O
COLECIONADOR DE CABEÇAS
SEU
CORPO AO CAIR DO CADAFALSO, pendurado pela corda que lhe enforcava, se debatia,
pairando no ar. Suas pernas se contorciam, agitando-se desesperadamente, como
se dançassem uma dança frenética, uma última dança, a dança da morte.
E
enquanto seus olhos se arregalavam e sua língua se estendia em direção ao chão,
com a rapidez de um raio, pôde recordar do grande mal que havia feito...
Seu
nome: Hans Brünner, médico alemão, cuja fama teria levado a alguns a afirmarem
que este era a prova de que Deus não existia, ou pior, que era tão mal quanto
seu anjo maldito.
Brünner
era um dos médicos encarregado, naqueles dias, de pesquisar modos de aliviar e
reanimar soldados alemães feridos em combate, na segunda grande guerra. E como
Menguele, o anjo da morte, poucos foram tão implacáveis com seus prisioneiros.
Para tanto, dissecava corpos de prisioneiros ainda vivos, submetidos a câmaras
de baixa pressão. Muitos tiveram o cérebro dissecado enquanto estavam vivos. E
após ver as bolhas de ar que se formavam no sangue dos cérebros de suas “cobaias”,
Hans Brünner exclamava: "Sou, sem dúvida, o único que conhece por completo
a fisiologia humana, porque faço experiências em homens e não em ratos".
Brünner “injetou tinta azul em olhos de crianças, uniu as veias de gêmeos,
jogou pessoas em caldeirões de água fervente, amputou membros de prisioneiros,
dissecou anões vivos e coletou milhares de órgãos em seu laboratório”, tudo em
nome da superioridade da raça alemã.
Brünner
tinha verdadeiro amor por sua coleção de cabeças decepadas, que sempre
conseguia novas comandando o programa que exterminava doentes mentais, ou como
preferia chamá-los: “vida indigna de viver”. E entre as muitas cabeças de sua
coleção uma lhe era preferida: a pequena cabeça de uma criança de cinco anos,
deformada pelos horrores da segunda grande guerra.
Sua
mãe a todo custo tinha lhe dado a vida, mesmo após uma terrível intoxicação por
gás venenoso, lembrança terrível da primeira grande guerra. E a mantivera
protegida do frio, do pânico e da fome. Em algumas ocasiões chegou alimentá-la,
devido a escassez de seu leite, com seu próprio sangue, que escorria de sua
mama ferida, de tanta a filha sugar. Tinha jurado jamais abandoná-la, mesmo sob
todas as diversidades da vida ou da morte. E por essas coincidências
inexplicáveis da vida, que a todo custo tentamos explicar, sua cabeça, do outro
lado do corredor, olhava a cabeça da filha, docemente, com um leve sorriso nos
lábios, em meio a centenas de outras cabeças decepadas.
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