quarta-feira, 28 de agosto de 2024

ENTREVISTA COM BOSCO CHANCEN por MARLON VILHENA




ENTREVISTA COM BOSCO CHANCEN

(por Marlon Vilhena, autor de As Horas Todas da Carne)

 

Primeiro de tudo, Bosco: por que escrever literatura hoje em dia? Falo especialmente de romances de duzentas, trezentas, quatrocentas páginas, se as pessoas cada vez mais preferem textos curtos, influenciadas pelas redes sociais, que são locais virtuais, de fácil acesso e com conteúdo essencialmente efêmero. Ou, em outras palavras: qual a função de um escritor em dias pós-modernos e ultravelozes? Acho que já comecei com duas perguntas de uma só vez.

É uma boa pergunta: Por que escrever literatura hoje em dia com tão poucos leitores em nosso país (lembrando: essa entrevista também terá pouquíssimos leitores (risos)) e com pessoas com tão pouco tempo livre que preferem gastá-lo com filmes, séries, bares e redes sociais do que ler um livro?

Bem, acho que ainda vale apena, sim, escrever, independentemente de ter ou não público, porque não somente é prazeroso usar a imaginação na forma de escrita mas também porque exercitar nossa imaginação é uma necessidade quanto sonhar, que nada mais é do que criar, inconscientemente, histórias por meio da imaginação; e sonhar é uma forma de aprendizado. Além disso a imaginação ameniza as durezas da vida, ajuda a fazer descobertas, encontrar soluções para problemas, antecipa o futuro, etc. Lembro-me de uma reportagem com um prisioneiro que durante seu confinamento na solitária, teve que criar um amigo imaginário para ter com quem conversar e não enlouquecer. E sempre haverá aqueles que sentem prazer e necessidade em pôr sua imaginação para funcionar por meio da leitura, por meio de textos de 300, 500 ou até mil páginas, já que contar e ouvir histórias é uma necessidade humana desde os homens da caverna; contar histórias faz parte do ser humano, são as narrativas e a imaginação que dão sentido ao mundo, e mesmo quando se conta uma história que quer ser realista, mesmo assim há nela muito do imaginário. E a função do escritor, e dos artistas em geral, é criar narrativas, de proporcionar material para o sonhar e o imaginar das pessoas e passar adiante o registro imaginário de cada geração, senão por meio da escrita, mas por meio de mitos e lendas orais.


O Escritor Marlon Vilhena com o Livro "Após a Chuva da Tarde"

E como vai essa vida de escritor/autor? Muitos convites para palestras e feiras de livros? O reconhecimento de seu trabalho está rendendo bons frutos?

Participei de algumas entrevistas e algumas palestras para divulgar o livro, sempre de forma bastante modesta, em que eu contava fatos curiosos e obscuros sobre a história da cidade de Belém por meio de suas lendas urbanas, que tinham a finalidade de despertar o interesse pela leitura e pela história de nossa cidade. 

Quanto ao reconhecimento pela arte de escrever, minha vida de escritor tá igual aos projetos da Agência Espacial Brasileira de conquistar o espaço (risos).

Tirando Paulo Coelho, Raphael Montes, Socorro Acioli, e meia dúzia de três ou quatro autores, não há mais nenhum autor brasileiro vivo reconhecido, que viva de sua arte --- no Brasil, quase ninguém mais lê ou compra livros ---, de modo que não se tem como alimentar esperança nessa área. Acho que, brevemente, quem vender 100 livros no Brasil será considerado best seller. E as feiras de livros, que deveriam incentivar a leitura, erram porque não incentivam os autores independentes, de onde surgem os novos autores, que são prejudicados pelos descontos abusivos sobre à venda de seus livros; livros que são bancados com o próprio dinheiro dos autores; e descontos que superam o próprio lucro do autor, que fica para os vendedores e não com aqueles que criam as histórias, fazendo com que os autores não apenas não tenham lucro, mas prejuízo econômico.

Alguns escritores que estão batalhando para alcançar algum renome, alguma marca que possa ser lembrada de suas obras, talvez gostassem de alguns conselhos de um escritor que conseguiu viralizar uma personagem na internet — literalmente, além das fronteiras brasileiras, como foi o caso de sua enigmática Madame Camille Monfort. Você pode lhes dar algumas palavras de como persistir naquilo que fazem, isto é, no ofício com histórias e palavras?

Bom seria mesmo se eu soubesse a fórmula que fez o texto viralizar na internet para que eu pudesse dar uma boa dica. Mas até hoje eu não sei ao certo o que impulsionou a viralização da personagem Camille Monfort, pois o texto sobre ela, apesar de ser um resumo, era considerado grande para os padrões do facebook, onde publiquei primeiro, e cujos usuários costumam não ler “textões”. No entanto, o texto sobre ela foi bastante lido, contrariando totalmente o desinteresse pelos “textões”.

