Fico impressionado de
como se tem interpretado de forma errônea os atos de Cristo, mesmo os seguidores
das duas correntes mais poderosas do cristianismo: tanto católicos quanto
pentecostais têm interpretado seus gestos de formas discrepantes com os
verdadeiros atos de Cristo - como a ideia da pobreza INTENCIONAL de Cristo não
combinar de modo algum com a poderosa riqueza da igreja católica, que até banco
possui, e a TEOLOGIA DA PROSPERIDADE
defendida por pastores de hoje, que veem na riqueza um sinal da graça divina -,
e se isso acontece com seus gestos imagine com suas palavras, já que estas são
muito mais fáceis de serem mal interpretadas. E um desses atos mal
interpretados é a relação entre CRISTO E
O VINHO, que nem se fala.
Em uma passagem do Evangelho
de João é contado que o PRIMEIRO MILAGRE
de Cristo foi transformar água em vinho:
"E, ao terceiro dia, fizeram-se umas
bodas em Caná da Galiléia; e estava ali a mãe de Jesus. 2 E foram também
convidados Jesus e os seus discípulos para as bodas. 3 E, faltando o vinho, a
mãe de Jesus lhe disse: Não têm vinho. [...]. 5 Sua mãe disse aos empregados:
Fazei tudo quanto ele vos disser. 6 E
estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus e em
cada uma cabiam duas ou três metretas. 7 Disse-lhes Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em
cima. 8 E disse-lhes: Tirai agora e levai ao mestre-sala. E levaram. 9 E, logo
que o mestre-sala provou a água feita vinho (não sabendo de onde viera, se bem
que o sabiam os empregados que tinham tirado a água), chamou o mestre-sala ao
esposo. 10 E disse-lhe: Todo o homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm
bebido bem, então, o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho. 11 Jesus
principiou assim os seus sinais em Caná da Galiléia e manifestou a sua glória,
e os seus discípulos creram nele." João 2:1-11.
Nessa passagem há um
comportamento de Jesus que sempre me chamou atenção por não condizer com as
atitudes de seus devotos hoje em dia: o conteúdo de seu primeiro milagre.
Em um sermão o famoso
Bispo Macedo - o pastor mais rico do Brasil e, segundo ele próprio, do mundo -,
questionou a falta de importância do primeiro milagre de Cristo. Dizendo que
Cristo ao transformar água em vinho fez um milagre sem importância ao
cristianismo, e também sem nenhuma importância verdadeira na vida de uma
pessoa.
Tal milagre tornou-se um
ponto de polêmica na vida de muitos pentecostais, já que contradiz com a
postura de intolerância às bebidas alcoólicas, compartilhado por tais devotos.
A polêmica é tão grande
que os devotos chegam a afirmar que não se tratou de vinho, mas sim de simples
suco de uva.
Ora, o texto fala por si
próprio, e é claro que se tratava de vinho. Para esta conclusão basta apenas
darmos atenção ao fato de que o mestre-sala, que é o homem responsável pelas
bebidas nas festas naqueles tempos, diz ao esposo “Todo o homem põe primeiro o
vinho bom e, quando já têm bebido bem, então, o inferior; mas tu guardaste até
agora o bom vinho”. Ora, isso só poderia acontecer se o conteúdo fosse vinho,
já que, como podemos ver nesta passagem, era comum que após os convidados terem
si entorpecidos com o bom vinho, lhes dessem o vinho inferior, já que estariam
tão entorpecidos que não sentiriam a mudança de qualidade. E o entorpecimento
só poderia acontecer com bebidas alcoólicas, neste caso, vinho, não com suco de
uva.
Se Jesus transformou água
em vinho em um casamento significa que ele não era contrário ao seu uso mesmo
em situações de divertimento, o que não apenas torna-se contraditório com a
proibição dos evangélicos ao uso de bebidas alcoólicas, como a proibição destes
ao uso do vinho torna-se uma recriminação aos atos de Cristo: O quê? Discípulos
repreendendo o mestre!
Contudo, ouso dizer que,
ao contrário do Bispo Macedo, há sim uma grande importância do primeiro milagre
de Cristo para sua religião, que, aliás, poucos veem. Para tanto temos que
conceber Jesus de uma forma pagã. E antes de concebê-lo dessa forma, temos que
atentar para a importância que o vinho possui para o cristianismo e também para
outras religiões mais antigas.
MITRA, Com sua Cabeleira que Lembra o Sol |
Junto com o pão, que simboliza
o corpo de Cristo, o vinho é instituído por Cristo como representando seu
sangue, seu sofrimento. E sendo estes alimentos fundamentais para cristãos
romanos da época, isto faria com que Cristo sempre estivesse à memória daqueles
ao se alimentarem, mantendo o ideal cristão sempre vivo. Contudo, o vinho era
também sagrado a outras religiões, como a religião do deus Mitra, que antes do
cristianismo, já tinha instituído o pão e o vinho como, respectivamente, o
corpo e o sangue desse deus pagão, que também havia transformado água em vinho. Outro deus, muito antes de Cristo, que também havia transformado água em vinho foi
o deus grego Dionísio, que em seus cultos o vinho representava sua presença;
era considerado o deus do vinho, em que por meio desta bebida fazia seus
discípulos entrarem em contato com os princípios importantes da vida, como a
alegria, os instintos sexuais etc.
