Esqueça os famosos Illuminatis,
ou outra qualquer sociedade secreta ligada a teorias conspiratórias; ou ainda as
famosas sociedades secretas dedicadas ao crime, como as mafiosas cosanostra e a
japonesa yakuza; o assunto de hoje é uma forma de sociedade secreta que teve
seu apogeu no século XVIII, que muitos ainda desconhecem. Hoje falaremos das
sociedades secretas dedicadas ao sexo; sociedades que tiveram como objetivo
satisfazer os gostos sexuais de seus clientes.
No romance Juliette
Society, da ex-atriz pornô Sasha Grey, é descrita na sinopse a existência de
uma sociedade secreta dedicada ao sexo, nesses termos:
“Se eu te contasse que
existe um clube secreto, cujos membros pertencem à classe mais poderosa da
sociedade – banqueiros, milionários, magnatas da mídia, CEO’s, advogados,
autoridades, traficantes de armas, militares condecorados, políticos, oficiais
do governo e até mesmo o alto clero da Igreja Católica –, você acreditaria?
Este clube se reúne sem
regularidade, em um local secreto. Às vezes em locais distantes e às vezes
escondidos. Mas jamais duas vezes no mesmo lugar. Normalmente, nem mesmo duas
vezes no mesmo fuso horário. Então, essas pessoas, os Executivos,
usam os encontros como uma válvula de escape do cansativo e estressante negócio
de estragar ainda mais o mundo e criar novas maneiras sádicas e diabólicas de
torturar, escravizar e empobrecer a população. E o que eles fazem em seu tempo livre,
quando querem relaxar? Deveria ser óbvio. Eles fazem sexo”.
Sasha Grey |
Sade visto pelo séc.XIX |
Embora o livro de Sasha fale
bem pouco sobre a tal sociedade, seu título nos remete a outro escritor, ao
pervertido Marquês de Sade, que Grey certamente conhece, e que, com total certeza,
foi uma grande fonte de inspiração para seu livro, pois Juliette é também nome
de uma das personagens de Sade que, ao fazer parte de uma sociedade secreta
chamada Sociedade dos Amigos do Crime, participa de grandes orgias sexuais, e
que o maior prazer de seus membros é o assassinato em grande escala.
Cena do Filme De Olhos Bem Fechados, de Stanley Kubrick, em que Há uma
Misteriosa Sociedade, em que seus Membros se Dedicam a Requintadas orgias Sexuais
|
Sade foi um escritor que muito antes de Dan Brown, levou para seus livros histórias envolvendo sociedades
secretas que, diferente das misteriosas sociedades dos livros de Brown, como do
livro código da Vinci, que se dedicavam a guardar segredos religiosos milenares,
as sociedades de que fala o Marquês se dedicava as formas mais terríveis de
sexo, em que o supremo prazer sexual consistia no sofrimento e morte do
parceiro.
Cenas das Orgias Sadianas |
Sade diferentemente de Dan
Brown conhecia muito bem sobre o que escrevia, e é bem possível que até fizesse
parte de algumas destas sociedades tão comuns no seu tempo; uma destas ele
citou com bastante propriedade, a Ordre de Cythere.
AS ORÍGENS
Como relato em meu livro
Sexo, Perversões e Assassinatos, as primeiras sociedades secretas dedicadas ao
sexo, se dedicavam a formas de magia sexual que eram ensinadas e praticadas em
absoluto sigilo, já que representavam resquícios de uma cultura pagã que,
diferentemente da cristã, divinizavam o sexo, e que, por isso mesmo, eram
perseguidas pela igreja por seu paganismo. Porém, ao lado destas que praticavam
magia sexual, havia aquelas que se dedicavam somente ao sexo, em que nobres
senhores se reuniam e praticavam todas as formas de sexo, longe de suas
esposas. Assim havia as Ordre de Cythère,
Société du Moment, Ordre Hermaphrodite, e muitas
outras. Havendo nessas reuniões o culto
ao proibido, em que o prazer sexual não teria nenhum limite.
O auge de tais sociedades
se deu durante o século XVIII. Sustenta-se que durante a segunda metade deste
século havia, somente na França, mais de cem destas sociedades. Sociedades que
tiveram como modelo outra sociedade secreta, a famosa Franco-Maçonaria. Porém,
diferentemente desta, envolta em cultos místicos, estas sociedades se dedicavam
apenas ao culto do prazer. E assim, inspiradas por aquela, tais sociedades
obedeciam a um código de conduta, que embora fosse menos rígido que o da
Maçonaria, exigia de seus membros discrição e segredo. Deste modo, havia
juramentos e ritos de iniciação, regras a serem seguidas e a perfeita comunhão
com outros membros. Tudo o que pudesse lhes dar segurança.
Por isso, era comum que
os membros de tais sociedades usassem de códigos para se comunicarem entre si.
