quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

BRASIL, A COPA E O NOSSO COMPLEXO DE VIRA LATA



Lembro-me que na copa passada, quando a seleção brasileira foi desclassificada pela seleção holandesa, uma reportagem da TV Globo me chamou atenção, ela mostrava, durante seus flash, os torcedores holandeses comemorando a vitória de sua seleção em uma grande praça, e o que me chamou mais atenção foi a reportagem posterior que mostrava que, meia hora depois, os holandeses já tinham se dispensado, indo cuidar de seus outros interesses. Fiquei a pensar “e se o resultado fosse o contrário”; sem dúvida alguma os brasileiros se reuniriam nas praças como os holandeses, mas, diferentemente desses, meia hora não seria suficiente, festejariam até outro dia. Isto demonstra bem como o brasileiro encara o futebol. Acredito que em nenhum país o futebol seja levado tanto a sério, ao ponto do fanatismo, quanto no Brasil.
Sempre achei um absurdo ligar a TV e constatar que mais de trinta por cento de seu horário é dedicado a tal esporte; horário que poderia ser dedicado a assuntos mais urgentes e importantes, quanto a educação, a saúde pública etc. E mais absurdo ainda é constatar, pelos jornais policiais, que há pessoas capazes de agredir e até de matar pessoas apenas por torcer por times adversários. Este fanatismo se encontra até mesmo na política, quantos não simpatizaram com o ex-presidente Lula apenas por ser este um “corintiano doente”? E este sentimento como uma espécie de religião é imposta às crianças desde sua tenra idade, por meio de pais que as obrigam vestir-se com camisas de seu time preferido.
Por isso não me surpreendeu nem um pouco as atuais falcatruas que estão sendo cometidas durante a preparação para a copa no Brasil, criticadas por pessoas que gostariam que os bilhões de reais fossem investidos não em um evento que durará apenas algumas semanas mas em escolas, hospitais, segurança pública etc, em coisas verdadeiramente importante. O que não se vê é que este modo de pensar está enraizado no brasileiro até às entranhas. O brasileiro vê o futebol como se fosse a única coisa que possa se orgulhar, lhe fazer sentir-se superior a outros países, alguém importante, não um vira lata mas alguém que possa ser invejado. Vide o grande patriotismo que surge de quatro em quatro anos, em que a nação calça chuteiras e vai para o gramado como se fosse para uma guerra. Por isso o grande plano das elites: misturar futebol e corrupção. Pensam eles “podemos roubar a vontade porque assim que se aproximar a copa tudo será esquecido: os super faturamentos, as propinas indevidas, os conchavos; os críticos serão vistos como não patriotas e, por isso, esquecidos; e se a seleção fazer feio, temos ainda as olimpíadas para mantermos o povo entorpecido ”.

      

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