quarta-feira, 1 de março de 2017

A COLECIONADORA



A COLECIONADORA

RAFAEL ERA UM JOVEM como tantos outros: achava-se com atributos irresistíveis capazes de seduzir a mulher mais exigente de todas: possuía um belo rosto, um físico atlético e um gosto por aventuras sexuais capaz de causar inveja ao mais exigente dos Casanovas. Reunia-se com amigos todas as noites de fim de semana; chamavam essas reuniões de caçada, em que as presas eram o maior número possível de belas mulheres que lhes possibilitassem os mais luxuriosos prazeres sexuais; que eram, por sua vez, devidamente descritos por eles todas as quartas-feiras em reuniões em que se deleitavam ao contar suas aventuras sexuais dos finais de semana e a decidir quem teria pego mais mulheres.
E como era de costume, naquele sábado, haviam se reunido em um bar de esquina para decidirem em qual das boates passariam as três horas mais importantes da “caçada”. Para eles de uma às quatro horas da manhã eram as horas mais importantes, pois até uma hora as coisas ainda se mantinham calmas, com mulheres comportadas e tímidas; mas com o tempo, e com o uso prolongado de bebidas, elas liberavam seus instintos, afrouxando os laços e obrigações morais, tornando-se alvo fácil para eles. E uma vez presentes na boate escolhida, ficavam a observar aquelas que seriam as escolhidas da noite; a caçada então se iniciava com toda sorte de flertes.
Naquela noite, uma bela mulher solitária, sentada ao balcão, chamou-lhe especial atenção. Era alguém que aparentava ser jovem, embora seu comportamento denunciasse ser bem mais experiente do que aparentava sua idade. Ela possuía olhos e cabelos negros lisos, um pouco acima dos ombros, que contrastavam com sua pele branca; e um detalhe que lhe deixava extremamente sexy: um pequeno espaço entre os dentes da frente que lhe conferia ar de adolescente. O que foi o bastante para que Rafael visse nela a primeira presa da noite. Então, como de costume, juntou-se ao balcão, perguntando-lhe se poderia lhe oferecer uma bebida. Ela imediatamente aceitou e juntos puseram-se a conversar. Após apresentarem-se, ela disse se  chamar Anita. E embora seus gostos não combinassem, Rafael usava de todos seus atributos físicos para conquistá-la. Até que, após alguns minutos, um longo beijo parecia ser o sinal que, finalmente, ela havia mordido a isca, seduzida por aquele que se achava o maior de todos os amantes.
Anita convidou-o então para ir a sua casa. Ele, imediatamente, aceitou o convite. E ao se despedir dos amigos desacompanhados, olhou-os com um leve sorriso de superioridade nos lábios.
*  *  *
Em meio ao mais fervoroso sexo, Anita parou por um momento e sussurrou ofegante:
— Se eu fosse um homem iria invejá-lo tanto!
Rafael sorriu, orgulhoso do elogio, proferido por aquela mulher que parecia fascinada por seu corpo, comentando, em seguida:
— Iria desejar então ter um como o meu? — disse, referindo-se ao seu pênis.
— Seria tudo que me faltaria!
— Mas ele é seu, querida; não é amiguinho?... pelo menos por essa noite — disse Rafael olhando para seu pênis, enquanto Anita esboçava um leve sorriso.
Por fim, extenuado pelo sexo, Rafael adormeceu.
*  *  *
Rafael acordou e percebeu que havia dormido por alguns minutos; precisava retornar logo para os amigos para recomeçar a caçada; estava ansioso para contar-lhes suas vantagens; olhou ao redor e não viu aquela que tinha lhe dado tanto prazer naquela noite.
A casa estava em silêncio, exceto pelo barulho do ventilador sobre a escrivaninha.
Rafael sentiu sede e pôs-se a chamar aquela mulher que lhe havia incendiado de prazer minutos atrás. E após não ter obtido êxito em sua tentativa, decidiu levantar-se e procurá-la pela casa. Vestiu as roupas e penetrou em um pequeno corredor. Verificou que a porta de dois quartos estavam fechadas, e seguiu enfrente. Chegou ao que lhe pareceu ser a cozinha. E ao ver a geladeira, seguiu em sua direção. Ao abri-la, verificou que havia apenas vidros grandes embalados em papel alumínio e nenhuma garrafa com água. Decidiu então olhar de perto aqueles grandes vidros que lhe chamaram atenção. Pegou um, e sacudindo-o, verificou que havia líquido dentro e algo em meio ao líquido; pensou comer alguns picles que pareciam estar guardados em conserva. E ao apanhar um e destampá-lo, deixo-o cair ao chão horrorizado, após perceber que havia um pênis em tal vidro. Apanhou outro e mais outro, verificando, por fim, que em todos havia pênis em lugar de picles. Foi quando Anita apareceu à porta da cozinha, dizendo-lhe:
— Vejo que já conheces minha pequena coleção, querido.
— O que são essas coisas?!
— É apenas uma coleção... — Anita apagar a luz, e em seguida completa:
—  ... e em que falta o seu.
Gritos ecoaram pela casa inteira. E minutos depois...
“Mas ele é seu, querida; não é amiguinho?, pelo menos por essa noite” — repetiu Anita a frase que, minutos atrás, Rafael havia proferido, imitando sua voz com trejeitos masculinos.
 — Sim, você é meu, amiguinho, e não apenas por esta noite, mas para a vida inteira — disse ela, botando um novo vidro na geladeira.

(Conto Escrito Por Bosco Silva)



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