Algumas sociedades famosas desse tempo, como a Ordre de la Félicité e a Ordre
Hermaphrodite, ou, em bom português, Ordem da Felicidade e a Ordem
Hermafrodita, respectivamente, usavam termos da marinha quando se referiam ao
objeto de seus cultos; chamavam, por exemplo, de “Escola de Marinha” a bordéis, “Fragata”
a mulheres, “Navio” a homens, “Mar” ao amor, etc. Quanto ao objetivo de
suas existências, havia interpretações diferentes, pois algumas se dedicavam a
cultuar os prazeres da vida, com reuniões regradas a boas bebidas e refinadas
comidas, e também à leitura de livros proibidos, pornográficos, em eram ilustradas com a participação de prostitutas, enquanto
outras se dedicavam apenas ao que eles chamavam de “Santas Orgias”, em que o
sexo grupal com prostitutas era a atração principal.
O CLUB DO FOGO DO INFERNO
Contudo, estas sociedades
não se limitavam apenas à França, havia também muitas em outros países, como na
Inglaterra. Neste país, em meio a tantas sociedades secretas, como a Sociedade
para a Supressão da Virtude e a Sociedade para Promoção do Vício, uma tornou-se
famosa, o Hell’s Fire Club, o Clube
do Fogo do Inferno, uma sociedade liderada por um excêntrico e importante
aristocrata inglês, membro do parlamento, Sir
Francis Dashwood. Seus integrantes, entre nobres e importantes políticos,
reuniam-se semanalmente para orgias sexuais sob uma igreja, exatamente a cem
metros abaixo desta, que o próprio Dashwood mandou construir. Era uma igreja
dedicada a São Lourenço, o santo católico padroeiro das prostitutas, que fora
construída na cidade de West Wycombe, a aproximadamente 55 quilômetros de
Londres, em que seus membros se trajavam de monges, enquanto prostitutas
contratadas vestiam-se de freiras.
O Excêntrico Francis Dashwood |
O lugar era composto de
um complexo conjunto de túneis e câmaras que outrora fora uma mina, construída
pelo próprio Sir Francis Dashwood
para dar trabalho aos moradores locais que haviam tido uma péssima colheita,
mas que com o tempo havia se transformado no mais secreto covil. Seus túneis
eram verdadeiros labirintos. Estes conduziam a câmaras secretas. Havia também
um rio subterrâneo a separar o resto do lugar da câmara principal, um lugar
que, pelo o que se crê, era dedicado a grandes orgias sexuais e rituais
secretos. Havia também um barqueiro que fazia a travessia de membros do clube
para tal lugar, como um Caronte, o barqueiro dos mortos dos mitos antigos
gregos, vestido com uma longa túnica negra com capuz sobre o rosto, que
conduzia as almas dos mortos para sua nova morada.
O lugar também era
enfeitado com ilustrações sexuais que parodiavam eventos religiosos cristãos. E
ao crer nos relatos da época, havia também paródias de missas cristãs que eram
seguidas por grandiosas orgias, em que belas mulheres nuas serviam de altar
para tais ritos.
Um dos Inúmeros Corredores do Hell Fire Club |
Mas é bem possível que
tudo não tenha passado de um mal entendido, pois, como hoje, para o populacho,
tudo que fuja do Cristianismo toma forma de Satanismo. Assim, é possível que
Dashwood apenas misturasse a suas orgias símbolos religiosos pagãos, como os
ritos ao deus Baco, que deu origem ao termo bacanal; se de forma séria ou
apenas como motivo de diversão, não sabemos ao certo. Mas com o tempo relatos
sobre o Hell’s Fire Club, também
chamado de “mosteiro de Medmenham” por seus frequentadores, tornaram-se cada
vez mais populares, o que obrigou que, em 1774, o clube fosse desativado e que,
por sua vez, todos os documentos relativos a ele fossem queimados.
Uma das Câmaras do Club do Fogo do Inferno |
SOCIEDADES SECRETAS DEDICADAS AO SEXO E A INTERNET
E pense bem: se tais
sociedades tinham como objetivo a fuga e o deboche das ideias de uma moral
rígida e hipócrita que obrigava seus integrantes a comportamentos sexuais que
não lhes agradavam, limitando seus gostos a uma incipiente vida sexual, que
muitas vezes castigavam com detenções, e mesmo com a morte, comportamentos
sexuais que, para a época, eram considerados desviantes, mas que hoje não
chegariam nem perto do que se pode encontrar em sites pornôs da internet,
ou o que se pode comprar em inofensivos sex
shops, imagine então o que motivaria sociedades sexuais secretas hoje, em
que se tem a total liberdade para se cultivar os mais estranhos desejos
sexuais. Teria que ser algo extremamente transgressor, não é mesmo?
Pense agora nas
possibilidades do mundo moderno, com seus poderosíssimos meios de comunicação e
de informação, em que se pode diminuir consideravelmente as distâncias entre os
homens apenas com um clique, o quanto não ganhariam tais sociedades com o poder
e discrição de tais meios.
E sendo a transgressão um
elemento fundamental ao sexo, que tenderia mesmo a unir, em alguns casos, sexo
e crimes, não admira que a internet hoje seja um importante meio de agrupar pedófilos
e outros criminosos, unindo adeptos em grupos, seja por meio de sites, sociedades, clubes ou o nome que
você queira dar.
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