Um
carro em alta velocidade invade a pista contrária. Sua lataria torna-se lâminas cortantes, ao chocar-se com outro carro que surge em direção oposta,
decapitando os passageiros do carro da pista de direção contrária. O motorista
e o passageiro do carro invasor, após capotar várias vezes, têm suas cabeças
esmagadas e suas vísceras expostas, sob esguichos de sangue...
Embora esta cena choque
algumas pessoas, a verdade é que muitas se sentiriam atraídas por uma
curiosidade mórbida a ver os corpos mutilados expostos em via pública,
servindo-as ao mesmo tempo como motivo de curiosidade e diversão. E quem já não
presenciou tal cena, pelo menos uma vez na vida: aquele monte de pessoas,
curiosas, ao redor de um cadáver, ou de um moribundo agonizando em plena via
pública?
A obsessão pela morte, não parece ser apenas
um atributo dos transeuntes, curiosos, a espreitar tais cenas, podemos vê-la
disseminada pela internet, através dos milhares de sites e blogs dedicados a
mostrar, com toda a dedicação, cadáveres esmagados, eletrificados, decapitados,
esquartejados, esfolados, congelados, embalsamados, necropsiados, cozinhados,
queimados, em decomposição, devorados por animais, afogados, estripados, etc...
etc... etc..., enfim, tudo aquilo que possa agradar, saciar, e até divertir, a
curiosidade mórbida daqueles que incansavelmente visitam tais páginas. E isso
vem de longa data:
Desenho Representando o Necrotério de Paris no Séc. XIX |
Na
Paris do séc. XIX, era comum pessoas convidarem outras para juntas visitarem o
necrotério público, enquanto passeavam pela cidade. Pessoas se exprimiam para
observarem por meio de pequenas portinholas corpos de indigentes, ou anônimos,
expostos ao público. As visitas iam da manhã à noite.
O
necrotério servia também para matar a curiosidade daqueles que liam os jornais,
pois como nessa época não havia jornais com fotos, o público ia até ele para
observar os mortos de crimes famosos. E quando o cadáver era exposto de um
crime desses, o público aumentava consideravelmente. O referido necrotério foi
construído em 1864, atrás da catedral de Notredame, e funcionava sete dias por
semana.
Blogs
como o ISSO É BIZARRO, continuam com a mesma tradição, (pasmem!) têm em média
12 mil acessos diários, com farto material sobre o assunto. Chegando mesmo a
rivalizar com sites e blogs dedicados a pornografia. Ou seja, para muitos a
morte tem o mesmo, e, em muitos casos, até mais interesse que o sexo, que é
algo que a grande maioria procura por puro prazer. Então, não se pode negar que
para muitos a morte, e suas cenas relacionadas, despertam um grande prazer em
tais pessoas. Aliás, a relação entre prazer, dor e morte, não é novidade alguma,
ela está presente em grande parte em assassinos, e estupradores, como os Serial
Killers.
MARQUÊS DE SADE: O
PODER É AFRODISÍACO
E
foi um dos temas preferidos do escritor francês Marquês de Sade, que tinha
grande predileção ao ato de provocar dor e humilhação aos outros, e a si mesmo.
Seu nome originou o termo Sadismo, que é justamente o nome dado ao prazer
obtido pelo ato tão querido por Sade durante suas orgias sexuais. Para Sade o
Sadismo seria algo natural no homem, tão natural quanto rir e respirar, algo
tão instintivo quanto o sexo. E que deveria ser liberado, já que tolhido viria
com mais força, provocando um maior efeito. Talvez, aí esteja a explicação para
a indústria cinematográfica, dedicada ao grande público interessado por cenas
chocantes, de saciar a irresistível sede de tal público, por cenas cada vez
mais chocantes de mortes, ter crescido tanto.
