A COLECIONADORA
RAFAEL ERA UM JOVEM
como tantos outros: achava-se com atributos irresistíveis capazes de seduzir a
mulher mais exigente de todas: possuía um belo rosto, um físico atlético e um gosto
por aventuras sexuais capaz de causar inveja ao mais exigente dos Casanovas.
Reunia-se com amigos todas as noites de fim de semana; chamavam essas reuniões
de caçada, em que as presas eram o maior número possível de belas mulheres que
lhes possibilitassem os mais luxuriosos prazeres sexuais; que eram, por sua
vez, devidamente descritos por eles todas as quartas-feiras em reuniões em que
se deleitavam ao contar suas aventuras sexuais dos finais de semana e a decidir
quem teria pego mais mulheres.
E como era de costume,
naquele sábado, haviam se reunido em um bar de esquina para decidirem em qual
das boates passariam as três horas mais importantes da “caçada”. Para eles de
uma às quatro horas da manhã eram as horas mais importantes, pois até uma hora
as coisas ainda se mantinham calmas, com mulheres comportadas e tímidas; mas com
o tempo, e com o uso prolongado de bebidas, elas liberavam seus instintos,
afrouxando os laços e obrigações morais, tornando-se alvo fácil para eles. E uma
vez presentes na boate escolhida, ficavam a observar aquelas que seriam as
escolhidas da noite; a caçada então se iniciava com toda sorte de flertes.
Naquela noite, uma bela
mulher solitária, sentada ao balcão, chamou-lhe especial atenção. Era alguém
que aparentava ser jovem, embora seu comportamento denunciasse ser bem mais experiente
do que aparentava sua idade. Ela possuía olhos e cabelos negros lisos, um pouco
acima dos ombros, que contrastavam com sua pele branca; e um detalhe que lhe
deixava extremamente sexy: um pequeno espaço entre os dentes da frente que lhe
conferia ar de adolescente. O que foi o bastante para que Rafael visse nela a primeira
presa da noite. Então, como de costume, juntou-se ao balcão, perguntando-lhe se
poderia lhe oferecer uma bebida. Ela imediatamente aceitou e juntos puseram-se
a conversar. Após apresentarem-se, ela disse se chamar Anita. E embora seus gostos não
combinassem, Rafael usava de todos seus atributos físicos para conquistá-la.
Até que, após alguns minutos, um longo beijo parecia ser o sinal que,
finalmente, ela havia mordido a isca, seduzida por aquele que se achava o maior
de todos os amantes.
Anita convidou-o então
para ir a sua casa. Ele, imediatamente, aceitou o convite. E ao se despedir dos
amigos desacompanhados, olhou-os com um leve sorriso de superioridade nos
lábios.
* * *
Em meio ao mais fervoroso
sexo, Anita parou por um momento e sussurrou ofegante:
— Se eu fosse um
homem iria invejá-lo tanto!
Rafael sorriu, orgulhoso
do elogio, proferido por aquela mulher que parecia fascinada por seu corpo,
comentando, em seguida:
— Iria desejar então
ter um como o meu? —
disse, referindo-se ao seu pênis.
— Seria tudo que me
faltaria!
— Mas ele é seu,
querida; não é amiguinho?... pelo menos por essa noite — disse Rafael olhando
para seu pênis, enquanto Anita esboçava um leve sorriso.
Por fim, extenuado
pelo sexo, Rafael adormeceu.
* * *
Rafael acordou e percebeu
que havia dormido por alguns minutos; precisava retornar logo para os amigos para
recomeçar a caçada; estava ansioso para contar-lhes suas vantagens; olhou ao
redor e não viu aquela que tinha lhe dado tanto prazer naquela noite.
A casa estava em
silêncio, exceto pelo barulho do ventilador sobre a escrivaninha.
Rafael sentiu sede e
pôs-se a chamar aquela mulher que lhe havia incendiado de prazer minutos atrás.
E após não ter obtido êxito em sua tentativa, decidiu levantar-se e procurá-la
pela casa. Vestiu as roupas e penetrou em um pequeno corredor. Verificou que a
porta de dois quartos estavam fechadas, e seguiu enfrente. Chegou ao que lhe
pareceu ser a cozinha. E ao ver a geladeira, seguiu em sua direção. Ao abri-la,
verificou que havia apenas vidros grandes embalados em papel alumínio e nenhuma
garrafa com água. Decidiu então olhar de perto aqueles grandes vidros que lhe
chamaram atenção. Pegou um, e sacudindo-o, verificou que havia líquido dentro e
algo em meio ao líquido; pensou comer alguns picles que pareciam estar guardados
em conserva. E ao apanhar um e destampá-lo, deixo-o cair ao chão horrorizado,
após perceber que havia um pênis em tal vidro. Apanhou outro e mais outro,
verificando, por fim, que em todos havia pênis em lugar de picles. Foi quando Anita
apareceu à porta da cozinha, dizendo-lhe:
— Vejo que já conheces
minha pequena coleção, querido.
— O que são essas
coisas?!
— É apenas uma
coleção... — Anita apagar a luz, e em seguida completa:
— ... e em que falta o seu.
Gritos ecoaram pela
casa inteira. E minutos depois...
“Mas ele é seu,
querida; não é amiguinho?, pelo menos por essa noite” — repetiu Anita a frase que,
minutos atrás, Rafael havia proferido, imitando sua voz com trejeitos masculinos.
— Sim, você é meu, amiguinho, e não apenas por
esta noite, mas para a vida inteira — disse ela, botando um novo vidro na
geladeira.
(Conto Escrito Por Bosco Silva)
(Conto Escrito Por Bosco Silva)
Nenhum comentário:
Postar um comentário