DIONÍSIO, O Deus do Vinho |
Mas por que o vinho era um símbolo tão
importante para estes deuses, como para Jesus? Simples:
A videira, a árvore que
produz as uvas, no inverno “adormece”, as folhas caem, e parece morta. E no
verão, quando ela retorna à vida, fornece frutos, com os quais se faz uma
bebida que torna alegre a quem dela se sirva. Esta mesma bebida, no inverno, faz
aquecer o seu consumidor enquanto a videira dorme novamente. Este processo
cíclico dá ideia de vida eterna, de um eterno renascer. Portanto, o vinho, por
meio da videira, já tinha se transformado em um símbolo de renascimento muito
antes do cristianismo, representando a imortalidade e a fertilidade.
Há, porém, outro
simbolismo do vinho que o liga a esses deuses: O vinho, por meio da videira,
está associado ao inverno e ao verão, como vimos, e isto o liga também ao sol. O
que torna o vinho um símbolo de DEUSES SOLARES, que são deuses que nada mais
são do que representações do sol, pois possuem características do sol em suas
histórias.
Como o Deus Solar MITRA, Jesus Também Ilustrado Com um Círculo Solar na Cabeça |
O mais antigo deus solar
conhecido é o deus HÓRUS do antigo Egito (3000 anos a.C.), cuja várias
características de Hórus são atributos do sol, como: Hórus nasceu em 25 de
dezembro (é o dia do Solstício de Primavera é a noite mais longa do ano, e que
deste dia adiante haverá noites com tempo menores, dando início a primavera e,
em seguida, ao verão) da Virgem Isis-Meri (hórus nascia de uma virgem porque
virgem era o nome dado a uma constelação). Seu nascimento foi acompanhado por
uma estrela do Leste (a estrela Sírius) que por sua vez foi seguida por 3 reis
(3 Reis era o nome antigo dado a constelação chamada hoje de 3 Marias) em busca
do Salvador recém-nascido. Aos 12 anos (relacionado aos 12 zodíacos, aos 12
horóscopos) era uma criança prodígio e professor, aos 30 anos foi batizado por
uma figura conhecida por Anup, e assim começou seu reinado. Hórus tinha 12
discípulos (novamente alusão aos 12 zodíacos) e fazia viagens levando a cabo
milagres, tal como, curar os doentes e andar sobre as águas. Hórus era
conhecido como "A Verdade", "A Luz", "Filho Adorado de
Deus", "Bom Pastor", "Cordeiro de Deus" entre muitos
outros. Depois de traído por Tifão, Hórus foi crucificado (alusão ao período em
que o sol se encontra próximo a constelação chamada Cruzeiro do Sul) e
ressuscitou 3 dias depois (alusão em que o sol parece adormercer 3 dias antes
do Solstício de Primavera). Note que a estória de Hórus tem muito em comum com
a estória de Jesus Cristo. E o mesmo deus também influenciará as
características de inúmeros deuses posteriores, todos DEUSES SOLARES:
Deuses ou heróis que
nasceram no Solstício de Inverno (ou 25/12) incluem:
Attis, da Frigia (1200
AC, deus da fertilidade com características semelhantes às de Adonis),
Krishna (900 AC), nascido
da virgem Devaki, acompanhado da estrela do Leste,
Budha (Índia), filho da
Virgem Maya,
Odin (ou Wodan, deus
principal do Panteão Nórdico),
Critias (o tio de
Platão), Zoroastro (fundador e primeiro sacerdote do Zoroastrismo),
Indra (o deus das
tempestades que derrota o dragão Asura Vrita, que representava o Inverno),
Wittoba (uma das formas
de Krishna),
Thammuz (Deus solar da
Síria, que mais tarde se transformaria em um demônio com a “ajuda” da Igreja
Católica),
Xamoltis (Deus solar
venerado na Trácia),
Adad (Síria),
Deva Tat (uma das formas
de Buda),
Alcides (herói de Thebas,
conhecido pelos gregos como Hércules e os doze trabalhos do Hércules estão cada
um deles relacionado diretamente com um signo do zodíaco (um dia eu falo sobre
eles, mas só para dar um gostinho, o Leão da Nemédia está relacionado com o
signo de Leão… ),
Cuchulainn (guerreiro
celta, nascido na Irlanda e muito famoso nas lendas, nascido “na noite mais
fria do inverno”),
Thor (filho de Odin,
nascido na noite mais fria do Inverno),
Cadmus (herói da Grécia),
Quetzacoatl (Asteca),
Tien ou Tien-mu (deus da
prosperidade na China),
Adonis (deus grego, filho
da virgem Mirra),
Ixion (Roma),
Prometeu (Aquele que traz
a luz, também das lendas gregas), entre outros.
Portanto, ao contrário do
que pensa o Bispo Macedo, o PRIMEIRO
MILAGRE de Cristo, transformando água em vinho, possui um simbolismo
importantíssimo, e o que o faz ser seu primeiro milagre, o coloca como parte
importante desse grande grupo de DEUSES SOLARES, continuando com uma profunda
tradição PAGÃ. E por ter sido realizado em uma festa de casamento o aproxima
bastante da tradição de alegria (por ter sido feito em uma festa) e fertilidade
(por ser em um casamento) do deus grego DIONÍSIO.
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