VIDEOS NASTYS E SNUFF
MOVIES
Acima um Exemplo de Vídeos Nastys, o Filme AFTERMATH, que Conta A História do Amor de um Médico Legista por um Cadáver de Mulher |
Os
veículos de informação e entretenimento, como o cinema e a internet, passaram
cada vez mais a tentar saciar a sádica curiosidade humana pela morte. Então,
quando os filmes costumeiros de horror e assassinatos, pareciam não serem mais
suficientes, eis que surgem nos anos 2000, os chamados Vídeos Nastys, que
traziam como grande atração cenas de assassinatos, estupros, tortura e dor, nos
seus mínimos detalhes, com bastante realismo. Estes filmes mostram coisas como
estupro de recém-nascidos, relações sexuais com cadáveres, no pior estado
possível dos mesmos, etc. E quando tudo parecia ter chegado ao limite, eis que
surge a idéia de gravar vídeos com cenas reais de assassinatos, da forma mais
brutal possível. Os chamados Filmes Snuff, são filmes propositadamente feitos
para serem vendidos a um público extremamente sádico, e capaz de pagar grandes
quantias de dinheiro para poderem obter uma de suas tão procuradas cópias.
Um dos Ucraniânos com a Arma do Crime |
Querendo,
então, abastecer este grande público, carente e ansioso, por cenas extremas de
violência, três ucranianos passam a cometerem assassinatos, da forma mais fria
e cruel possível. À eles não importava o sexo nem a idade de sua vítimas,
apenas que estas lhes proporcionasse a mais pura cena de extrema violência. Ao
todo foram feitos 20 filmes de assassinatos reais, porém antes que pudessem
vender os filmes, os assassinos foram pegos pela polícia ucraniana. Porém um
desses filmes chegou a vazar pela internet. Nele um homem tem a cabeça
desfigurada à marteladas.
E
não me surpreenderia, em saber, que mais filmes desse tipo existem pela
internet ou em arquivos caseiros.
O METAL DA MORTE
Seguindo
outras formas de artes, como o vídeo e o cinema, alguns seguimentos da música
passaram a cultuar também a morte; tendo mesmo um deles adotado o termo morte
como um de seus títulos: o Death Metal (Metal da Morte em inglês) é um bom
exemplo disso, como também o Black Metal. Para os que não a conhece vamos as
suas origens.
Nascido
da música Heavy Metal, ritmo que representa um seguimento do Rock, surgido no
final dos anos 70, com ritmo vigoroso, com postura teatral, com letras fortes,
versando sobre batalhas, ou ocultismo, o Death Metal e o Black Metal exageraram
ainda mais tudo isso, acrescentando vocais guturais e letras versando sobre
violência, paganismo, satanismo, e, claro, morte, principalmente através do
Corpse Paint (pintura de cadáver) usada por músicos Black Metal. Tanto que,
caveiras, corpos em decomposição, assassinos, etc., viraram tão comuns em suas
capas de discos, camisas, nome de bandas e músicas, quanto doce em festa de
criança. E não é tão incomum que temas, como a morte e o suicídio, extrapolem
da música para a própria vida de seus músicos. Por isso, uma questão se impõem:
haveria na música Black e Death Metal, assim como no vídeo e no cinema de
horror, traços sádicos em sua origem que possibilitasse a passagem da ficção à
realidade. Isto é, da passagem de temas de letras de músicas para a vida de
músicos e fãs, como pensam mesmo alguns religiosos?
DEAD E EURONYMOUS: UM
CASO ESCLARECEDOR
Um
dos casos bastante conhecidos, por envolver músicos com queimas de igrejas,
assassinato e suicídio, foi o que se sucedeu nas frias e extremamente
civilizadas terras da Noruega, com uma então promissora banda de Black Metal:
MAYHEM.
O
MAYHEM foi a mais conhecida banda do chamado INNER CIRCLE, um grupo formado por
músicos noruegueses de Black Metal, com o intuito de fazer propaganda contrária
as religiões cristãs. Porém, o grupo foi muito além do plano intelectual e
musical, ganhando ares de movimento terrorista, queimando algumas dezenas de
igrejas. Ao todo foram queimadas cerca de cem igrejas, algumas bem antigas.
O
então vocalista Dead da banda MAYHEM, na verdade Per Yngve Ohlin, era um rapaz
estranho, que cultuava a morte. E que tentava ao máximo vivenciar as letras
fúnebres e mórbidas das músicas que cantavam. Era descrito por seus parceiros
como alguém solitário e melancólico, que estava sempre trancado no quarto, que
não se alimentava para poder sentir a dor da fome, e que usava camisetas com
anúncios fúnebres. Que gostava de usar corpse paint (pintura imitando cadáver),
mesmo em dias que não eram de shows. Foi mesmo um dos primeiros a usá-la. Dead
(Morto em inglês) gostava também de enterrar suas roupas, antes dos shows, para
que ficassem pútridas com insetos e vermes, como a carne de um cadáver
putrefato. Nos shows, gostava de auto-flagelar-se, e antes das músicas, gostava
de aspirar o cheiro de um pássaro morto que guardava em um saco plástico. O
cheiro da morte o inspirava. Tanto que foi ao extremo de conhecê-la
pessoalmente...
