CATALEPSIA:
DOENÇA QUE PODE LEVAR PESSOAS A SEREM ENTERRADAS VIVAS
O
maior medo do ser humano, desde tempos imemoriais, tem sido a morte. Porém,
infelizmente, para o homem, esse medo pode sempre ser agravado; uma das formas
que tem perturbado o homem é o medo de ser enterrado vivo.
Edgar Allan Poe |
O
escritor americano Edgar Allan Poe tinha verdadeira fixação pelo tema de ser
sepultado vivo, e por sua variante, ser emparedado vivo, usando-os em muitos de
seus contos. E ninguém mais do que ele expressou tão bem este medo:
“Ser
enterrado vivo é, fora de qualquer dúvida, o mais terrível dos extremos que já
couberam a sorte de um mortal. Que isso haja acontecido frequentemente, e bem
frequentemente, não pode ser negado. Os limites que separam a vida da morte
são, quando muito, sombrios e vagos. Quem poderá dizer onde uma acaba e a outra
começa? Sabemos que há doença em que ocorre total cessação de todas as
aparentes funções de vitalidade, mas, de fato, essas cessações são meras
suspensões, propriamente ditas. Não passam de pausa temporárias no incompreensível
mecanismo”.
O
escritor americano chega a contar uma história surpreendente em seu conto
“Enterro Prematuro”:
“A
esposa de um dos mais respeitáveis cidadãos, advogado eminente e membro do
congresso, foi atacada de súbita e estranha moléstia que zombou completamente
do saber de seus médicos. Depois de muitos sofrimentos veio a falecer ou
supôs-se que houvesse falecido. Ninguém suspeitava, na verdade, nem tinha razão
de suspeitar, que ela não tivesse realmente morta. Apresentava todos os sinais
habituais de morte. O rosto tomara o usual contorno cadavérico. Os lábios
tinham a habitual palidez marmórea. Os olhos estavam sem brilho. Não havia
calor. A pulsação cessara. Durante três dias o corpo foi conservado insepulto,
adquirindo então uma rigidez de pedra. Afinal, o enterro foi apressado, por
causa do rápido avanço do que se supunha ser a decomposição”.
“A
mulher fora depositada no jazigo da família, que não fora aberto nos três anos
subsequentes. Ao expirar esse prazo, abriram-no para receber um caixão; mas,
ai!, que pavoroso choque esperava o marido que abrira em pessoa a porta. Ao se escancararem os
portais, certo objeto branco caiu-lhe ruidosamente nos braços. Era o esqueleto
de sua mulher, ainda com a mortalha intacta”.
“Cuidadosa
investigação tornou evidente que ela recuperara a vida dois dias depois de seu
enterramento; que sua luta dentro do ataúde fizera-o cair de uma saliência ou
prateleira, no chão, onde se quebrara, permitindo-lhe escapar. Uma lâmpada que
fora, deixada cheia de óleo dentro do jazigo foi encontrada vazia; contudo,
poderia ter sido esgotada pela evaporação. No alto dos degraus que levavam à
câmara mortuária, havia um grande fragmento do caixão, com o qual, parecia,
tinha ela tentado chamar a atenção batendo na porta de ferro. Enquanto assim
fazia, provavelmente desfaleceu ou possivelmente morreu tomada de terror ao
cair, sua mortalha ficou presa a algum pedaço de ferro no interior. E assim ela
permaneceu e assim apodreceu erecta”.
A
descrição a qual se refere o escritor é a do sepultamento involuntário, que não
raramente tem se confirmado por meio de ranhuras em tampas de caixões, ou pelo
cadáver estar de bruços, fatos reconhecidos em exumações. E uma das causas que
tem originado tais fatos é a CATALEPSIA.
CATALEPSIA
A
catalepsia patológica é uma doença rara em que os membros se tornam rígidos, se
confundindo com o rigor mortis, enrijecimento natural em cadáveres, sem
contrações, embora os músculos se apresentem mais ou menos rijos, e a pessoa é
capaz de ficar por um longo período consciente, porém imóvel. O que, no
passado, originava a ideia de que pessoas supostamente mortas quando revivida,
era visto como milagre ou fruto de magia.
Um
caso assustador recente de catalepsia foi o caso do pequeno Kelvin, que durante
seu velório, na ilha de Cotijuba, ilha próxima da cidade de Belém (PA), acordou,
e após se sentar em seu pequeno caixão, pediu água, provocando enorme susto em
quem estava presente. Porém, infelizmente, a criança, voltou a ficar
inconsciente e a falecer após este evento.
O
caso mais famoso de catalepsia em nosso país envolve um ex ator da Globo da
década de 60, Sérgio Cardoso, falecido devido a um ataque cardíaco em 1972.
Sérgio Cardoso |
Um
boato dizia que a família de Sérgio Cardoso havia pedido a exumação do cadáver
do ator, e quando seu caixão foi aberto seus familiares perceberam com horror
que seu corpo estava de bruços e com arranhões de unhas na face. Este boato
ficou bastante popular em nosso país provocando medo em familiares de pessoas
mortas por ataque cardíaco.
A
afirmação de que Sérgio sofria de catalepsia chegou a ser confirmado por um
amigo, Manoel Olegário da Costa, durante um programa da Globo, que também
afirmou que devido a isso o ator possuía enorme pavor de ser enterrado vivo.
Contudo, no mesmo programa a esposa de Sérgio, a atriz Nydia Licia, afirmou
desconhecer Manoel Olegário da Costa, aproveitando também para desfazer tal
boato afirmando que tudo começou quando “Uma pessoa que ninguém conhece
procurou um jornal de Manaus, dizendo que Sérgio havia sido enterrado vivo e
que a família teria pedido exumação do cadáver. Imediatamente a notícia correu
o Brasil inteiro”. E por fim garantiu de que o cadáver nunca fora exumado. “Sérgio
faleceu no dia 18 de agosto de 1972 e ponto final. Ninguém tem dúvida, nem os
médicos, nem a família. O resto do público eu espero que não tenha mais”, disse
ela.
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