Neste
décimo capítulo do livro “Sexo,
Perversões & Assassinatos”, o investigador Moreira, ao reencontrar-se
com a ex-prostituta Neusa, que se auto-denomina como sendo uma “sexogenária”, aproveita
o encontro para lhe perguntar sobre hábitos estranhos de seus clientes. Neusa
conta-lhe as histórias mais escabrosas vividas por uma velha prostituta.
SEXO E TAPETES
Às dez horas da noite, Moreira
estaciona seu barulhento carro, um Maverick preto, 1979, próximo ao conjunto de
boates que contornam a orla da cidade. Desce do carro e aprecia a multidão
ávida por divertimentos noturnos. E como toda cidade turística, esta não era
exceção à regra: possuía uma vida noturna agitada, com divertimentos para todos
os gostos, incluindo, claro, os ilegais: sete dias por semana.
A multidão se aglomerava em pequenos
grupos, ao redor de mesas de bar ou de luxuosos carros, que ostentavam o poder
de compra de seus proprietários. Parecia que a noite mexia com suas paixões,
com seus desejos. Era como se, à noite, todos fossem suspeitos. A ilegalidade
parecia ganhar certo glamour, e dar
sentido ao adágio: “à noite, todos os gatos são pardos”.
Moreira dirigiu-se então para um bar,
de onde poderia ver quase todo o movimento de bares e boates. Um bar que
parecia ser frequentado por quem queria mais um pouco de sossego.
Pergunta a um garçom por Neusa. O
garçom lhe informa que ela está em uma mesa à beira da praia. Dirige-se ao seu
encontro.
- Oi! Como vai minha bela
“sexogenária”?
- Como a natureza quer: às vezes bem,
às vezes nem tanto, mas vivendo... Favor, sente-se. E você, meu querido, como
vai?
- Dedicado ao trabalho.
- E a investigação, rendeu-lhe frutos?
- Foi apenas alarme falso.
- Não lhe disse, meu querido? O
francês parece ser apenas um cliente qualquer, como tantos outros.
- E como se comporta a maioria dos
fregueses, Neusa?
- Bem, pelo menos no meu tempo, eram
pessoas solitárias e tímidas, ou homens que iam em busca do que suas mulheres
não lhes ofereciam em casa. Alguns já estavam cansados da mesma mulher, do
mesmo relacionamento sexual. E ainda havia aqueles que simplesmente viam na
prostituta um meio de conseguir o que queriam, sem o trabalho da conquista, ou
do trabalho de livrarem-se delas, quando se cansavam destas. Sabe, há também
não apenas preconceito às prostitutas, mas também aos homens que procuram elas.
Muitos acham que quem procura uma prostituta é incapaz de seduzir uma mulher.
Mas não é bem assim: às vezes os homens querem apenas sexo, sem compromisso
algum. Não é mesmo?
- Sim. Mas, tirando esses, havia
coisas muito incomuns, com relação aos desejos, relação sexual, a essas coisas
assim?
- Ah! Sempre têm, né?
- Como?
- Ora, desejos estranhos!
- De que tipo?
- Ah, Ivan, sinto-me com vergonha de
contar.
- Mas Neusa, eu ficaria extremamente
grato se você me relatasse. Iria ajudar muito nas minhas investigações.
- Bem, sendo assim... – disse Neusa,
antes de virar toda a bebida de seu copo, goela abaixo, a fim de tomar coragem.
- Alguns clientes tinham uns desejos esquisitos. E eram sempre os que pagavam
além da conta. Tinha um, por exemplo, que sempre me chamava para que eu ficasse
nua, exceto com relação ao calçado. Ele me pedia para calçar dezenas de pares
de calçados, que ele guardava na casa dele. Ele morava sozinho, sabe. E toda
vez que eu ia lá tinha novos pares de calçados; de todos os tipos e cores, mas
sempre calçados de couro. Pois bem... ele se deitava no chão, sobre o tapete, e
me pedia para desfilar ao seu lado, com os pares de sapatos que tinha me dado.
Depois pedia pra que eu pisasse sobre ele, sobre o rosto e o peito dele. E ele
ficava lá, lambendo os sapatos nos meus pés. Às vezes até mesmo me pedia para
pisar no negócio dele; lá... tu sabe onde! – relatou Neusa, gargalhando e
cutucando Moreira no braço, com o cotovelo.
- Mas era só isso? Não havia algo
mais... Não havia sexo?
- Ás vezes, mas era muito raro. E
quando acontecia eu estava sempre de bota.
- Estranho!... E esse homem, perdeste
logo contato com ele?
- Durou apenas um ano. Deve ter
morrido ou viajado. Pois, depois desse tempo, ele nunca mais me procurou.
- E era sempre com você?
- Claro, meu bem, um programa fácil
assim, a gente agarra com as unhas. E eu jurei a ele total segredo; apenas pras
amigas mais íntimas eu contava – disse Neusa esboçando um leve sorriso.
Houve uma pequena pausa para que a
mesa fosse novamente abastecida com bebidas.
- Sim, Neusa, conte-me mais –
disse-lhe, Moreira, após a retirada do garçom.
- Bem, tem histórias engraçadas, como
essa, assim como as nojentas e tristes. E também as violentas, que uma
prostituta tem que passar... Depois ainda dizem que é a profissão mais fácil do
mundo!
- É, é uma pena!
