— Tem um cabelo na minha
sopa, querida!
— É mesmo!... E é meu, amor.
Só um minutinho, já vou tirá-lo.
— Não, não precisa, não quero mais tomá-la.
— Por quê?
— Ora, por causa do
cabelo.
— Mas não é você quem diz
que meus cabelos são tão belos e sedosos; que fica toda hora elogiando-os e
beijando-os, e agora está com nojo deles?!
— Sim, seus cabelos são
belos e sedosos, querida, mas quando estão em sua cabeça não em meu prato de
sopa, meu amor. Quero agora dois ovos fritos, por favor.
— Que tal com uma
salsicha no meio?
— Isso não é motivo para
pôr minha masculinidade em dúvida, querida.
— Sim, mas você sabe de
onde vem os ovos, não sabe?
— Sim, claro, e qual é o
problema?
— Então Valdomiro você
sente mais nojo dos meus cabelos do que de dois ovos que saem daquele lugar tão
imundo da galinha!
— Amor, as coisas são
diferentes: do ovo eu como somente o conteúdo não a casca, e é ela que
entra em contato com aquela parte tão imunda da galinha, não é mesmo?
Neste momento a mulher
chora. O marido se levanta da mesa e diz a mulher:
— Gislene não acredito
que estás com ciúmes de uma galinha!
Acariciando os cabelos da
mulher, o marido lhe explica:
— Não é nada de mais
amor, acontece que quando encontramos algo que não pertence a comida
estranhamos, seja um inseto ou um fio de cabelo.
— Sim, mas não tente
comparar um inseto com o fio de cabelo de alguém que lhe é tão conhecido, como
o cabelo de sua esposa, tá?
— Sei disso meu amor, mas
até mesmo com quem amamos acontece isso. É como se estivéssemos na intimidade com
alguém e sem esperar alguém soltasse um pum, isso nos desconcerta.
— Não é o que acontece
quando fazemos sexo oral, querido. Você sempre me pede para me depilar, mas
você...
— Tome os dois ovos que
você pediu, é apenas o que você terá de mim por meses. Vou agora para a casa de
minha mãe.
— Tá bom, tá bom, mas dá
para botar pelo menos aquela salsicha que você prometeu antes.
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