O relato de hoje é sobre a
descrição de um fenômeno bastante comum que ataca milhares de pessoas mundo
afora: a PARALISIA DO SONO. Para a ciência não há nada de sobrenatural nela,
mas para outros... Confira:
ELES ESTÃO ENTRE NÓS
Certo
final de semana minha irmã veio para Campinas e pedi para ela dormir no meu
quarto, para evitar de ficar sozinho mais uma noite. No meio do sono sinto
alguém me cutucando, achando que é minha irmã, acordo. Ao lado dela, vejo uma
menina de uns 5 anos, loirinha, de cabelos encaracolados, me olhando com muito
medo e apontando para a porta. Ao olhar para a porta vejo uma sombra parada,
com dois olhos brilhantes.
Apesar de ser apenas uma silhueta, consigo
identificar que é uma figura masculina. Ele fica lá, apenas nos olhando, parado
na porta sem se mover. Era a primeira vez que eu via algo assim com tanta
clareza, pois sempre que eu via espíritos eram apenas vislumbres ou coisas
rápidas. Aquela sombra ficou lá durante alguns minutos a me encarar e eu não conseguia
fazer nada além de encará-la de volta. Foi a primeira vez que senti medo de
verdade e ao contrário das outras coisas que eu via, que apareciam e sumiam do
nada, a sombra saiu pela porta “andando”. Não fiz questão de segui-la, apenas
continuei deitado, paralisado pelo medo.
Daquele
dia em diante, comecei a ter um distúrbio conhecido como Paralisia do Sono. Eu
dormia mas continuava consciente, pensando, escutando o que estava acontecendo
ao meu redor e desesperado para tentar acordar e recobrar minha consciência.
Muitas vezes eu gritava mentalmente e quando acordava, achava que havia gritado
de verdade, mas descobria que tudo havia acontecido apenas na minha cabeça. Com
a paralisia, comecei a ter muitos pesadelos. Na maioria deles eu era apenas um
espectador, como se eu estivesse vendo apenas um filme. Minhas noites
alternavam entre pesadelos e tentativas desesperadas de acordar da paralisia.
Nas vezes que eu conseguia acordar, me via na escuridão do quarto, com a
sensação de que alguém havia acabado de sair dali.
As
coisas foram melhorando, até que certa noite eu estava sozinho em casa, deitado
na cama, quando tenho a sensação de que alguém entrou no apartamento.
—
Droga, vou ser assaltado, estuprado e esquartejado. — penso.
Desligo
a televisão e finjo que estou dormindo, achando que se fosse um ladrão ele iria
me deixar em paz e levar o que quisesse. Abro um dos olhos e olho o reflexo da
TV, de repente uma silhueta aparece andando e parando na porta. Sinto seu olhar
através do reflexo da TV e me lembro daquela outra noite em que havia visto uma
sombra no quarto. Junto coragem e me viro lentamente e olho para a porta. No
fim das contas não era uma pessoa, mas sim a mesma sombra de anos atrás, ainda
parada na porta. Começo a rezar mentalmente, pedindo para Jesus, Nossa Senhora,
anjos, santos ou quem quer que fosse para me ajudar. A sombra então começa a
andar, vindo em minha direção e pula na cama. Em questão de segundos ela está
em cima de mim, tentando me estrangular enquanto continuo a rezar em voz alta.
Numa medida desesperada, dou várias socos na sombra e continuo a rezar. Pouco a
pouco ela vai perdendo as forças e começa a sumir, evaporando diante dos meus
olhos.
Após
ela sumir de vez, continuo deitado com a adrenalina a mil, apenas tentando recobrar
o fôlego. Me levanto, acendo a luz e procuro pelo apartamento se há mais alguém
ali. Não encontro mais nada e vou ao banheiro me aliviar de toda a tensão. Lavo
o rosto e me olho no espelho, vejo leves marcas de dedos no meu pescoço, que
aos poucos também vão sumindo.
[...]
Até
que certo dia, já no terreiro, começo a conversar mentalmente com o preto velho
que me acompanha. Nessa conversa, começo a questionar se realmente incorporo ou
se estou fingindo:
—
Se você acha que está fingindo, porque não faz um teste? — propõe o preto
velho.
—
Que teste? — pergunto
—
Tente desincorporar sem seguir o método ensinado pelo terreiro, veja o que
acontece.
Faço
então essa desincorporação forçada e a sensação que tenho é de que deixei um
portal aberto no meu campo de energia. Imediatamente sinto alguém entrando pelo
portal, invadindo minha mente. Vejo apenas dois olhos brilhantes e um sorriso,
que desta vez fala:
—
Agora você é meu filho da puta, quero ver você me tirar daqui.
Entro
em desespero, imaginando como poderia mandar aquela entidade de volta ao lugar
de que tinha vindo. Atrás de mim o Preto Velho ressurge e me acalma:
—
Filho, eu estava aqui o tempo todo, apenas observando o que ia acontecer. Essa
sombra te persegue a tanto tempo, mas já é hora dela tomar o rumo dela. Você já
sabe onde pode encontrar luz, não precisa mais ter que passar pelo tormento da
escuridão. Reze comigo.
O
preto velho que me acompanha também é devoto de Nossa senhora, então juntos
começamos a rezar e a expulsar a sombra de dentro da minha mente. Ela xinga e
tenta reagir, mas as orações são mais fortes e ela some. Depois daquele dia
nunca mais duvidei do processo de incorporação e nem achei mais que eu estava
fingindo.
O
tempo se passou, meus filhos nasceram, cresceram e outro dia estou dormindo,
quando sinto alguém me cutucando. Abro os olhos e vejo uma menininha, loirinha
e de cabelos encaracolados, me olhando com muito medo:
—
O que foi filha? — pergunto.
—
Papai, pode vir dormir comigo? Estou com medo de ficar sozinha.
Me
levanto e vou com ela até o quarto. Falamos baixinho, para não acordar meu
outro filho:
—
Do que está com medo baixinha? — pergunto.
—
Estou com medo do bicho papão, papai.
Minha
filha não costuma ter medo e anda no escuro como se fosse dia, então respondo:
—
Filha, não existe bicho papão.
—
Existe sim papai. O bicho papão mora nas sombras…
*
Relato de Tender, publicado aqui com a permissão do autor. Você pode lê-lo na
íntegra acessando o site desfavor. O título foi mudado para combinar com nossa
sessão.
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