No começo queria que o vampirismo e a violência da personagem fossem mais acentuados. Mas, com o tempo, fui me afeiçoando pela personagem, conhecendo melhor sua história, sua personalidade, seu comportamento, sua grande ânsia de vida e liberdade, e também percebi que no passado era comum que artistas com talentos excepcionais ou com comportamentos fora dos padrões, fossem demonizados, basta citar o violinista Paganini que foi associado a um pacto com o diabo para explicar seu grande talento musical, e a atriz Sarah Bernard que, devido seu talento e seu comportamento extravagante para uma mulher de sua época, foi concebida como uma vampira. Então não é de surpreender que uma personagem com comportamentos tão livres para sua época quanto Camille Monfort tenha sido também demonizada; daí uma das explicações para que tenha sido chamada de vampira por seus admiradores e de matinta perera pelos populares da época. Assim tornei a personagem mais humana, o que fez com que pessoas se identificassem com sua ânsia de liberdade e vontade de quebrar os padrões de sua época, o que a fez ser castigada por meio de boatos e comentários maledicentes do povo, isso criou uma afinidade muito grande com o público feminino. Talvez esteja aí um dos motivos para sua viralização.



Por outro lado, acredito também que um dos motivos para que o texto viralizasse foi que ele captou as características fundamentais das lendas --- o romance Após a Chuva da Tarde é um livro, essencialmente, sobre lendas ---, que, como os mitos, são formas primitivas de contar histórias; talvez exista uma atração inconsciente por essas estruturas narrativas primitivas e misteriosas que mexe com a curiosidade das pessoas ainda hoje; taí outra dica. Mas, por outro lado, penso que se essa fosse a explicação certa, então bastaria alguém obedecer aos mesmos princípios para viralizar qualquer história, de forma que não me convence tanto.

Às vezes chego a pensar que há algo de sobrenatural em tal viralização, pois só assim para explicar como um “textão” causou tanto interesse em um país onde a grande maioria não lê. E há no meu romance uma força emocional muito grande, pois eu o aproveitei para homenagear familiares falecidos --- estão lá os nomes dos meus tios, tias, avô, minha mãe e meu filho ---, de modo que chego a pensar que a personagem aproveitou de toda essa energia para se manifestar e até tomar uma forma visual por meio da IA (feita pelo Philipe Kling David). O que me leva a lembrar do fenômeno que chamo de “O Fantasma na Máquina” que acontecia na década de 70, em que gravadores e televisores eram usados para manifestações espectrais de fantasmas. O que mexe ainda mais com a minha imaginação, já que, como está no livro, Camille Monfort foi inspirada em uma pessoa real que esteve ligada a uma trágica história, de modo que há muitas energias emocionais envolvidas no livro, que chego a pensar que ela se tornou uma egrégora, se alimentando de tanta energia emocional envolvido. Bem, essa explicação é apenas imaginativa, claro, pois sou bastante imaginativo (risos).

Quanto aos que escrevem, tudo que posso dizer a eles é: escreva somente pelo prazer de escrever ou por lhe trazer alguma forma de alívio, porque reconhecimento e dinheiro, dificilmente você terá.

Acredita que a literatura da Amazônia possui bons representantes do terror, do suspense e do fantástico?

Tirando o livro Visagens e Assombrações de Belém, do Walcyr Monteiro, a verdade é que eu não conheço outra obra de outro autor amazônico na área do terror, exceto alguns poucos contos que tenho lido. Mas tenho notado que temas do folclore amazônico têm inspirado trabalhos nessa área, certamente efeito da influência do seriado Cidade Invisível. O que é legal porque ajuda a diminuir nossa síndrome de vira-lata, valorizando nossa cultura em vez da cultura estrangeira. E um povo com senso de identidade cultural é menos propenso a ser explorado por culturas estrangeiras, como acontece com países que foram colonizados, como o nosso. E os gringos têm valorizado nosso folclore --- vide o filme e livro A Forma da Água, de Guillermo del Toro e o seriado Lost, ---; infelizmente o folclore brasileiro foi meio que monopolizado pela versão feita pelo Monteiro Lobato e o Sítio do Pica Pau Amarelo, que infantilizou muito nosso folclore tirando dele o elemento de terror. O que levou os que se criaram com essa versão, ao crescerem, verem no folclore brasileiro algo bobo, infantil, preferindo importar histórias de vampiros, múmias, fadas, duendes, ogros, etc. dos países do primeiro mundo, sem notarem que não precisamos importar tais criaturas, pois temos seres semelhantes e com o mesmo poder de mistério e terror.

Quais são seus autores prediletos? Imagino que um escritor sempre tem alguns cânones em sua mesa de trabalho.

Eu não tenho nenhum autor predileto. Mas se essa pergunta me fosse feita no passado eu diria: Edgar Allan Poe e Guy de Maupassant.

Agora, especificamente sobre seu romance Após a Chuva da Tarde. Pode nos contar algo do processo de criação e organização da obra? De quanto tempo você precisou para finalizar as cerca de 250 páginas de uma história ambientada nos anos finais do século XIX  e início do XX na Amazônia? Alguns contratempos? Suponho que não tenha sido fácil concatenar tantos detalhes em um enredo rico como aquele.

