quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

APÓS A CHUVA DA TARDE: UM ROMANCE DE VAMPIROS PASSADO NA AMAZÔNIA


APÓS A CHUVA DA TARDE:

UM ROMANCE DE VAMPIROS PASSADO NA AMAZÔNIA

Na Ilha de Marajó, segundo a pesquisadora Dione do Socorro de Souza Leão, em seu artigo Cosmologias da Encantaria no Marajó/PA, uma antiga tradição ensina a amassar dentes de alho e jogar no rio a fim de afugentar o boto e impedir que ele entre nas casas dos ribeirinhos, em noites de lua cheia, transformado em um belo rapaz e encante as mulheres presentes. A mesma tradição também aconselha por crucifixos nas portas e jogar água benta no rio; deve-se também acrescentar a isso a crença de que botos são atraídos pelo sangue de mulheres menstruadas quando estas tomam banho de rio ou navegam em canoas, levando ribeirinhos a untar suas embarcações com óleo para prevenir que botos as farejam e virem a canoa em busca de seu objeto de desejo. 



A Inspiração para o Livro

É impossível não ver na atração do boto por sangue de mulheres férteis e nos procedimentos para afugentá-los, incríveis semelhanças com a lenda dos vampiros. Tal fato levou o autor do romance Após a Chuva da Tarde (título que alude ao nosso tradicional horário de chuva) a imaginar a vinda de vampiros europeus para a Amazônia para concertos no Theatro da Paz, convidados por Alice e Francisco Bolonha durante uma de suas viagens à Europa, em 1896, no auge do rico período da extração da borracha. O romance não tem apenas o Theatro da Paz como cenário, faz também do primeiro leprosário da Amazônia, o  Hospício dos Lázaros do Tucunduba, um importante cenário para sua história, contando um pouco de sua triste origem, de como foi um verdadeiro depósito para escravos doentes, abandonados por seus senhores à própria sorte, e de como toda uma comunidade de excluídos composto por seus descendentes se formou em tal lugar, dando origem ao bairro do Guamá. 

A Ambientação do Romance

O livro também usa os belos Palacete Bolonha e Palacete Bibi Costa como cenários, aproveitando as sombrias lendas ligadas a estes e, mais uma vez, contando suas histórias e as de seus donos; destaque maior aqui para o belo Palacete Bolonha, que por meio dos famosos saraus de Alice Bolonha é tomado pelo livro como o centro da vida intelectual e artística da sociedade belenense da época, onde se desenvolve a maior parte dos mistérios do livro. O romance descreve também a Belém do final do século XIX, descrevendo suas ruas e largos com seus nomes antigos, e até mesmo seu cheiro, como os aromas de flores e ervas nativas vindos da fábrica da perfumaria Phebo, mas, isso acontece em uma outra época, em 1934, já que o romance se divide entre o período do auge da riqueza proporcionado pela extração da borracha e a decadência desta, causado pelo contrabando de sementes de seringueiras por um inglês que tem sua história contada no livro e que ainda hoje é considerado o maior caso de biopirataria já ocorrido mundialmente.



A Trama Principal

Contendo quatro tramas que se desenvolvem paralelas, focando em diferentes estilos de escrita (fantasia, terror gótico, realismo mágico, mitos folclóricos e lendas urbanas) mas se unindo em prol da trama maior que tem na história de uma enigmática cantora lírica francesa que, ao vir para Belém, adquire fama de ser uma vampira. Sua história é contada no livro de forma indireta, ora por meio de relatos de populares, que a considera uma vampira (ou como é chamada por eles no linguajar popular: uma matinta perera), ora por meio de personagens da elite belenense que a conheceram e por matérias de jornais da época que a consideram ter sido uma grande artista, à frente de seu tempo e das convenções de sua época; uma mulher de espírito independente que lutava pelo direito ao voto feminino, em pleno século XIX, com seu comportamento livre que chocou a conservadora sociedade belenense da época, dando origem, por puro preconceito, a lenda de que ela seria uma vampira. A trama nos leva a perguntar: Quem estaria certo, então?

Um Romance Amazônico

O romance, que se define como “romance gótico amazônico”, não se utiliza dos tradicionais cenários desse tipo de narrativa --- como casas vitorianas sombrias, ou paisagens noturnas com denso nevoeiro, ou ainda antigos cemitérios infestados de corvos --- para criar o clima de tensão e suspense propício a história de terror. Em vez disso, o adapta ao nosso clima tropical e aos belos palacetes de Belém, aproveitando-se da sombria atmosfera amazônica durante a chuva da tarde para contar histórias visagentas.

O livro, além de fazer interagir vampiros com criaturas fantásticas do folclore amazônico e de lendas urbanas de Belém (matinta perera, a princesa de Mayandeua, cobra grande e Josephina Conte, a famosa Moça do Táxi) tem algumas de suas aventuras regadas a doses alucinógenas de ayahuasca em meio a rituais místicos indígenas, e não esquece também de abordar temas ecológicos e sociais que nos afligem tanto atualmente, tomando importantes personalidades da história de Belém como personagens (Antônio Lemos, Magalhães Barata, Lauro Sodré, Francisco Bolonha, Waldemar Henrique, etc.), tendo como pano de fundo acontecimentos importantes da história da nossa cidade, o que faz do livro ser, não apenas uma forma de diversão, como também uma fonte de informação para as novas gerações, tendo em obras de historiadores, transcrita em notas de rodapé, uma base segura para abordar o que ficou conhecido como a Belle Époque belenense.

O romance Após a Chuva da Tarde está sendo publicado de forma independente.

Ficha Técnica

Título: Após a Chuva da Tarde - A Lenda do Cão Fantasma do Palacete Bolonha

Autor: Bosco Chancen

Editora: Uiclap

Especificações: 284 páginas, 16x23 cm; brochura

Site de Compra: https://loja.uiclap.com/titulo/ua13930/

Para mais informações: bozco3535@gmail.com 

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