terça-feira, 21 de março de 2017

RELATO DO LEITOR: Eles Estão Entre Nós



O relato de hoje é sobre a descrição de um fenômeno bastante comum que ataca milhares de pessoas mundo afora: a PARALISIA DO SONO. Para a ciência não há nada de sobrenatural nela, mas para outros... Confira:

ELES ESTÃO ENTRE NÓS

Certo final de semana minha irmã veio para Campinas e pedi para ela dormir no meu quarto, para evitar de ficar sozinho mais uma noite. No meio do sono sinto alguém me cutucando, achando que é minha irmã, acordo. Ao lado dela, vejo uma menina de uns 5 anos, loirinha, de cabelos encaracolados, me olhando com muito medo e apontando para a porta. Ao olhar para a porta vejo uma sombra parada, com dois olhos brilhantes.



Apesar de ser apenas uma silhueta, consigo identificar que é uma figura masculina. Ele fica lá, apenas nos olhando, parado na porta sem se mover. Era a primeira vez que eu via algo assim com tanta clareza, pois sempre que eu via espíritos eram apenas vislumbres ou coisas rápidas. Aquela sombra ficou lá durante alguns minutos a me encarar e eu não conseguia fazer nada além de encará-la de volta. Foi a primeira vez que senti medo de verdade e ao contrário das outras coisas que eu via, que apareciam e sumiam do nada, a sombra saiu pela porta “andando”. Não fiz questão de segui-la, apenas continuei deitado, paralisado pelo medo.
Daquele dia em diante, comecei a ter um distúrbio conhecido como Paralisia do Sono. Eu dormia mas continuava consciente, pensando, escutando o que estava acontecendo ao meu redor e desesperado para tentar acordar e recobrar minha consciência. Muitas vezes eu gritava mentalmente e quando acordava, achava que havia gritado de verdade, mas descobria que tudo havia acontecido apenas na minha cabeça. Com a paralisia, comecei a ter muitos pesadelos. Na maioria deles eu era apenas um espectador, como se eu estivesse vendo apenas um filme. Minhas noites alternavam entre pesadelos e tentativas desesperadas de acordar da paralisia. Nas vezes que eu conseguia acordar, me via na escuridão do quarto, com a sensação de que alguém havia acabado de sair dali.


As coisas foram melhorando, até que certa noite eu estava sozinho em casa, deitado na cama, quando tenho a sensação de que alguém entrou no apartamento.
— Droga, vou ser assaltado, estuprado e esquartejado. — penso.
Desligo a televisão e finjo que estou dormindo, achando que se fosse um ladrão ele iria me deixar em paz e levar o que quisesse. Abro um dos olhos e olho o reflexo da TV, de repente uma silhueta aparece andando e parando na porta. Sinto seu olhar através do reflexo da TV e me lembro daquela outra noite em que havia visto uma sombra no quarto. Junto coragem e me viro lentamente e olho para a porta. No fim das contas não era uma pessoa, mas sim a mesma sombra de anos atrás, ainda parada na porta. Começo a rezar mentalmente, pedindo para Jesus, Nossa Senhora, anjos, santos ou quem quer que fosse para me ajudar. A sombra então começa a andar, vindo em minha direção e pula na cama. Em questão de segundos ela está em cima de mim, tentando me estrangular enquanto continuo a rezar em voz alta. Numa medida desesperada, dou várias socos na sombra e continuo a rezar. Pouco a pouco ela vai perdendo as forças e começa a sumir, evaporando diante dos meus olhos.
Após ela sumir de vez, continuo deitado com a adrenalina a mil, apenas tentando recobrar o fôlego. Me levanto, acendo a luz e procuro pelo apartamento se há mais alguém ali. Não encontro mais nada e vou ao banheiro me aliviar de toda a tensão. Lavo o rosto e me olho no espelho, vejo leves marcas de dedos no meu pescoço, que aos poucos também vão sumindo.
[...]
Até que certo dia, já no terreiro, começo a conversar mentalmente com o preto velho que me acompanha. Nessa conversa, começo a questionar se realmente incorporo ou se estou fingindo:
— Se você acha que está fingindo, porque não faz um teste? — propõe o preto velho.
— Que teste? — pergunto
— Tente desincorporar sem seguir o método ensinado pelo terreiro, veja o que acontece.
Faço então essa desincorporação forçada e a sensação que tenho é de que deixei um portal aberto no meu campo de energia. Imediatamente sinto alguém entrando pelo portal, invadindo minha mente. Vejo apenas dois olhos brilhantes e um sorriso, que desta vez fala:
— Agora você é meu filho da puta, quero ver você me tirar daqui.
Entro em desespero, imaginando como poderia mandar aquela entidade de volta ao lugar de que tinha vindo. Atrás de mim o Preto Velho ressurge e me acalma:
— Filho, eu estava aqui o tempo todo, apenas observando o que ia acontecer. Essa sombra te persegue a tanto tempo, mas já é hora dela tomar o rumo dela. Você já sabe onde pode encontrar luz, não precisa mais ter que passar pelo tormento da escuridão. Reze comigo.
O preto velho que me acompanha também é devoto de Nossa senhora, então juntos começamos a rezar e a expulsar a sombra de dentro da minha mente. Ela xinga e tenta reagir, mas as orações são mais fortes e ela some. Depois daquele dia nunca mais duvidei do processo de incorporação e nem achei mais que eu estava fingindo.
O tempo se passou, meus filhos nasceram, cresceram e outro dia estou dormindo, quando sinto alguém me cutucando. Abro os olhos e vejo uma menininha, loirinha e de cabelos encaracolados, me olhando com muito medo:
— O que foi filha? — pergunto.
— Papai, pode vir dormir comigo? Estou com medo de ficar sozinha.
Me levanto e vou com ela até o quarto. Falamos baixinho, para não acordar meu outro filho:
— Do que está com medo baixinha? — pergunto.
— Estou com medo do bicho papão, papai.
Minha filha não costuma ter medo e anda no escuro como se fosse dia, então respondo:
— Filha, não existe bicho papão.
— Existe sim papai. O bicho papão mora nas sombras…

* Relato de Tender, publicado aqui com a permissão do autor. Você pode lê-lo na íntegra acessando o site desfavor. O título foi mudado para combinar com nossa sessão.


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