O romance levou sete anos para tomar a forma que tem hoje. Eu queria escrever uma história de vampiro em linguagem realista, que se passasse em nossa região, para que os leitores daqui, ao lerem, se sentissem fazendo parte da história pela familiaridade com os lugares que servem de cenário. Para tanto, pesquisei sobre a história da cidade de Belém e de seus monumentos e personalidades importantes do final do século XIX, acrescentei entidades do nosso folclore e da encantaria marajoara e também relatos contados por meus familiares.

Os Sombrios Túneis de Mangueiras de Belém

Queria criar uma história que mostrasse o quanto a cidade de Belém foi importante, progressista e rica durante o ciclo da borracha, bem mais que outras capitais do país, sem esquecer as mazelas e injustiças sociais da época, com a finalidade de diminuir o preconceito vindo do sul do país com o norte, que contamina até mesmo muitos daqui que se expressam sempre de forma depreciativa quando se referem à nossa cidade; quis mostrar que nossa cidade já teve seu momento de glória e que pode acontecer novamente; quis mostrar também que nossa cultura não é inferior a cultura estrangeira, para isso pus em pé de igualdade a lenda europeia dos vampiros e a lenda amazônica da matinta perera, mostrando que nossas lendas não devem nada às lendas europeias, e que não há do que se envergonhar de nossa influência indígena --- que é sempre usada quando querem ofender os habitantes da região norte ---, pelo contrário, o pensamento dos povos originários em relação a conservação da natureza é atualíssimo e tem muito a ensinar ao mundo, não é um uma cultura primitiva, mas sofisticada: há frutas, por exemplo, como o cupuaçu, que não existia na natureza, mas foram criadas por meio de manipulação genética usada pelos indígenas, e a lenda do guaraná já demonstrava as propriedades medicinais desse fruto, milhares de anos antes da ciência dos “civilizados” descobrirem tais propriedades e transformá-lo em bebida energética.



Creio que com a divulgação da personagem Camille Monfort consegui alcançar um pouco meus objetivos, pois ela tem levado para o mundo um pouco da nossa cultura, tem quebrado a ideia de que na Amazônia não há celular, carro, produtos industrializados, como contam brasileiros relatando as ideias absurdas que os gringos têm de nós e tem também levado pessoas a buscar conhecer a história de nossos monumentos, principalmente o Cemitério da Soledade, e por meio da história dela ficam sabendo que já em 1896 havia um grande teatro, onde óperas famosas se apresentavam em Belém, que era o grande centro de cultura da América do Sul.   

Você escreveu um romance policial com pitadas filosóficas anos atrás, o Perversões, que, aliás, possuía um título mais comprido. Mas você me disse, há não muito tempo, que está reescrevendo, não é isso? Existem outros projetos literários já iniciados ou, no mínimo, planejados por você? Alguma previsão de quando poderemos tê-los disponíveis para leitura?

O título completo era Sexo, Perversões e Assassinatos, um romance policial pornô-filosófico cuja ação acontece em meio a casas de swing, filmagens de vídeos pornô, locais de prostituição, sites pornográficos e praticantes de sadomasoquismo. Se baseava na obra do Marquês de Sade e de teses psicológicas e psiquiátricas sobre parafilia (formas de sexo que fogem do convencional) para traçar o perfil psicológico dos assassinos para desvendar os assassinatos. Mas eu acabei me interessando mais pela parte filosófica e psicológica, e o livro acabou ficando técnico e chato (risos). Mas eu estou reformulando-o e vou republicá-lo em breve.   

Já devem ter perguntado isso a você, pois muita gente gosta de saber como os escritores fazem o que fazem. Portanto, vou questionar também: como é o seu processo criativo? De onde surgem as ideias para suas histórias? Uma vez, li em algum lugar que alguns autores afirmam que as histórias estão por aí, por todos os cantos, basta sabermos contá-las do jeito certo. É assim mesmo?

Não tem nada demais, é só me interessar por determinado assunto e passo a escrever sem saber como vai terminar, apenas vou registrando o que já foi feito em cada capítulo para que eu não me perca e cometa erros de continuidade. Geralmente, é depois da primeira ou segunda versão, que eu vou tendo uma melhor ideia sobre a trama.

O que você tem em mente com relação ao seu Após a Chuva da Tarde? Teremos um prequel ou sequel da trama, ou Camille Monfort e companhia já mostraram a que vieram?

Pois é, quem sabe Camille Monfort não se manifesta novamente.

Alguém já sondou Bosco Chancen sobre venda de direitos do seu Após a Chuva... para uma versão audiovisual? Porque eu, particularmente, creio que essa história ficaria muito boa em uma tela de cinema ou editada em formato de série para TV ou plataforma de streaming.

Sim, já recebi convites para transformar a história da personagem em filme ou série. Mas a verdade é que as possibilidades são ínfimas, pois quando acontece, o autor e o livro são famosos, premiados, dificilmente isso irá acontecer com um autor independente. É mais fácil o saci cruzar as pernas e o vampiro doar sangue do que essa possibilidade se tornar real (risos).

Obrigado, Bosco. Que venham outros bons trabalhos seus.



