recebido seu corpo em uma das igrejas de Belém.


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