APOTEMNOFILIA: O DESEJO IRRESISTÍVEL DE CORTAR PARTES DO PRÓPRIO CORPO
John entrou na pequena
oficina de carpintaria que havia montado em sua casa, como hobby para os dias
de domingo. Pôs a perna esquerda sobre a mesa de serrar madeira, ligou a
máquina, e esperou que a lâmina se aproximasse e começasse a cortar sua perna
na altura do joelho. Após a lâmina terminar de cortar o osso e a última camada
de pele, John sorriu feliz da vida enquanto tentava estancar o sangue, pois
havia finalmente realizado um grande sonho: agora ele podia usar muletas.
Já a americana Jewel
Shuping, com ajuda de um psicólogo — que ela se recusa a dizer o nome — aplicou
soda cáustica nos olhos, e aguardou 30 minutos para procurar ajuda médica.
Resultado: Jewel Shuping ficou cega.
O que essas pessoas têm
em comum é um estranho distúrbio psicológico chamado Apotemnofilia, que é um transtorno
de identidade de integridade corporal, que faz com que a pessoa rejeite uma
determinada parte do corpo ou tenha o desejo de se tornar deficiente.
Por isso é comum em tais
casos que cultuem o desejo de si tornarem deficientes desde criança. Jewel
Shuping nos conta que com 4 anos já gostava de brincar de experimentar estar
cega quando caminhava sozinha no corredor escuro de sua casa:
"Aos 6, eu lembro de
pensar que ser cega me deixaria confortável" — disse ela.
Mais tarde, na
adolescência, Shuping adquiriu uma bengala branca e, aos 20, aprendeu a ler
Braille fluentemente. Pouco tempo depois, realizou o sonho de perder a visão.
"Eu fiquei tão
feliz, senti que era assim que deveria ter nascido", contou.
Inicialmente, a americana
disse à família ter sofrido um acidente, mas ao descobrirem a verdade, sua irmã
e mãe cortaram relações.
Pessoas com Apotemnofilia
são capazes de se jogarem na frente de trens para perderem as pernas ou de
penhascos para ficarem paralíticas.
No documentário WHOLE, o
diretor Melody Gilbert conta uma série de histórias de pessoas saudáveis
fisicamente que desejaram perder parte de seus corpos por puro
prazer. Há a história de um indivíduo que ao ver alguém pela primeira com a
perna amputada quando tinha 4 anos, chegou aos sete anos desejando ser assim
também. E aos 50, finalmente, tomou coragem e colocou a perna numa bacia com
gelo seco por horas até danificá-la por completo. E assim pode convencer um
cirurgião a amputá-la. Ao ver o resultado, exclamou contente: “Todos os meus
tormentos acabam de desaparecer.”
Há vários casos, em que
desde armas de fogo potentes foram usadas para provocar a amputação de pernas,
passando por pessoas que se dedicaram a fabricar guilhotinas caseiras e serras
elétricas para amputar pernas e braços, como também o caso de um homem que
preferiu perder a esposa do que continuar com as duas pernas.
A Apotemnofilia está
ligada também ao prazer sexual, ao desejo sexual por pessoas amputadas. E se
você pensa que o desejo de desfigurar o corpo é algo que acontece apenas com
quem sofre de sérios distúrbios mentais, Bernard Wolfe já dizia que a cultura
humana está impregnado por tal fetiche:
“O Homem tem descoberto
maneiras engenhosas de se desfigurar e se ferir. Amarrando os pés, esticando os
beiços com batoques, perfurando narinas e bochechas e orelhas, lixando os
dentes, amarrando o crânio até deixá-lo em forma de pirâmide, circuncidando-se,
castrando-se para virar menino-de-coro ou eunuco-de-harém, cortando dedos e
artelhos e cabelos em rituais de dor, ferrando em brasa e tatuando a própria
pele, apertando o abdômen com espartilhos, empanturrando-se até a senilidade,
envenenando-se com nicotina e álcool e outras drogas; e as Amazonas, decididas
a aderir à auto-flagelação (igualdade de direitos, sempre!) cortam o seio para
poder manejar o arco. Um frenesi incessante de decepação do próprio corpo. O
ser humano, independente de outras coisas que possa ser, é com certeza um
animal que se auto-mutila. Num certo sentido, um amputado voluntário.”
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