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domingo, 25 de agosto de 2024

DANIEL MASTRAL: O HARRY POTTER BRASILEIRO (RESENHA DO LIVRO “FILHO DO FOGO”)





DANIEL MASTRAL: O HARRY POTTER BRASILEIRO (RESENHA DO LIVRO “FILHO DO FOGO”)


Uma série de fatos trágicos e curiosos têm vindo à tona após o suicídio do escritor cristão Marcelo Agostinho Ferreira, mais conhecido como Daniel Mastral, que inclui  o suicídio de seu filho de 15 anos e a suspeita dele ter provocado a morte de sua primeira esposa, e coautora de seus livros, Cynthia Rosa, mais conhecida como Isabela Mastral, por overdose de medicamento. O fato tem se cercado de inúmeras teorias da conspiração que inclui a teoria de que ele teria sido morto por membros da suposta seita satânica que ele teria sido membro. O que gerou em mim curiosidade suficiente para ler o mais famoso livro dele, intitulado: Filho do Fogo.


O livro de Daniel Mastral e Isabela Mastral, foi lançado na década de 90, contém as ideias bases de que Daniel Mastral se servia em suas palestras e em entrevistas em podcasts; narra sua entrada em uma suposta seita satânica e os ensinamentos que recebeu em tal seita.


Por meio de suas entrevistas, Daniel Mastral dá a entender que Filho do Fogo é sobre sua vida, tendo sido representado pelo personagem Eduardo.


Um Harry Potter Brasileiro

O livro conta a história de Eduardo, jovem adolescente, que se sente deslocado em sua família e sem amigos, enfrentando bullying em sua escola e bairro, até que ele conhece membros de uma gang, que o recebe bem e que passa a lhe proteger, o que o leva a fazer parte da gang, caindo no mundo do crime. Narra também seu contato com o Kung Fu e também sua entrada em uma seita satânica, seu treinamento para invocar demônios e adquirir poderes sobrenaturais.


O livro possui uma escrita fluida, competente e com um toque feminino --- dizem que Isabela Mastral, primeira esposa de Daniel, era a verdadeira autora dos livros ---; sua narrativa possui uma estrutura de história ficcional, de filme. O prólogo, “Semente do Mal”, que conta a história de uma mulher cuja relação com o marido está em crise e ela o trai com um desconhecido que a trata muito bem, que a seduz e a leva ao motel, e que se revela um homem com comportamentos estranhos e que pronuncia estranhas palavras enquanto a possui, engravidando-a; se assemelha àquelas cenas iniciais de filmes que não parecem ter nada a ver com a história principal, mas que, próximo do final, descobrimos o porquê dela. 


Filho do Fogo contém o sugestivo aviso: “Esta é uma história baseada em fatos reais. Nomes de pessoas, empresas e escolas foram modificados”, que aparece em suas primeiras páginas, um conhecido artifício de chamar atenção, muito usado em filmes. Porém todos sabemos que uma história supostamente “baseada em fatos reais” chama mais atenção do que uma história apenas fictícia, principalmente quando contém a frase “Apenas os nomes das entidades demoníacas é original”. Aí, pronto, é o auge do sensacionalismo. Contudo sabemos que muitas das histórias que se valem deste artifício, em geral, estão muito longe dos “fatos verdadeiros”, no máximo, estes foram apenas uma leve inspiração --- veja os casos: Horror em Amityville e Invocação do Mal ---, em que nada é provado. A verdade é que Filho do Fogo se assemelha muito a um livro de ficção para adolescentes, sobre sociedades secretas e escola de magia --- há até um castelo enorme e luxuoso, com direito a urso e leões empalhados nas paredes e armaduras medievais nas salas ---, uma mistura de Harry Potter com O Bebê de de Rosemary. E vale lembrar: Filho do Fogo parece seguir o modelo dos livros em forma de trilogia, que marcaram a época de 90, pois é dividido em três volumes.


O Satanismo de Filho do Fogo

Eduardo é um adolescente roqueiro que se sente atraído pelo ocultismo (coisa comum nesse meio musical), frequentando rituais de umbanda, espiritismo, etc. mas não encontra nelas algo real que realmente lhe convença, até que, casualmente, encontra uma matéria sobre a Igreja de Satã (Church of Satan), localizada em San Francisco, Estados Unidos, na biblioteca que sempre frequenta. Eduardo fica fascinado pela Igreja de Satã, passando então a se corresponder com tal instituição por meio de cartas. Um dia, na biblioteca, ele encontra um representante brasileiro de tal Igreja que vai ao seu encontro, se identificando pelo nome de Marlon.


Marlon expõe os ideias da seita, convencendo Eduardo do seu grande potencial que deve ser lapidado com as práticas e reuniões da seita.


