By James Ensor
“...tudo no mundo perde o sentido, quando seu corpo tornar-se azul e os
seus olhos perderem o brilho.”
Pedro Don Bosco (retirado
de seu livro: Poesias Para O Final dos
Tempos, de 1904).
13 DE SETEMBRO DE 1874. Um dia que uniria duas vidas trágicas, uma fadada ao
sucesso, outra ao mais absoluto esquecimento, mas todas ligadas por uma
estranha obsessão.
Em Viena, Áustria, nasce
Arnold Schoenberg (1874 – 1951), famoso compositor, um dos responsáveis pela
moderna música erudita, com sua biografia obrigatoriamente estampada em
enciclopédias ou em livros sobre história da música. E no mesmo momento, no
Brasil, nasce Pedro Don Bosco (1874 – 1904), o obscuro poeta das amarguras, poeta
de coração e mente apenas lembrado por minha falecida avó, sua única neta.
DUAS VIDAS, UM SÓ DESTINO
SCHOENBERG
Filho de judeus,
Schoenberg desde cedo se sentiu atraído pela música. Com oito anos de idade
passou a compor suas primeiras músicas, estimulado por um tio. Foi também nessa
época que Arnold começou sentir-se atraído por um estranho fascínio pelos
números. Este fascínio acompanhou-o por toda a vida, e enquanto crescia passou
acreditar que por meio dos números era capaz de adivinhar o próprio destino.
Schoenberg acreditava que
nos números estava a chave de seu futuro, principalmente o dia de sua morte. E
como este havia nascido em um dia 13, passou a cismar que este número estava
terrivelmente ligado ao dia de sua morte. Então passou a combinar todos os
números menores de dez que somados daria 13. E assim algo lhe levou
misteriosamente a achar que morreria aos 76 (7+6=13) anos de vida.
Foi com extrema angustia
que Arnold via se aproximar a cada ano o ano que faria 76 anos. E quando o
fatídico ano chegou, Schoenberg estremeceu a cada dia treze daquele ano; porém
um lhe foi especial, e lhe encheu de horror, ao ver no calendário que o dia 13
de junho cairia numa sexta-feira. Isto lhe deixou horrorizado por vários dias;
e quando finalmente o dia começou, Schoenberg, relutou em sair da cama, queria
evitar algo imprevisto, não daria nenhuma chance para a morte. E assim passou aquelas
malditas horas. Contudo, quando faltavam poucos minutos para o término do dia,
sua mulher, que não acreditava em suas teimosias, foi-lhe avisar de seu erro;
encontrou-o ainda deitado. Arnold Schoenberg abriu os olhos, disse-lhe apenas
“harmonia” e faleceu misteriosamente em silêncio. Ao olhar para o relógio do
quarto, sua mulher verificou que era ainda 11:47, faltavam 13 minutos para a
meia-noite. E assim morreu Schoenberg no dia 13 de junho, aos 76 anos, em uma
sexta-feira 13.
FONTE: Wikipédia
PEDRO DON BOSCO
Pedro Don Bosco nasceu em
uma pequena cidade afastada de Belém, pelas mãos de uma velha parteira, como
mais tarde se referiria o poeta ao seu nascimento:
“Nasci numa noite escura, sob luz de velas, nas mãos de uma velha
parteira, de olhos abertos à procura da luz.”
E enquanto, na Europa,
Schoenberg se dedicava a suas primeiras composições, e crescia impressionado
com o poder dos números, em Belém, Pará, o poeta iniciava-se em seus primeiros
rudimentos de escrita; e com prodigioso talento já imprimia no papel belas
frases oriundas de seu “pequeno coração atormentado e aflito”.
O poeta bem sabia de seu
destino: nascera com o estranho desejo de luz e conhecimento. E assim como
Schoenberg, crescia-lhe também o sentimento trágico da vida. Sua mãe havia
morrido ao dar-lhe a luz, o que lhe causava um imenso sentimento de culpa.
Culpa que lhe acompanharia por toda vida e que aumentaria quando este, ainda
jovem, foi imprevistamente substituído, na última hora, por um amigo em uma
viagem de navio, que lhe causou enorme angústia quando soube que o navio
naufragara e que todos haviam morrido, incluído tão amado amigo. Havia naquilo
algo de misterioso, que o poeta tentava a todo custo desvendar: era como se duas
pessoas houvessem morrido para que o poeta se mantivesse vivo e compusesse suas
tristes odes; que se alimentavam de cada lágrima caída. Pedro Don Bosco era
poeta por maldição, bem sabia ele.
Numa noite, após
casar-se, o poeta, acompanhado de sua querida esposa, havia ido a um
maravilhoso baile. Os casais dançavam, rodopiavam, alegremente, pelo enorme
salão, iluminado por um imenso lustre de prata. E ao término de mais uma série
de músicas, um homem subiu ao palco, anunciou uma nova atração, madame Fifi, a
maravilhosa vidente, vinda diretamente de Paris. Todos enfileiraram-se para terem
suas mãos lidas por tão famosa vidente. Porém, Bosco se mantinha impassível, não
acreditava em tais tolices. E após todos terem suas mãos lidas, o poeta foi
estimulado pelos amigos a por suas crenças à prova, foi levado então por
aqueles a estender sua mão à vidente. Ela tomou-a entre as mãos; olhou
atenciosamente suas linhas, e com certo espanto no rosto disse-lhe, firmemente:
“Devolverás o que não lhe pertence. E com
água devolverás a vida”. Aquelas palavras afetaram-lhe grandemente, e fez-lhe
vir à mente memórias indesejadas: pensou então em sua mãe e em seu amigo, e nas
vidas que havia roubado destes, antes que assustado puxasse sua mão à força.
Sua mulher não compreendeu tão brusco ato, e disse-lhe em tom de gracejo:
“sabia que és no fundo um supersticioso, Pedro Don?”.
Durante anos a voz da
vidente se repetiria em sua mente: “Devolverás
o que não lhe pertence. E com água devolverás a vida”. Tanto que durante
meses havia tido pesadelos com tal frase, finalizados com terríveis naufrágios.
Temendo que o sonho
torna-se realidade, e por fim acabasse afogado, evitou a todo custo rios e
mares. E como sua mãe havia lhe dado a vida em um dia treze, imaginou também
que em um dia treze perderia a vida. Porém um dia foi avisado que sua mulher
havia entrado em trabalho de parto e que precisava com urgência de um médico. Desorientado,
buscou um, e foi lhe indicado partir a barco. Ao que relutou. E após mandar o
médico a barco, partiu de volta à cavalo. Cavalgou durante horas a fio, sob a
mais espessa chuva, tendo apenas como companhia o cavalo, nem mesmo a lua e as
estrelas serviam-lhe de companhia. Porém ao amanhecer ainda não havia chegado.
Passaram as horas até que finalmente seu corpo foi encontrado, caído, de bruços,
com o rosto sobre uma poça d’água que havia se formado sob as patas do cavalo.
O poeta havia incrivelmente morrido afogado em tão pequeno lago, no dia 13 de
maio de 1904. Deixando maravilhosas páginas amareladas pelo tempo.
Duas vidas dedicadas a
arte e a uma terrível obsessão ao número 13.
Dedicado à memória de minha tataravó Catarina Don Bosco, que
também nasceu de olhos abertos, naquela fatídica noite, à espreita da luz, mas
isso é outra história...
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