Lembro-me que na copa
passada, quando a seleção brasileira foi desclassificada pela seleção holandesa, uma
reportagem da TV Globo me chamou atenção, ela mostrava, durante seus flash, os
torcedores holandeses comemorando a vitória de sua seleção em uma grande praça,
e o que me chamou mais atenção foi a reportagem posterior que mostrava que, meia
hora depois, os holandeses já tinham se dispensado, indo cuidar de seus outros interesses.
Fiquei a pensar “e se o resultado fosse o contrário”; sem dúvida alguma os
brasileiros se reuniriam nas praças como os holandeses, mas, diferentemente
desses, meia hora não seria suficiente, festejariam até outro dia. Isto demonstra
bem como o brasileiro encara o futebol. Acredito que em nenhum país o futebol
seja levado tanto a sério, ao ponto do fanatismo, quanto no Brasil.
Sempre achei um absurdo ligar
a TV e constatar que mais de trinta por cento de seu horário é dedicado a tal
esporte; horário que poderia ser dedicado a assuntos mais urgentes e
importantes, quanto a educação, a saúde pública etc. E mais absurdo ainda é
constatar, pelos jornais policiais, que há pessoas capazes de agredir e até de
matar pessoas apenas por torcer por times adversários. Este fanatismo se
encontra até mesmo na política, quantos não simpatizaram com o ex-presidente
Lula apenas por ser este um “corintiano doente”? E este sentimento como uma
espécie de religião é imposta às crianças desde sua tenra idade, por meio de
pais que as obrigam vestir-se com camisas de seu time preferido.
Por isso não me
surpreendeu nem um pouco as atuais falcatruas que estão sendo cometidas durante
a preparação para a copa no Brasil, criticadas por pessoas que gostariam que os
bilhões de reais fossem investidos não em um evento que durará apenas algumas
semanas mas em escolas, hospitais, segurança pública etc, em coisas
verdadeiramente importante. O que não se vê é que este modo de pensar está
enraizado no brasileiro até às entranhas. O brasileiro vê o futebol como se fosse
a única coisa que possa se orgulhar, lhe fazer sentir-se superior a outros países, alguém importante, não um vira lata mas
alguém que possa ser invejado. Vide o grande patriotismo que surge de quatro em
quatro anos, em que a nação calça chuteiras e vai para o gramado como se fosse
para uma guerra. Por isso o grande plano das elites: misturar futebol e corrupção.
Pensam eles “podemos roubar a vontade porque assim que se aproximar a copa tudo
será esquecido: os super faturamentos, as propinas indevidas, os conchavos; os
críticos serão vistos como não patriotas e, por isso, esquecidos; e se a
seleção fazer feio, temos ainda as olimpíadas para mantermos o povo entorpecido
”.