Confesso que esperava com bastante curiosidade para saber quais seriam os ensinamentos “satânicos” da tal seita. Porém tudo que o instrutor satânico Marlon pronuncia é uma miscelânea de clichês batidos vindos da filosofia oriental, principalmente do taoísmo com seu famoso conceito de yin e yang --- um conceito que prega que o que entendemos como forças opostas, na verdade não o são, mas são partes complementares de um todo, e que o verdadeiro conhecimento deve conhecer o todo, não somente as partes, que origina apenas um conhecimento relativo. Assim, Marlon usa este conceito para relativizar os conceitos de bem e mal, de verdade e conhecimento científico. Esta parte do livro fortalece um perigoso preconceito que existe no meio evangélico, de que tudo que não é cristão é obra do Diabo; um preconceito que tende a demonizar outras culturas, e os autores do livro sabem disse, pois escreveram: “Muitas das técnicas que estávamos aprendendo tinham sido proibidas por Deus”.


O livro de Daniel Mastral possui uma grande parte em forma de diálogo, dedicada ao ensinamento dados por Marlon a Eduardo, que são extremamente artificiais, massantes, panfletário, repetitivo, permeado de clichês filosóficos, anticientíficos, sobre o que é o conhecimento verdadeiro, com frases desgastadas, como: “Existem mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia. Ou “O ser humano usa apenas 10% de seu cérebro”. Ensinamento que só cita a ciência quando é para confirmar suas comparações, nunca para contradizê-lo, que só impressionam aqueles que ignoram por completo conhecimentos básicos de filosofia e ciência; tornando risível aos mais experientes nesses campos.


E a tal seita satânica que engloba as pessoas mais poderosas e bem sucedidas do mundo só tem um objetivo: “Os filhos de Lúcifer neste mundo devem instituir um domínio completo sobre a Terra e preparar o caminho para sua vinda”. Como podemos ver nada tão diferente dos inúmeros filmes de terror em que sociedades satânicas preparam e aguardam a vinda do anticristo.


É por demais fantasioso, até mesmo para um livro de ficção, que um personagem comum, sem nenhuma qualidade ou poder extraordinário, como Eduardo, seja visto como um elemento fundamental para uma seita que engloba as pessoas mais poderosas e ricas do mundo. Parece-me que é agora que a história do início do livro, da mulher engravidada pelo homem que recitava estranhas palavras enquanto a possuía na cama de um motel, fará sentido.


O Ex-Presidente Michel Temer

O livro de Daniel Mastral, junto de seus comentários, deu início ao boato de que o membro da tal seita satânica que seria seu verdadeiro pai, seria o ex-presidente Marcelo Temer (risos), boato nunca desmentido claramente por ele, pois é uma ótima propaganda para seu livro.


A Igreja de Satã de Anton Lavey

É impressionante como uma história cheia de detalhes fantasiosos fora usado por Daniel Mastral para convencer e arrecadar seguidores, mesmo com incongruências grosseiras, como sua afirmação de que, após sua saída da seita satânica ele passou a ser um homem procurado, que estaria com a vida em perigo. E o que faz ele, em vez de sumir do mapa, ele passa a se expor o máximo possível por meio de seus livros, entrevistas em podcast, palestras em igrejas e em seus cursos pagos. Compare com alguém jurado de morte por trair alguma organização criminosa, para ver se se comportam assim. Por isso, ou é tudo fantasia de Mastral ou esta seita satânica é a mais fajuta de todas as organizações.


Outra incongruência de Daniel Mastral é a afirmação de que a seita satânica que ele fez parte é a Igreja de Satã, de Anton Lavey, criada durante a década de 50.


Anton Lavey

Basta uma pequena pesquisa na internet para perceber que a Igreja de Satã, de Lavey, nada tem a ver com o que Mastral afirma em seu livro. O seu satanismo não possui satã ou qualquer outra entidade, é mais uma filosofia, que estimula libertar seus seguidores da dura moral cristã, com sua definição de pecado, seu sentimento de culpa. Anton Lavey, seu criador, foi um artista de circo que aproveitou da liberdade do movimento hippie da época, para ganhar projeção e dinheiro com sua igreja, e usou o termo satanismo apenas como forma de chamar atenção, chocar, com seus rituais que eram apenas espetáculos, e ele como um experiente artista de circo sabia o quanto efeitos visuais são importantes em um espetáculo para atrair público.


Anton Lavey Entediado com seu Satanismo Tirado de Filmes de Terror

Conclusão 

Em suma, termino o volume I do livro Filho do Fogo com um curioso pensamento: Este livro é muito mais um panfleto de crítica ao Cristianismo, uma divulgação de crenças não-cristãs e proibidas por autoridades cristãs, do que propriamente um livro a favor do cristianismo. Então como ele fez tanto sucesso no meio evangélico?! E notando as entrevistas do falecido Daniel Mastral, hoje, também é bastante curioso que ele falasse muito mais sobre demônios e seus poderes do que de Cristo para seus devotos cristãos, e mesmo assim conseguiu tantos seguidores cristão.  

 

domingo, 18 de agosto de 2024

“APÓS A CHUVA DA TARDE — A LENDA DE CAMILLE MONFORT” (RESENHA por MARLON VILHENA)



“APÓS A CHUVA DA TARDE A LENDA DE CAMILLE MONFORT” (RESENHA por MARLON VILHENA)

Romances históricos são uma boa pedida quando nos lembramos destes tempos atuais, velozes, cada vez mais demandantes de responsabilidades e preocupações com o estado das coisas e o futuro. Romances históricos com doses de suspense e terror nos fazem percorrer uma época de outrora. E ainda aprendemos algo com acontecimentos verídicos, inseridos em uma narrativa que nos deixa presos às personagens e aos seus ambientes. Por isso afirmo que é um presente o que Bosco Chancen nos oferece com sua obra Após a Chuva da Tarde.

