TOM ARAYA E AS INCOERÊNCIAS POLÍTICAS E ARTÍSTICAS
DO ROCK
É curioso
e, em muitos casos, lamentável notar como nos tempos atuais muitos fãs e
músicos de Rock têm se tornado o oposto, em comportamento e em pensamento, da
geração que deu vida a este gênero musical tão ligado a rebeldia juvenil. Pois
se o Rock se originou da cultura negra americana, influenciando músicos e a
juventude branca americana, numa clara demonstração de valorização da cultura
negra e se opondo ao racismo, hoje, bandas neonazistas usam estilos de música
derivados do Rock para defender suposta superioridade da raça branca, criando
seu próprio subgênero, chamado de NAZI BLACK METAL.
Acima, dois Músicos Negros que Ajudaram a Moldar a Forma Atual de Tocar Guitarra: Chuck Berry e Jimmy Hendrix |
Também se no seu passado o
Rock foi usado como forma de reivindicar menos repreensão militar, simbolizado
pelos cabelos longos dos roqueiros em festivais como o de Woodstock, numa
atitude claramente em oposição ao corte militar e ao militarismo da guerra
entre Estados Unidos e Vietnã, hoje, vemos roqueiros cabeludos defenderem, numa
clara atitude incoerente e contraditória, a volta do militarismo.
É claro que
ser roqueiro não impede ninguém de ser de direita ou de esquerda, conservador
ou não conservador. Mas é curioso notar como tais incoerências tornaram-se o
inverso dos ideais que fizeram do Rock um estilo de música que se contrapunha a
todas as formas de opressão.
Acima, o Guitarrista Set Teitan, da Banda de Black Metal WAITAN Durante Saudação Nazista para Foto |
E nessa
época de incoerências e contradições em relação as origens do Rock, não cabe
apenas aos novatos tais atitudes. Alguns anos atrás, o vocalista, Phil Anselmo,
da banda PANTERA, ao final de uma música, gritou “White Power”, e fez a
tradicional saudação nazista para o público, demonstrando sua simpatia pelo
nazismo, durante a edição de 2016 do Dimebash – evento beneficiente em
celebração à memória do guitarrista Dimebag Darrel, seu ex-parceiro de banda,
cuja renda do evento seria revertidos para a fundação Ronnie James Dio Stand Up
and Shout Cancer Fun, que luta contra o câncer. E por ter sido o evento uma
reunião por uma causa nobre, reuniu várias estrelas do Metal, como Dave Grohl (Foo Fighters), Robert Trujillo
(Metallica), Dave Lombardo (ex-Slayer). Ao ver as críticas que surgiram por seu ato, o
fato o levou a se retratar perante seus fãs, dizendo:
“Caramba, eu estava brincando, foi a nossa piada interna da noite – porque a gente estava bebendo vinho branco. Vocês precisam ter a casca mais grossa para algumas coisas. Sem desculpas vindas de mim”.
O
problema é que não é a primeira vez que o vocalista Phil Anselmo, manifestou
sua simpatia pelo neonazismo. Em 1994, ele se exibia com uma camisa que continha
o símbolo de uma organização neonazista, chamada Afrikaner Resistance Movement.
Reunião do Grupo Racista Afrikaner Resistance Movement |
Um ano
depois, Anselmo declarou em um palco em Montreal, que a banda PANTERA não era
uma banda racista, mas que não lhe agradava os músicos do rap, por estes
“mijarem na cultura branca”, e que “os brancos precisam ter mais orgulho de ser
quem são”.
Slayer |
Outro
que tem se destacado também por suas incoerências gritantes, é Tom Araya,
vocalista do SLAYER.
No
início de 2017, Araya postou em seu Instagram uma montagem em que Donald Trump
parecia reunido com a formação então atual do SLAYER. E quando questionado por
seus fãs, Tom Araya, deu uma explicação a lá Phil Anselmo, afirmando:
“Eu pensei que seria engraçado… Fiquei impressionado com os comentários sobre a foto – alguns positivos, alguns negativos e o mais incrível foi que em duas horas, tinham 10 mil likes… Mas nunca imaginei que teriam tantas pessoas comentando sobre suas aversões ao presidente.”
E em
mensagens posterior, além de dizer que não havia votado em Trump nem em sua
adversário, Hillary Clinton, ainda afirmou em entrevista a uma rádio chilena,
que os críticos de Donald Trump eram uns chorões:
“É nisso que os Estados Unidos se transformou. Por que eles não conseguiram as coisas do jeito deles, eles estão com raiva. Eu compartilhei uma foto que achei ser engraçada. Eles não conseguem nem encaram uma brincadeira. Não conseguem nem rir de si mesmos. Eles não conseguem nem se divertir. E é muito incrível ter chegado nesse ponto. Nós somos uma nação de bebês chorões.”
A incoerência
de Tom Araya reside no fato de que Donald Trump foi eleito com base em sua
política anti imigratória, principalmente de latino-americanos, fato que não
abalou Tom Araya mesmo pertencendo ele a uma família chilena que imigrou para
os Estados Unidos no final da década de 1960.
As
críticas originadas pela foto postada por Tom Araya, da banda SLAYER junto a
Trump, levou o guitarrista Kerry King a afirmar pelas redes sociais que a
postagem de Tom Araya foi uma escolha pessoal dele que não corresponde aos
outros membros da banda.
Mas
parece ser a incoerência uma marca da personalidade de Tom Araya, já que ela
também transparece em suas concepções religiosas e musicais. Pois em entrevistas,
o vocalista da banda Slayer tem respondido sobre sua formação religiosa, se
definido como católico, e defendendo a crença em um Deus, afirmando: “Eu
acredito em um ser supremo, sim. Mas ele é um Deus todo amoroso”. E:
"Cristo veio para ensinar o amor, para não prejudicar os outros como no
seu discurso: ...Aceite os outros como eles são. Viva em paz e ame os
demais." Frases que não parecem combinar com o líder de uma banda que tem
como título de um de seus álbuns, o título “God Hate Us All” (Deus odeia todos
nós). O que o levou, quando a pontada a incoerência, a responder: “Deus não
odeia ninguém, mas é um grande título”.
Tom
Araya também aproveitou para explicar que a principal razão para que a banda
Slayer use uma imagem satânica é de “assustar as pessoas”.
Sabemos
que desde que os membros da banda Black Sabbath passaram em frente a um cinema
que comportava uma extensa fila de pessoas loucas para assistirem um bom filme
de terror, e perceberam que há milhares de pessoas dispostas a pagar para
sentirem medo, e resolveram unir o clima sombrio das histórias dos filmes de
terror com a sonoridade do Rock’n’Roll, tornando tal mistura um grande sucesso,
que as bandas de Rock tem investido cada vez mais nesse atrativo em grande
parte teatral, mas, convenhamos, que há uma profunda diferença entre uma banda
que interpreta uma história de possessão ou as palavras de um demônio, como faz
um ator em um filme de terror, e um religioso que afirma acreditar
profundamente em um “Deus todo amoroso”, e mesmo assim usar a frase “Deus odeia
todos nós”.
E você
o que acha?
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