SARA BONETTA FORBES, A PRINCESA AFRICANA DADA “DE
PRESENTE” PARA A RAINHA VITÓRIA
Nascida
por volta de 1843, a futura Lady Sara Forbes Bonetta, chamada primeiramente de
Aina, nasceu em Oke-Odan, uma aldeia de Egbado, do oeste africano. Em 1848,
quando Aina tinha cinco anos, sua vila foi invadida por um exército de Dahomean
– um reino africano que durou de 1660 até 1894. Acredita-se que ela fosse uma
espécie de princesa da sua vila, mas durante o ataque, Aina perdeu seus pais e
acabou na corte do rei Ghezo como uma cativa.
Também
há rumores de que Aina foi capturada para servir de sacrifício humano, mas foi
resgatada pelo capitão Frederick E. Forbes, que chegou na corte do rei africano
em 1850. Forbes conseguiu convencer o rei a dar a jovem criança de presente
para a Rainha Vitória, embora a escravatura já houvesse sido abolida na Inglaterra.
“Ela seria um presente do Rei dos negros à Rainha dos brancos”, Forbes
escreveria depois. Ele também escreveria:
“Eu só
tenho de acrescentar algumas informações sobre a minha extraordinária
‘criança-presente’ africana – uma dos cativos desta terrível caça de escravos
foi essa interessante garota. É costume reservar as crianças de melhor
nascimento para imolar os túmulos dos falecidos da nobreza e, para uma destas
atividades, ela ficou detida na corte por dois anos, provando que, uma vez que
ela não foi vendida para traficantes de escravos, que ela era de boa família”.
Ele
renomeou Aina com seu próprio sobrenome: Sara Forbes Bonetta, uma vez que
Bonetta era o nome de seu navio. A Rainha Vitória e o Príncipe Albert
receberam-na em Windsor, e pagaram por sua educação em uma escola em Freetown.
Sara se tornou proficiente em inglês rapidamente, mostrando um talento natural
para a música.
A
Rainha ficou impressionada com a inteligência excepcional da jovem princesa, e
nomeou Sara como sua afilhada. Sobre esse período, o capitão Forbes escreveu:
“Ela é
uma garota perfeita, ela agora fala inglês bem, e tem um grande talento para a
música. Ela ganhou as afeições, com poucas exceções, de todos que a conheceram.
Ela está muito à frente de qualquer criança branca de sua idade, na aptidão da
aprendizagem, força de espírito e afeto”.
Em
1851, Sara ficou gravemente doente, acredita-se que por conta do clima da
Grã-Bretanha. Ela então foi enviada para uma escola na África, quando tinha 8
anos, mas ficou muito infeliz lá e voltou para a Inglaterra em 1855, então com
12 anos.
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Rainha Vitória |
Em
1862, a Rainha Vitória conseguiu um casamento de Sara com o capitão James
Pinson Labulo Davies. Ele era africano, um comerciante-marinheiro, e era um
empresário, estadista e filantropo muito influente. Ele era 15 anos mais velho
do que Sara, mas era extremamente educado, tendo sido professor também em
Freetown. Acredita-se que Sara não quis casar com ele de início. A rainha então
enviou-a para viver com as senhoras solteironas Hannah Welch (de 77 anos) e sua
irmã Mary Welch (de 66 anos). Logo, Sara aceitou Davies como seu marido.
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James Pinson Labulo Davies e Sara Bonetta Forbes, Fotografada em Londres em 1862 |
A
festa de casamento foi em West Hill Lodge, contando com dez carruagens, com
senhoras brancas e africanas, com dezesseis damas de honra. Após o casamento, o
casal viajou para Serra Leoa. Ela deu à luz a uma filha, Victoria Davis, em
1863. Após seu nascimento, o casal mudou-se para Lagos, na Nigéria, onde duas
outras crianças nasceram: Arthur (em 1871) e Stella (em 1873).
Sara
continuou a desfrutar uma estreita ligação com a Rainha, tendo voltado para a
Inglaterra em 1867 para apresentar sua filha á Rainha, voltando para África
logo depois. Aos 37 anos, Sara contraiu tuberculose e morreu em 4 de Agosto de
1880. Seu marido, Davis, ergueu um obelisco de dois metros e meio em sua
memória.
A
filha de Sara, Vitória, também foi uma afilhada da Rainha Vitória, tendo se
casado com o médico africano John K. Randle. Eles viveram na Inglaterra e na
África, assim como sua mãe seu pai. Após a morte Sara, a rainha escreveu em seu
diário:
“Vi a
pobre Vitória Davies, minha afilhada negra, que soube hoje da morte de sua
querida mãe”.
Certamente
não podemos romancear a história de Sara – ela teve uma vida confortável, mas
um pouco infeliz, mas certamente é surpreendente dada a época em que ocorreu.
Ficou órfã tão jovem, foi dada como presente para a Rainha, criada entre
estranhos e ainda tratada em tão alta conta com uma vida de riquezas e
acessos. Infelizmente, nunca saberemos
quais eram realmente os sentimentos de Sara sobre o que sua vida se tornou.
Tirado do blog Era Vitoriana.