Há alguém nesse enredo que viralizou internet adentro no último ano: a bela e sedutora Camille Monfort. Podem procurar por ela, se já não o fizeram. Há dezenas, talvez centenas de vídeos e textos na World Wide Web, oriundos não só do Brasil, mas de outros países além-mar, falando sobre esta cantora lírica que veio para Belém do Pará, e que provocou uma breve, porém profunda comoção durante a Belle Époque da Amazônia brasileira. Seria Camille somente uma artista fenomenal e transgressora dos costumes de então, ou uma encarnação de algo obscuro e terrível — e, por que não dizer, fascinante?

Mulher jovem, envolta em mistérios, Madame Monfort conquistou inúmeros seguidores e devotos enquanto esteve na capital paraense, devotos esses considerados emblemas da alta sociedade belenense, como o famoso jornalista Paulino de Brito, o renomado escritor Inglês de Sousa, o respeitado arquiteto Francisco Bolonha e sua esposa Alice Tem-Brink, apenas para citar algumas das ilustres personalidades que cruzam as várias páginas deste grande “romance gótico amazônico” de Chancen.

Com personagens intrigantes, repleto de enigmas que remontam a séculos, costurados com múltiplas lendas locais com que nos acostumamos a ouvir e a ler desde nossa infância, Após a Chuva da Tarde é um trabalho que merece ser lido e comentado não apenas na Amazônia, mas em todos os cantos deste imenso Brasil. Bosco Chancen conseguiu unir ideias aparentemente desconectadas em uma trama quase hipnótica — seria isto um efeito de Camille e seus encantos? Bom, que tal conferir?

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sexta-feira, 9 de agosto de 2024

DANIEL MASTRAL — UM LOBO EM PELE DE CORDEIRO





DANIEL MASTRAL UM LOBO EM PELE DE CORDEIRO

Como sempre acontece, é após a morte de alguém famoso que a verdade tende a vir à tona. E com o teólogo e escritor cristão Daniel Mastral, que se matou no último domingo, não foi diferente.


Tudo indica que por trás de toda aquela história, infundada e fantasiosa, de ter feito parte de uma seita satânica e de ter se convertido ao cristianismo e da imagem de bom pai e marido, havia algo de terrível escondido na vida de Daniel Mastral, digno de um filme de terror.




Ao que tudo indica, ao lado do personagem carismático criado por ele --- um grande contador de histórias inverossímeis, bom moço e pai de família exemplar --- havia o Marcelo Agostinho Ferreira, seu nome verdadeiro, um homem frio, péssimo pai e marido.


Ultimamente veio à tona a notícia de que Daniel Mastral estava sob investigação do Tribunal de Justiça de São Paulo pela morte de sua esposa Cíntia Rosa Lotte Ferreira, que segundo laudo, teria falecido de ataque cardíaco provocado por uma overdose de remédios, administrado pelo próprio Mastral.


Página do Documento do Tribunal de Justiça de São Paulo Contra Marcelo Agostinho Ferreira (Daniel Mastral)

Cíntia, que era médica e coautora (com o nome de Isabela Mastral), de alguns livros do marido, segunda testemunha que frequentava a casa do casal, vivia sob efeito de remédios, que incluía morfina, administrados pelo próprio marido, que não era médico, mantendo a esposa dopada, enquanto ele mantinha relações extraconjugais. Os remédios eram conseguidos de forma criminosa, sem receita médica, clandestinamente. A mesma testemunha também relatou que havia uma apólice de seguro em nome de Daniel Mastral, que seria o beneficiado em caso de morte da esposa.


Daniel Mastral, Cíntia Rosa (Esposa) e Mikael (Filho)

Cíntia Rosa faleceu em 2018, três anos depois do suicídio do filho do casal, de 15 anos, que tirou a própria vida, atirando-se debaixo de um trem, por ser homossexual; não aguentou viver em um ambiente com tão falta de amor e compreensão e tão nocivo à sua condição de homoafetivo.


Daniel Mastral que para milhares de pessoas era um grande exemplo de religioso e de ser humano, um profeta dos tempos modernos com suas ideias conspiratórias, um homem santo que alertava seus seguidores do grande mal que ameaçava a humanidade, comandado por pessoas poderosas pertencentes a seitas satânicas, não suportou o peso de sua consciência e o receio de que os resultados da investigação movida pelo Tribunal Criminal de São Paulo viesse à tona, e tirou a própria vida. E os únicos demônios que existiam estavam em sua cabeça, na forma de culpa, depressão e arrependimento.


Esperemos agora para ver como seus discípulos e admiradores se comportarão perante às denúncias do tribunal de Justiça de São Paulo, contra ele. 

