by Sam Haskins |
(UM CONTO AO MODO DO MARQUÊS DE SADE)
O rico e libertino Senhor de Mirvel,
como a maioria dos homens, se orgulhava muitíssimo de sua virilidade, de sua
imensa pica e de gozar feito um cavalo. Gabava-se também de ter passado noites
inteiras fornicando com dezenas de mulheres, nos lugares mais inacreditáveis
possíveis: estábulos, cemitérios, asilos, hospitais, hospícios e, claro,
igrejas. Havia nisso, certamente, um gosto pelo perigo; e para ele, o perigo e
o diferente, eram poderosos afrodisíacos.
Dizia-se ter fornicado com todos os
tipos de mulheres, todas as formas modelares de vaginas e bundas. Porém, de
todas as mulheres, uma parecia não ligar para seus encantos. Era a bela lésbica
Juliette, que se trajava feito um homem.
Juliette era uma mulher de espírito
independente, incapaz de trair seus desejos por valores sórdidos, econômicos ou
mesquinhos. O que, certamente, mais o provocava, pois mesmo sua imensa riqueza
não tinha nenhum poder sobre ela.
Com o passar do tempo, Juliette,
tornou-se uma espécie de desafio, não apenas para ele, mas também para outros
homens, o que, certamente, mais os excitavam ao vê-la passar pelas estreitas
ruas de Paris; onde muitos homens ao ver sua beleza feminina sob trajes
masculinos, ao passar, comentavam, com a mão em seus órgãos genitais, que isso
se devia ao fato desta nunca ter sido penetrada por uma verdadeira pica, como as
que estes supostamente possuíam; e entre eles estava o Sr. de Mirvel, que
duvidava de tanta feminilidade, pois imaginava-a como um homem com um rosto e
corpo femininos, que possuiria um pequeníssimo membro, como aqueles homens
afeminados, que ele tanto odiava, que abundavam nos bordéis da cidade.
Curioso para saber como era o corpo de
tal moça, seguiu-a inúmeras vezes, pelas redondezas que cercavam a cidade, em
busca de um momento propício para desvendar tal mistério; porém, sem nunca
conseguir. Até que, casualmente, ao passar de cavalo à beira de um rio, em meio
a densas folhagens de árvores que abundavam em tal lugar, avistou, o que para
ele era a mulher com o corpo mais belo que tinha visto, com as mais belas
pernas, cintura, bunda e vagina que jamais havia visto em outra mulher. E esta
ao virar, percebeu, então, ele, que era Juliette, despida de toda sua indumentária
masculina.
Isto foi o bastante para que sua
simples curiosidade tornar-se em obsessão. E, imediatamente, pôs-se a
arquitetar um plano, para usufruir de tão belo corpo. Contratou, então, três
homens para agarrá-la, encapuzá-la e despi-la, enquanto o poderoso Senhor de
Mirvel pode-se estuprá-la.
Contudo, quando tudo estava pronto, com
os homens prontos a agarrá-la, em mais um banho na doce água do rio, eis que
nosso personagem, motivado por pensamentos que não devem ser tão constantes em
víboras como estas, que inundam a humanidade com maldades sem fim, desiste de
pensamentos tão atrozes; surpreendendo seus homens com socos e pontapés,
expulsando-os aos gritos do lugar.
Sem sabermos se isto deveu-se a
pensamentos premeditados ou a uma explosão de ira por ato de justiça
momentânea, que o teria atacado, o certo é que Juliette agradeceu aquele que
supostamente a teria salvo de tão humilhante ato, com abraços com seu corpo
ainda nu. E ao apalpá-la e sentir seus seios nus sobre seu corpo, Mirvel pôde
sentir o corpo que tanto desejava de um modo que jamais havia obtido com outra
mulher: com sinceridade, carinho e gratidão. O que o fez mudar imediatamente
seus interesses para com ela. Mirvel passou a olhá-la com outros olhos, não
mais apenas com os olhos do desejo, mas com um misto de sentimentos que jamais
havia sentido, não apenas por uma mulher, mas por qualquer outro ser: Mirvel
passou a amá-la.
Juliette, por seu lado, passou também a
tratá-lo de modo diferente, não mais com a indiferença de antes, mas com a
gratidão de quem lhe devesse algo.
Mirvel passou a tentar ajudá-la, não
apenas de forma econômica, que Juliette rejeitava, mas também de forma moral,
defendendo-a perante aos que a criticavam; tanto, que muitos passaram a
desconfiar de tão repentina demonstração de carinho; correndo o boato que
Mirvel estava a amá-la.
Juliette, como prova de carinho,
retribuiu-lhe os favores que tanto se acumulavam, entregando-se como amante,
como alguém que lhe paga uma dívida.
Mirvel passou a não ser mais o mesmo,
deixou de freqüentar os bordéis da cidade; de se encontrar com mulheres em seus
encontros notívagos em seu quarto, ou nos cantos mais inconvenientes possíveis,
que ele tanto se orgulhava.
Boatos se alastraram pela cidade, sobre
sua nova amante; ao mesmo tempo que estranhos pensamentos passaram
atormentá-lo: duvidou de sua própria masculinidade, pois o que o teria atraído
em Juliette: sua impetuosa personalidade, ou sua imagem em trajes masculinos?
Questões que se juntaram à impossibilidade de Juliette torna-se uma verdadeira
amante, pois esta sempre lhe veria como um homem.
E disposto a resolver isso tudo, num
ato súbito, apanhou um facão e pôs-se a mutilar-se, cortando seu pênis sob um
terrível ataque de fúria; e, como um Van Gogh castrado, ofertou-o a sua amante...
E desde esse dia passaram a viver
juntos, ela sob suas costumeiras roupas masculinas, e ele confortavelmente em
seus belos trajes femininos.
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