acima Capa do Disco do Mayhen The Dawn of The Black Hearts (Madrugada dos Corações Negros). Ostentando, sob efeito de fotografia, o Corpo Desfacelado de Dead |
Em
um dia de abril de 1991, Euronymous, o então líder da banda norueguesa de Black
Metal MAYHEM, ao retornar à casa de ensaios, se depara com uma cena chocante,
Dead, o antigo vocalista da banda, havia se suicidado, cortado os pulsos e dado
um tiro na boca, com uma espingarda. A metade de seu crânio havia sido
estilhaçado, expondo parte de seu cérebro. O qual, após o tiro, havia
escorregado para o chão, ao lado do cadáver, que continuava, parcialmente,
apoiado à uma parede. A faca e a arma continuavam ao seu lado, bem como um
irônico bilhete, que dizia: “Desculpe pelo sangue”, além da afirmação de que
sua alma pertencia aos bosques nórdicos, para onde sempre quis ir. Como relembraria,
posteriormente, seu antigo colega de banda, Euronymous:
"Nós não temos
mais vocalista! Dead se matou a duas semanas! Foi realmente brutal, primeiro
ele cortou os pulsos e então ele estourou os miolos com um rifle. Eu o
encontrei e ele estava horrível pra caralho, a metade superior de sua cabeça
estava por todos os lados do quarto, e a parte inferior do cérebro escorreu
pelo resto da cabeça e caiu na cama. Eu, claro, peguei minha câmera
imediatamente e tirei algumas fotos, nós vamos usá-las no próximo LP do Mayhem.
Eu e o Hellhammer tivemos sorte, porque encontramos dois grandes pedaços de seu
crânio e então fizemos colares como lembrança. Dead se matou porque ele vivia
somente para o verdadeiro black metal. Quer dizer, roupas pretas, espetos,
etc... [...] Eu tenho que admitir que foi interessante examinar um cérebro
humano em "rigor mortis".
Dead
gravou três discos com a banda MAYHEM, "Live in Leipzig", o único
oficial com a banda, "A Tribute to the Black Emperors", que contem
gravações com o MAYHEM, e com a antiga banda dele, MORBID. E o "Dawn of
the Black Hearts", famoso não tanto pela música, mas pela capa, que traz o
seu corpo morto com seu crânio esfacelado. Idéia de seu “sentimental” amigo
Euronymous que, após o ocorrido, declarou: "Quando
Dead explodiu seus miolos, este foi o maior ato de promoção que ele fez para
nós. É sempre fenomenal quando alguém morre, não importa quem. Se você pensa
que nós somos idiotas emocionais com sentimentos humanos, você está
errado!"
Euronymous
(Príncipe da Morte), ou mais precisamente Øystein Aarseth, seu nome verdadeiro,
teria, anos depois, um trágico fim. Seria morto, após dezenas de facadas, com
uma fatal em seu cérebro, por Varg Virkenes, um ex-membro de sua banda Mayhem, e
o principal acusado de queimar igrejas na Noruega.
Euronymous
era outro obcecado pela idéia da morte, como fica bem demonstrado em sua
atitude ao encontrar o corpo do ex-amigo Dead, e em seus comentários sobre o
ocorrido. Sua alma fria e insensível explorou a morte do amigo como forma de
chamar atenção para sua banda, embora alguns contestem o que foi dito. Para
estes, sua atitude insensível com relação a morte de seu ex-amigo, fora apenas
uma reação natural de proteção à morte:
“Um dos
fatores que mais pesam contra Euronymous foi a sua atitude com relação à morte
de Dead. Mas será que ele realmente foi tão frio, indiferente, perverso ou
mesmo oportunista como foi julgado? Talvez as pesquisas de Elisabeth
Kübler-Ross sobre a ‘Morte’ esclareçam a maneira que Euronymous tratou a morte
prematura de Dead. Com base em várias pesquisas de campo com pessoas sobre a
morte, a Dra. Kübler-Ross identificou cinco estágios em que as pessoas tratam o
sofrimento perante a morte, a saber: 1º) negação e isolamento, 2º) raiva, 3º)
barganha, 4º) depressão, 5º) aceitação.