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

DANIEL MASTRAL: LOROTAS E A EXPLORAÇÃO DE SEU SUICÍDIO PELA INTERNET





DANIEL MASTRAL: LOROTAS E A EXPLORAÇÃO DE SEU SUICÍDIO PELA INTERNET

Basta apenas uma pequena pesquisa para descobrir toda uma infinidade de pastores com as mais absurdas alegações: um afirma que foi três vezes ao inferno; outro diz que já ressuscitou um morto estirado na pedra do IML; uma pastora afirma que o diabo a levou para o motel. E há sempre milhares e milhares de pessoas que acreditam nas mais contraditórias e absurdas afirmações sem questioná-las, desde que seja feita por um pastor.


Um deles foi o teólogo e escritor cristão Marcelo Agostinho Ferreira, mais conhecido como Daniel Mastral que, infelizmente, tirou a própria vida no último domingo.


Daniel dizia ter participado, quando jovem, de uma sociedade secreta satanista composta dos mais poderosos líderes políticos, artistas de sucesso, empresários ricos, que cultuavam satã e raptavam crianças para sacrifícos humanos e para retirar delas, após longas tortura física e psicológica, seu sangue para a fabricação do adrenocromo, substância que manteria pessoas jovens por infinitas eras.


Mastral teria se recusado a participar dos sacrifícios humanos, deixado a seita e se convertido ao cristianismo, e desde esse dia, recebido ameaças de morte pelos membros da seita por revelar segredos sobre ela.


Daniel Mastral passou a divulgar suas ideias em livros, desde a década de 90; e com sua participação em inúmeros podcast, furou a bolha evangélica, ganhando milhares e milhares de inscritos em seu canal no youtube, vendendo bastante seus livros e arrecadando inúmeros convites para palestras e milhares de participantes de seus cursos. Para muitos ele havia se tornado um profeta, um divulgador do grande poder do cristianismo de melhorar vidas. 


Mastral com a Primeira Esposa e Filho

Mas a coisa não foi bem assim, pois ele vivia uma vida trágica, com um filho que se suicidou, com 15 anos de idade, pondo a cabeça debaixo de um trem, por ser homossexual --- certamente, motivado pela pressão de viver em um meio que abomina qualquer manifestação de homoafetividade ---; mais tarde, veio a depressão da esposa e sua morte, causado pela perda trágica do filho; e, por fim, terminando com o suicídio do próprio Mastral na noite do ultimo domingo.


Infelizmente, inúmeros canais do youtube, em vez de abordar a depressão que o levou ao suicídio --- assunto de suma importância em nossos dias ---, tentam obter views criando explicações absurdas para algo claro, só para manter o mistério vivo e fazê-lo render o máximo possível para mais views. Alguns chegam, mesmo com as imagens de Mastral saindo sozinho de seu carro e indo com a arma na mão para o local onde cometeu suicídio, argumentar que ele estava sob influência de forças maléficas, esquecendo que a depressão é algo real e bastante comum, e não levaram em conta que ele já havia tentado suicídio outras vezes. E ninguém questionou o perigo de um potencial suicida ter arma em casa. Em vez disso, se prenderam às explicações absurdas.


Daniel Mastral com a Arma que lhe Tirou a Vida

Abaixo, abordamos as ideias principais defendidas por Daniel Mastral.


Tráfico de Crianças para Extração de Adrenocromo

Daniel Mastral ficou bastante conhecido por várias teorias conspiratórias, entre elas a crença na existência de um organização satânica mundial que sequestraria crianças para ser torturadas e delas ser extraído o adrenocromo, substância que serviria como uma espécie de fonte da juventude, que manteria jovens ricaços de vários países.


Mastral chegava a apontar como exemplos famosos atores e atrizes de Hollywood --- Tom Cruise, Brad Pitt e Cher ---, que se mantinham jovens apesar de suas avançadas idades --- É, Mastral não levava em conta as modernas técnicas de cirurgia plástica e outros procedimentos.


Adrenocromo, Substância que Pode Ser Obtida Sinteticamente, Sem Necessidade de Extrair de Humanos
 

O adrenocromo nada mais é do que adrenalina oxidada --- uma substância há tempos conhecida e bastante estudada, com vários estudos que não apontam nenhuma propriedade capaz  de manter pessoas jovens, ao contrário, pesquisas durante as décadas de 50 e 60, relataram que a substância seria nociva ao corpo humano, produzindo distúrbios mentais.


Não há também evidências alguma de que crianças sejam raptadas para ser torturadas e extraídas delas tal substância. No entanto, para Mastral isso era algo tão claro ao ponto dele ter afirmado, no podcast do Daniel Pires, o Lenda, que uma das causas da guerra entre Rússia e Ucrânia, foi que Putin havia descoberto que existiria laboratórios de extração de adrenocromo, que manteria dezenas de crianças prisioneiras e torturadas.


Raptos de crianças para extração de adrenocromo, tem sido visto como mais uma lenda urbana disseminada pela internet, e pelo ator Jim Caviezel que tem disseminado não apenas esta lenda, mas também a crença antisemita de que o mundo é comandado pela família de banqueiros judeus Rotsshield, responsáveis também por praticar sacrifícios de crianças pobres no mundo para extrair remédios para viverem para sempre.


