No dia
24 de maio, o então ator pornô Eric Clinton Kirk Newman, conhecido pelo nome
artístico de Luka Rocco Magnotta, matou e esquartejou seu
amante, um estudante chinês em
Montreal, Canadá. O assassinato, bem como o esquartejamento, foi filmado e
publicado na internet pelo próprio assassino. Nele podemos ver Magnotta cortando
o cadáver, sodomizando o corpo mutilado, enfiando o gargalo de uma garrafa no
ânus do mesmo, e até mesmo pondo um filhote de cão para lamber os ferimentos do
corpo. Magnotta chega ao cúmulo de, munido de garfo e faca, cortar uma pequena
parte das nádegas e, com a ajuda do garfo, supostamente comê-lo. Magnotta ainda
enviou pelo correio partes do corpo para uma escola e um partido político no
Canadá.
No
mesmo mês de maio, Elize Matsunaga matou e esquartejou seu marido, o empresário
Marcos Matsunaga, após uma discussão conjugal por conta
de uma infidelidade que teria sido descoberta por ela. Elize despachou o corpo
dividindo-o em três malas. Exames posteriores indicaram que Elize decapitou o
marido enquanto este ainda estava vivo.
Em
Barcarena, município do estado do Pará, a adolescente Daiane do Carmo Macedo,
de 14 anos, foi encontrada seminua, em avançado estado de decomposição,
amarrada em uma árvore, morta à terçadadas por seu padrasto e por um vizinho.
Supõe-se que o crime tenha sido incentivado por motivos sexuais.
Ao ouvirmos comentários sobre casos de extrema violência como
estes é comum que logo surja alguém (jornalistas, policiais ou populares) que -
motivado pelo crescente movimento de patologização de criminosos, estimulado
nos últimos anos, certamente, pela enorme popularidade de filmes policiais, que
popularizaram a figura do serial killer
(e consequentemente a do psicopata), e por uma imprensa que se dedica muito
mais a julgar (na maioria das vezes de modo errado) do que ao seu papel
fundamental, que é informar - tente explicar tamanha maldade recorrendo a ideia
de doença ou distúrbios mentais, como psicopatia ou pedofilia, antes mesmo que
especialistas se pronunciem sobre o tema; como se, pela gravidade dos casos, somente
tivessem esta forma de explicação. Assim, ao ouvirmos o caso de Elize Matsunaga,
é comum que ouçamos logo um “só pode ser uma doente psicopata para ser tão má”.
Ou se um homem estupra uma criança é logo taxado de pedófilo, como se a extrema
maldade só pudesse ser explicada por meio de distúrbios mentais.
O que acontece é que ao vermos casos extremos de violência
temos dificuldade em aceitar que possa existir a maldade pela maldade, que um
ser humano possa ser capaz de ato tão vil, optando por ser mau, e assim
recorremos a explicações exteriores a vontade humana como forma de explicação.
Porém, ouso dizer-lhes, independente das possíveis explicações para cada caso
em si, claro: A EXTREMA MALDADE EXISTE INDEPENDENTE DE QUALQUER IDEIA DE DOENÇA.
O SER HUMANO NORMAL É PERFEITAMENTE CAPAZ DAS PIORES ATROCIDADES. E vou além: não
apenas a imediata associação entre doença mental e maldade é apressada e
superficial, quanto sem sentido. Isto não quer dizer que um doente mental não
possa prejudicar uma pessoa, muitos fazem, mas sim que ele não pode ser taxado
de mau, pois o conceito de maldade é incompatível com o conceito de doença
mental, já que exige capacidades que um doente mental não as possui, pelo menos
no ponto mais alto de sua doença, como:
1º. PLENO CONHECIMENTO DE SEUS ATOS: Para que possamos
denominar alguém de “mau” torna-se necessário que este alguém tenha pleno
conhecimento de seus atos e de sua maldade. Em outras palavras, que tenha pleno
conhecimento de estar fazendo mal a alguém. Por isso não se pode chamar de
maldade os atos violentos que por ventura um doente mental possa causar durante
um surto de loucura, ou danos físicos ou psicológicos causados não
intencionalmente a outro.
2º. LIBERDADE DE ESCOLHA: A pessoa para quem possamos chamar
de “mau” tem que ser capaz de se decidir entre a bondade e a maldade, já que
não podemos culpar alguém que fez o mal por falta de opção. Por isso, também
não se pode chamar de mau a alguém que cometeu um ato mau forçadamente ou por
ignorância; que não teve a liberdade de optar entre os valores de bondade e
maldade, para que sua maldade possa ter sido intencional. Como o caso de alguém
que usou de violência para manter-se vivo.
E finalmente:
3º. VALORES MORAIS: O conceito de maldade exige que a pessoa
denominada de “mau”, seja portadora de sentimentos humanitários, haja visto que
optamos entre a maldade e a bondade com base em tais sentimentos.
Por isso apenas o ser humano pode ser considerado mau: outro
animal quando mata, esquarteja, devora outro de sua espécie não faz por opção,
mas pelo poder irresistível de seus instintos; e isto apenas em último caso:
quando coagido pela fome ou pela continuidade de sua descendência. Mas no homem
isto pode ser uma questão de opção, isto é, um homem pode preferir estuprar
e/ou matar crianças pelo simples fato de serem mais indefesas do que adultos,
ou mais fáceis de serem ludibriadas. O que explica porque nunca vemos serial
killers de lutadores de vale-tudo, por exemplo.
Em suma, o conceito
de maldade é um conceito filosófico e jurídico, NÃO PSIQUIÁTRICO, que serve
para definir tanto a culpabilidade de alguém quanto atos criminosos, como o
assassinato; e quando seus pré-requisitos não podem ser aplicados a alguém,
este alguém é tido pela lei como inimputável, isto é, é incapaz de ser
responsável por seus atos. O que pode abrir um precedente perigoso nesses
tempos em que todo comportamento que fuja da ética, da moral ou dos chamados
“bons costumes” é imediatamente associado a uma doença, levando muitos
criminosos a se aproveitarem disso. E sendo um conceito mal interpretado causa
tanto erros populares - que vê as doenças e distúrbios mentais como as únicas
explicações para tanta maldade, não deixando perceber que alguém pode ser mau
simplesmente por querer ser mau, por tirar vantagem disso, por ser um grande
escroto filho-da-puta - quanto erros de especialistas, como o da psiquiatra Ana
Beatriz Barbosa, que em seu livro Mentes
Perigosas – o perigo mora ao lado, chega, erroneamente, a denominar a psicopatia
como “doença da maldade”.
Seria ela mais uma partidária da patologização desenfreada da
maldade ou estaria na verdade se aproveitando disso, com a crescente venda de
seu livro?
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