- Essa quem me contou foi uma amiga:
Ela estava aperreada pela falta de
grana. Então, um cafetão chamou ela, e disse que um de seus melhores clientes
estava precisando de uma menina que topasse coisas diferentes. Ela perguntou
então o que seria. Ele, pra sacanear, lhe disse que o cliente pagava muito bem,
e que apenas queria que ela jogasse sobre ele, e na vagina dela, manteiga de
amendoim para que os dois lambessem.
- Ahã – murmurou Moreira, enquanto
levava o copo com bebida à boca.
- Quando ela chegou de táxi à casa do
sujeito, viu que não era mentira, o cara morava em um palacete, decorado com
mobílias caras e quadros na parede, com molduras pesadas de metal, decoradas
com relevos que lembravam muito ouro, assinados por alguém que só podiam ser os
artistas verdadeiros. Não se aproximavam nem um pouco daquelas cópias de
quadros que vendem nas feiras; então, pensou ela, o sujeito devia pagar muito
bem, pois o que não parecia faltar, ali, era dinheiro.
- Sim. Continue.
- Um cara, então, veio recebê-la e
levou ela ao seu patrão, um sujeito educado, que tratou ela como uma verdadeira
dama. Ele pagou antecipado, uma bolada e tanto de dinheiro. Ela quando viu o
dinheiro, pensou que faria de tudo pra agradar aquele sujeito e assim
conquistar sua confiança, e, também, mais dinheiro com novos programas.
Aceitaria então qualquer coisa que ele quisesse: ménage à trois; vibrador nela, ou nele; dedos e lambidinhas na
bundinha dele, etc. Manteiga de amendoim na xereca pareceu a ela fichinha a
partir do momento em que a grana reluziu em seus olhos.
E após Neusa tomar mais um gole de
bebida, continuou a narrativa:
- Após os dois ficarem nus, veio a
surpresa, o sujeito queria que ela se ajoelhasse para que ela mijasse nele, em
seu rosto e boca, enquanto ele estava deitado sobre o tapete. Ela estranhou o
pedido, mas não viu nenhum problema nisso, afinal de contas era a boca dele e o
pagamento compensava, por isso, ela pouco se importava. Porém, depois de seu
desejo ser realizado, ele imediatamente quis o contrário. Ela relutou, afinal
de contas a boca, agora, era a dela. Ele disse, então, que dobraria o
pagamento, caso ela permitisse. E assim foi, com ela permitindo imediatamente.
- Caramba! – pronunciou Moreira
admirado.
- E a coisa não parou por aí, não, meu
amigo.
- Não?!
- Não. Passaram pra excrementos!
- Que nojo! – exclamou Moreira, após
interromper o gole de sua bebida.
- Mas de todas as histórias que
aconteceram comigo, e mesmo das que tenha apenas ouvido de amigas, esta parece
ser a mais estranha e triste:
Um homem convidou-me para sua mesa, em
um bar como este, de esquina. Ofereceu-me bebida e pôs-se a comentar sobre sua
esposa, que parecia ser bastante querida. Contou-me sobre todos seus anos de
vida, vividos em sua companhia. Porém, havia algo de estranho no que dizia.
Contou-me, finalmente, o que eu já suspeitava, que ele soube recentemente que
ela o havia traído, e que, no entanto, ele jamais a havia, em todos esses anos
de matrimônio, traído. O ódio havia invadido aquela boca, agora. Disse-me,
então, que finalmente, como vingança, a trairia. E que me pagaria para que
juntos fôssemos ter em sua casa, sobre a cama de casal que ele havia tanto
prezado, mas que ela havia maculado. Eu aceitei, bem que ela merecia, assim
pensei naquele dia. Ao chegar em sua casa, fomos logo para a cama. O homem
transava e chorava; e quanto mais transava, mais chorava ainda. E balbuciava o
nome dela. Convidou-me para que saíssemos daquela cama. Eu o compreendi
imediatamente, o seu arrependimento, naquele instante. Fomos para o chão, ao
lado de um tapete enrolado, e lá ficamos transando... Em um dado momento, ele
pôs-se a gritar o nome dela: “Eunice... Eunice... Eunice”, e chorava. Olhou
para o tapete, e disse: “Tá vendo? É isso que tu merece”. Eu não compreendia
nada do que se passava naquele momento. Talvez o tapete fosse presente de
casamento e que, por isso, causasse lembranças dela. Foi o que pensei na hora.
Só sei que parecia que o homem endoidara. Mas, alguns dias depois, veio a
surpresa. Ao ler o jornal li a matéria, espantada:
CRIME
DO TAPETE: homem mata esposa a facadas e a esconde enrolando-a
no tapete de casa.
- E lá estava a foto dele, e do
tapete. Ele havia matado a esposa, e no outro dia se entregado à polícia –
disse Neusa.
- Nossa, que história! Parece que me
lembro do ocorrido; já faz alguns bons anos, não?
- Ah! Já!... Já se vão alguns bons
anos, sim... Pois é, meu filho, por tudo isso uma prostituta passa. Imagine, eu
estava ao lado de um cadáver, e não sabia. Que coisa horrível eu ter feito
aquilo, estando o cadáver ao lado! Não é mesmo?
Para
ler os primeiros capítulos de SEXO, PERVERSÕES & ASSASSINATO, acesse:https://clubedeautores.com.br/book/130007--SEXO_PERVERSOES__ASSASSINATOS
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