Segundo a teoria da
Dra. Kübler-Ross, depois do choque inicial causado pela perda de um ente
querido, o estágio seguinte é frequentemente uma negação. Num estágio de
negação as pessoas optam pela má-fé, fingindo que nada aconteceu, mantendo-se
no auto-engano. A etapa seguinte é geralmente um acesso repentino de raiva que
ocorre numa explosão de emoção, onde os sentimentos ocultados – do estágio
precedente – são expulsos em uma manifestação enorme de sofrimento. A frase
‘por que eu?’ é repetida inúmeras vezes na consciência. Parte desta raiva é
igualmente ‘por que não você?’, descarregando sua raiva naqueles que não são
afetados.
Na carta de Euronymous,
a que ele fala sobre a morte de Dead os jovens modistas do Metal são esses que
não são afetados. Assim como Necro Butcher (‘o baixista sentimental’) que (ao contrário
de Euronymous) pôde encarar a morte de Dead e assistir ao seu funeral. Como o
próprio Necro Butcher sugere no documentário ‘Once Upon a Time in Norway’ e em
algumas entrevistas, a distribuição/exibição das fotografias do corpo mutilado
de Dead é um ato pleno de raiva, uma maneira de atingir a todos pela morte de
Dead. Portanto, podemos interpretar que a recusa convenientemente (e
aparentemente) insensível de Euronymous para assistir ao funeral de Dead foi um
sintoma de negação e de raiva.
A frieza estética e a
brutalidade de ‘De Mysteriis Dom Sathanas’, o álbum do MAYHEM, foi uma
expressão enigmática da raiva por causa do suicídio de Dead. Podemos concluir
que ele representa uma espécie de lamento.”
Seja
como for, se a frieza e a insensibilidade de Euronymous, perante a morte do
amigo, pode ser explicada como uma forma de proteção, a sua extrema curiosidade
com relação a morte, jamais poderá ser negada.
VIDA, MORTE E MÚSICA
METAL: OS PRÓS E CONTRAS
Pelo
o que foi visto, a curiosidade pela morte não é exclusiva da cultura da música
METAL, pois está tão presente em um transeunte, que observa um acidente
motobilístico com mortos, quanto os milhares de freqüentadores dos milhares de
sites que ostentam corpos humanos mutilados. O que parece ser, em parte, uma
curiosidade natural. Pois como presenciar este fenômeno tão misterioso, e tão
presente ao nosso dia-a-dia, que é a morte, se não observarmos a morte no outro?
É claro que nisso há os seus limites. Se blogs e sites como o ISSO É BIZARRO é
capaz de rivalizar com sites dedicados ao sexo, é sinal que a morte é tão
rentável quanto o sexo. O que causa certa banalização da morte, fenômeno que é
visto também na pornografia com relação ao sexo. E o que motivou, por sua vez,
como foi visto, a criação dos chamados FILMES SNUFF. E como bem observou o
Marquês de Sade, o Sadismo, pelo menos até certo grau, parece ser inato no
homem, e que pode ser estimulado, principalmente em personalidades distorcidas
e précondicionadas à isso, como parece terem sido as personalidades de Dead e
Euronymous. Suas vidas parecem atestar que, quando a dor, e o medo, parece não
ser mais um limite, nos aproximamos cada vez mais da morte, não apenas de modo
físico; quando se privilegia mais a morte que a vida; quando a idolatramos em
demasia, como tudo na vida, torna-se uma obcessão, algo doentio, que poderá nos
carretar conseqüências terríveis.
Porém,
há algo positivo nisso, como vemos nas artes, e na música METAL.
A
idéia da morte é tratada na música METAL, e em muitas outras culturas
underground, como de fato deve ser vista, não como uma apologia à morte, como
uma idolatria desta, mas como algo que, eventualmente, faz parte da vida, do
nosso dia-a-dia, embora não queiramos saber disso, e a todo custo procuramos a
fastá-la de nossos pensamentos. É um modo de torná-la comum e natural e nos
acostumarmos a ela. E quando a arte, e os interessados nesta, deixam de aborda
morte de modo simbólico e indireto, é o primeiro sinal que há algo de errado
nela.
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