Jim Caviezel tem também usado suas denúncias para justificar porque foi Hollywood não mais o chamou para novos trabalhos, após o polêmico filme A ùltima Tentação de Cristo, de Mel Gibson. Nunca lhe ocorreu que ter um ator metido com opiniões tão infundadas e polêmicas pode ser um grande problema para as produtoras de filmes.


Daniel Mastral e a Seita Satânica de Anton Lavey

Mastral afirmava ter participado e rompido com uma seita satânica e se convertido ao cristianismo, alegando estar sendo perseguido por seus membros --- ao ponto dele ter advertido, em vídeo, que se caso fosse encontrado morto, que nunca acreditassem que tivesse sido suicídio. Tal fato, como era de se esperar, chamou bastante atenção do público, principalmente evangélico, e ajudou ele a atrair para seu canal do youtube, para suas palestras e cursos, milhares de participantes. Este mesmo fato tem levado pessoas a afirmarem que ele não se matou, mas que foi assassinado.


Vamos aos fatos:


A seita satânica que ele se refere, é a Church of Satan --- uma organização criada por de Anton Lavey, um músico e artista de circo (domador de leões), que durante os anos 60 aproveitou o modismo da cultura hippie para criar sua igreja, que concebia o diabo, não da forma tradicional, mas como uma energia benéfica da natureza. Lavey escreveu sua bíblia, a Bible of Satan, composta por preceitos éticos bastante rígidos, que buscava livrar-se dos duros preceitos morais do cristianismo, ligados à ideia de pecado, para dar maior liberdade psicológica, sexual e moral para seus adeptos.


Anton Lavey, um Domador de Leões de Circo que Aproveitou a Moda Hippie dos Anos 60 para Ganhar Dinheiro Criando a Igreja de Satã; a Tal Seita Citada por Mastral

Daniel Mastral disse, no podcast do Daniel Pires, o Lenda, que com 17 anos ele se correspondeu via cartas com a Church of Satan, obtendo resposta, e que um dia em uma biblioteca em São Paulo, um homem o encontrou e confirmou se ele queria mesmo participar de seus cultos, afirmando que uma vez que ele entrasse, jamais sairia. Ele foi levado, com mais outros jovens, a uma mansão, onde obteve ensinamentos sobre a seita e medicamentos que o preveniria de pandemias, promovidas pela própria seita.


Esta afirmação não deixa de ser estranha, pois é estranho que uma pequena organização, como a Church of Satan --- e bastante decadente durante os anos 80 ---, tivesse meios e interesse em arregimentar pessoas tão distantes de sua sede, com tantas pessoas que iam até ela, e ainda tendo o interesse de o responder, mesmo Mastral escrevendo sempre em português, como foi alegado por ele.


Além disso, Daniel Mastral disse ter entrado para a organização satânica com 17 anos, e que teria sido membro por 8 anos. Ou seja, teria saído da organização com 25 anos; sofrido perseguição e ameaça de morte por revelar segredos da organização, e por fim, morto 31 anos depois. 


Trinta e um anos parece ser um período bastante longo para alguém jurado de morte, e que se expunha tanto e não tomava nenhuma precaução; o que ficou claro por meio de suas entrevistas.


Também não deixa de ser estranho que alguém tenha sido morto por uma suposta organização que se sentiu ameaçada, sem ter ele realmente dito alguma informação substancial, concreta, palpável, sobre tal organização e seus membros, recorrendo apenas a teorias conspiratórias infundadas em suas entrevistas, que nunca são levadas à sério pelas autoridades responsáveis. 


Hipótese de Suicídio

Um dos motivos que está levando muitos a argumentar que Daniel Mastral não se matou mas foi assassinado, é que dias antes do dia fatídico, ele estava cheio de planos de reatar seu perfil em redes sociais e não havia relatado nada de ruim que pudesse o levar aquele destino trágico. Mas a verdade é que isso não é motivo suficiente para não acreditar em suicídio, já que muitos suicídas camuflam seu estado psicológico, e podem ser levado a tomar tal atitudo por uma decisão de momento, por uma notícia inesperada, ou por um gatilho psicológico.


Daniel Mastral Chegando Sozinho ao Local de seu Suicídio

Soma-se a isso o suicídio de seu filho de 15 anos, em 2018, a morte da primeira esposa, fatos que ainda tinham sobre ele, influências dolorosas, apesar de sua esposa atual ter lhe dado um filho recente; soma-se a isso também o fato dele já ter tentado se matar --- o que foi dito pelo próprio em entrevistas para podcasts.


Além disso, o irmão de Daniel --- policial experiente, certamente acostumado com cenas de suicídios --- afirmou que ele se matou com a própria arma, com um único tiro na cabeça (fato comum aos suicídios por meio de arma de fogo). 


A hipótese de suicídio tem também ao seu favor, imagens de câmeras de segurança próxima ao local do suposto suicídio, que mostra Mastral saindo só de seu carro para o local em que foi encontrado morto.