Poucas ideias tem um
efeito tão contrário ao que se deseja quanto a ideia do proibido. Pois, o ser
humano parece ter um verdadeiro fascínio a tudo que é proibido: proíba um filme
e ele será muito mais visto; proíba uma música e ela será muito mais ouvida; proíba
um livro, uma comida, uma droga e eles serão muito mais lidos, comidos e
consumidos etc. Em suma, proibir parece estimular ainda mais a curiosidade do
que é proibido. E quando se proibi o que é natural no homem, o que não pode ser
extinguido, como a sexualidade, então nem se fala... Ela ressurge de forma mais
forte ou de forma sublimada ou, pior, distorcida.
E nenhuma atividade
humana tem proibido tanto a sexualidade quanto a religião: dos padres e freiras
celibatários, passando pela ideia do sexo tolerado somente como meio de
procriação, à violência da Inquisição, que condenava à morte, da forma mais
cruel e vexatória possível, aquele que praticasse formas de sexo não permitidas
pela igreja.
Trata-se da Santa Teresa
d’Ávila (1515 - 1582), feita pelo escultor italiano Bernini (1598 - 1680), que
retrata o momento em que a santa, em êxtase religioso, recebe a visitação de um
anjo; nos diz ela:
“Vi na sua mão uma
comprida lança de ouro, em cuja ponta de ferro havia um pequeno fogo. Ele
parecia enfiá-la de vez em quando no meu coração, até perfurar minhas
entranhas; e quando a puxava para fora arrastava tudo consigo, e me deixava em
chamas, com um grande amor por Deus. A dor era tão grande que me fazia gemer; e
no entanto era tão extraordinária a doçura dessa dor excessiva que eu não
queria que ela parasse”.
Ela retrata o detalhe do
rosto de uma freira de um quadro do pintor alemão Heinrich Lossow, datado de
1880.
O leitor, certamente, irá
notar certa semelhança entre estas duas imagens: ambas descrevem o êxtase
através da expressão dos rostos de seus personagens. Porém, numa visão geral do
quadro de Lossow, vemos o quanto tais obras são divergentes:
Mas seriam mesmo tão
divergentes assim?
Sem dúvida alguma, há no
quadro de Heinrich Lossow tanto erotismo quanto no relato da santa, que se
assemelha de certa forma a uma relação sexual:
“Vi na sua mão uma
comprida lança de ouro, em cuja ponta de ferro havia um pequeno fogo. Ele
parecia enfiá-la de vez em quando no meu coração, até perfurar minhas
entranhas; e quando a puxava para fora arrastava tudo consigo, e me deixava em
chamas, com um grande amor por Deus. A dor era tão grande que me fazia gemer; e
no entanto era tão extraordinária a doçura dessa dor excessiva que eu não
queria que ela parasse”.
É quase que a descrição
do gozo feminino. Seria uma sublimação do desejo do sexo?
Bernini soube muito bem
descrever isso em imagem, não de modo tão direto quanto do diretor de cinema
Nigel Wingrove no filme Visions of Ecstasy, que durante 19 minutos mostra as
fantasias da santa espanhola Teresa d’Ávila com o Jesus crucificado. Em uma
sequência de imagens, ela se contorce e acaricia o corpo de Jesus, que não
reage. Em uma cena, a santa faz expressão de gozo.
E diferentemente da obra
do escultor italiano, o filme foi proibido durante 24 anos pela censura
britânica, sendo liberado apenas em 2012.
Abaixo, cenas do filme:
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