terça-feira, 18 de agosto de 2015

O CASTELO DE SADE



O CASTELO DE SADE
Paris, 3 de Abril de 1768; um Domingo de Páscoa...
Uma luxuosa carruagem segue pelas estreitas ruas de Paris, contrastando com as sujas e fétidas roupas do povo, que se acumulam em busca de alimentos e de emprego. A fome assola Paris; e pessoas dividem com os ratos restos de alimentos que caem ao chão.
Uma bela mendiga, vestida com sujos e esfarrapados vestidos, que não obliteram sua beleza, se interpõe enfrente a carruagem estendendo a mão, clamando por ajuda, por algo que possa diminuir-lhe a dor de sua miséria. A carruagem para, a porta se abre, e uma mão ostentando grossos anéis de ouro joga-lhe algumas moedas. Em seguida, o nobre cavalheiro lhe oferece emprego; ela entra na carruagem, e esta parte cortando as fétidas ruas de Paris, rumo aos negros bosques de pinheiros.
Pela janela da carruagem dá ainda para ver o maravilhoso por-do-sol que logo é sucedido por uma bela lua-cheia, que mal consegue clarear o estreito caminho que corta bosques, vales, pequenas montanhas, contornando precipícios, e que parece animar obscuras criaturas noturnas da floresta. A jovem mulher dá pequenos sorrisos de felicidade enquanto o homem, à sua frente, ricamente vestido, mantém-se calado. O silêncio é apenas quebrado pelo trotar dos cavalos que avançam pela imensa floresta negra, entre voos de morcegos e pequenos brilhos de pirilampos que se confundem com o brilho das estrelas.
O tempo passa. E após transpor um imenso pórtico, seguem por uma pequena estrada ladeada por inúmeras estátuas de faunos de mármores com enormes falos, que servem de apoio para lampiões, em meio a um grande jardim com flores vermelhas de múltiplas formas; em cujo final, pode-se entrever uma grandiosa casa, ricamente adornada por grossas colunas e janelas trabalhadas em ouro.
  

A carruagem para, a porta se abre, e um empregado conduz a bela jovem a uma suntuosa sala, com abóboda ricamente adornada por pinturas de deuses profanos, que, por sua vez, por meio de uma passagem secreta, os conduz a uma imensa cripta escura, com dezenas de portas, clareada por grossas velas negras nas paredes, onde se pode ouvir gritos de dor, o arrastar de correntes e os gemidos de corpos que se entregam com imensa volúpia ao prazer sexual. Num dos quartos abertos, há uma grande cadeira dourada, com o acento e o encosto em cor vermelha, em que uma bela mulher está sentada.


Ela usa espartilho e longas botas de couro negro, tendo um chicote em sua mão e, sob seus pés, um homem seminu, de joelhos, que, sob chicotadas, lambi suas botas. Mais adiante, em outro quarto, um homem nu, de cócoras, em uma gaiola de ferro com enorme cadeado em sua pequena porta, suspensa por correntes ao teto. E ao continuarem, encontram uma mulher acorrentada em uma grossa coluna, apenas vestida por meias de cedas, e enquanto outra lhe bati nas nádegas com uma grande palmatória de madeira, beija-lhe a boca, abafando-lhe os gritos de prazer e dor. Por fim, chegam a um quarto luxuosamente decorado, com belos quadros nas paredes e cadeiras com pequenos enfeites em ouro, incrustrados em sua madeira. O empregado, antes de sair, lhe diz para que aguardasse por seu patrão.
O homem, um jovem senhor pertencente a uma das mais nobres e ricas famílias francesas, adentra o quarto; fechando a porta. Ele a examina, contornando seu corpo com olhos vidrados de desejo; ordenando-lhe que se dispa; ordem que é recebida entre um misto de apreensão e medo. E, ao vê-la hesitar por algum instante, o homem rasga-lhe suas roupas, liberando toda a imensa beleza de seu corpo magro, branco e jovem, com mamilos rosados, cintura sinuosa e sedosos pelos pubianos que quase escondem por completo uma delicada e rosa vagina, entre duas coxas belamente torneadas. Em seguida, é lhe desferido um tapa em seu rosto, que a faz cair sobre a cama; e sob a débil tentativa de defesa é amarrada de bruços sobre a mesma. Seu corpo é chicoteado, tendo seus gritos abafados pelas grossas paredes do quarto. E durante o tempo em que é sodomizada, é forçada a se masturbar com o crucifixo, e a blasfemar o nome de seu criador. Uma pequena lâmina é então erguida pelo punho de seu algoz, que enquanto acaricia o corpo estendido sobre a cama, põe-se a lamber a lâmina, o frio e reluzente metal; tão frio quanto o coração de quem a impunha.
O corpo jovem e delicado é, em seguida, levemente cortado pelo objeto cortante; o qual derrama múltiplas gotas de sangue que escorrem sobre a pele branca, entre faixas vermelhas produzidas pelo chicote. As gotas de sangue são lentamente lambidas pelo nobre senhor enquanto a possui ferozmente. Uma vela vermelha é tirada de uma pequena gaveta e acesa; pingos de cera quentes caem sobre as feridas abertas, estancando o sangue; momentos que antecedem a fúria de seu orgasmo, acompanhado por gritos e gestos de prazer.
Seu algoz é um nobre francês de nome Marquês de Sade.

Este conto é baseado em fatos reais, no sequestro da mendiga Rose Keller, feito pelo escritor francês Marquês de Sade (1740-1814). Caso que, graças a fuga desta, permitiu que Sade fosse posteriormente detido, embora houvesse feito um acordo com sua vítima por meio de pagamento, e o inocentado.
O escritor Marquês de Sade passou grande parte de sua vida em prisões e hospícios, ora por sua vida libertina ora por seus escritos. É o autor do romance OS 120 DIAS DE SODOMA; obra ainda não superada em violência em suas 600 formas de perversão. Seu nome originou o termo sadismo, dado ao prazer de agredir e humilhar ao outro.

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