quinta-feira, 10 de outubro de 2019

O QUE NINGUÉM TE CONTA SOBRE O CÍRIO DE NAZARÉ

O QUE NINGUÉM TE CONTA SOBRE O CÍRIO DE NAZARÉ 
O Círio de Nazaré é uma manifestação religiosa que acontece todo ano, no segundo domingo de outubro, na cidade de Belém (PA). É considerada a maior manifestação religiosa do cristianismo, e uma das maiores manifestações religiosas do mundo, capaz de reunir, aproximadamente, 2 milhões de devotos, que se reúnem para cultuar Maria e pagar promessas. Seu nome, Círio, vem da palavra latina “Cereus”, que significa vela grande, devido, em suas origens, ao contrário da forma atual, ser realizado à noite, justificando o uso de velas.

A Lenda do Círio de Nazaré


Reza a lenda que, em 1700, Plácido, um caboclo descendente de portugueses e de índios, andava pelas imediações do igarapé Murutucu (área correspondente, hoje, aos fundos da Basílica de Nazaré) quando encontrou uma pequena estátua de Nossa Senhora de Nazaré. A imagem, réplica de outra que se encontrava em Portugal, entalhada em madeira (com aproximadamente 28 cm de altura), encontrava-se entre pedras lodosas e bastante deteriorada.

Plácido levou a imagem consigo para casa, onde, tendo-a limpado, improvisou um altar. De acordo com a tradição local, a imagem retornou inexplicavelmente ao lugar do achado por diversas vezes até que, interpretando o fato como um sinal divino, o caboclo decidiu erguer às próprias custas uma pequena capela no local, como sinal de devoção.

A divulgação do milagre da imagem santa atraiu a atenção dos habitantes da região, que passaram a frequentar à capela, para render-lhe culto. O que também  chamou a atenção do então governador da Capitania, Francisco da Silva Coutinho, tendo este determinado a remoção da imagem para a Capela do Palácio da Cidade. Contudo, mesmo mantida sob a vigilância da guarda do Palácio, a imagem novamente desapareceu, para ressurgir na pequena capela. 
Este fato teria, supostamente, dado origem a construção a Basílica de Nazaré, em 1909, e ao culto oficial à imagem de Nossa Senhora de Nazaré.

Mas, se a explicação acima, tão cheia de mistérios e possibilidades de falseamento, não lhe convenceu, temos uma explicação mais simples e histórica para lhe dar.

Imperador Constantino e o Culto a Maria


O Círio de Nazaré faz parte das festividades do culto a Maria, celebrado em todos os países católicos. Festividade que foi criada pela igreja católica com a finalidade de prestar homenagem àquela que é considerada mãe de Jesus. Foi oficializado pela igreja a partir do séc. V, no Concílio de Éfeso, em 431. “O próprio conselho foi realizado em uma igreja que havia sido dedicada a Maria cerca de cem anos antes”.

O que chama atenção ao culto à Maria é: como pode um personagem que lhe foi dado tão pouco espaço nos textos bíblicos (nos evangélicos Maria profere apenas sete frases - limitação, em parte, totalmente explicável devido ao extremo machismo da religião cristã, bastante claro nas palavras de Paulo de Tarso: "Como em todas as comunidades de fiéis, que as mulheres se calem nas assembléias, pois não lhes é permitido falar; que estejam submissas, como diz a lei." (Primeira Epístola aos Coríntios, 14:34-35) possuir tanto destaque em seus cultos, tornando-se tão importante, no cristianismo católico, quanto o culto a Cristo, que é o centro de toda doutrina cristã?

E mais: Quando Maria conversa com Jesus nos textos bíblicos, nenhum tratamento especial é dado a ela por este, que pudesse justificar o seu grande culto, nem mesmo de mãe, Jesus a chama, se limitando a chamá-la apenas de “mulher”, demonstrando sua natureza comum a outras mulheres; como nesta passagem:
A mãe de Jesus disse-lhe: Eles não têm mais vinho.
Respondeu-lhe Jesus: Que tenho eu contigo, mulher? ainda não é chegada a minha hora. (João 2:4).

Uma explicação histórica pode desvendar a grande importância conferida a Maria no catolicismo.

A fim de evitar que disputas religiosas dividissem seu império, o imperador Constantino oficializou o cristianismo como uma das religiões oficiais do império romano; mas isto não foi o bastante, pois querendo manter a unidade do império, ele criou uma forma de cristianismo que contivesse elementos de outras religiões, a fim de torná-lo familiar a devotos não cristãos e facilitar conversões a sua forma de cristianismo; de modo que se tornasse uma religião universal, ou como é traduzido para o grego - sua língua original - CATÓLICO, como também pretendia que fosse seu império. Sendo assim, muitos cultos, que não possuem bases bíblicas, foram sendo introduzidos como parte dos cultos cristãos, copiados de religiões não cristãs, como o culto aos santos, que são espécies de semi-deuses humanos, capazes de feitos miraculosos, e que, como a antiga tradição da religião romana, cada cidade católica teria um santo protetor, como em Roma era atribuído a deuses romanos; e como não poderia ser diferente, o culto a Maria, mãe de Jesus, também é uma cópia de cultos não cristãos. (Acesse: O Imperador Constantino e a Criação da Bíblia - Parte 2).

No culto a Maria, é comum que seus devotos passam a vê-la não apenas como mãe de Jesus, mas como mãe de toda a humanidade; Maria é chamada de rainha do céu; virgem miraculosa; mãe misericordiosa, etc. Porém, no Império Romano havia um culto semelhante, extremamente popular, dedicado a uma antiga deusa, em que seus devotos se vestiam de branco, para demonstrar a pureza de sua virgindade, em procissão pela cidade, em que uma imagem de sua deusa era carregada por seus devotos, e em que promessas feitas em seu nome eram pagas: era o culto a deusa Ísis, chamada também por seus devotos de Rainha do céu, Mãe de Deus etc.

Ísis e Hórus, ao Lado de Maria e Jesus


O culto a Ísis tem sua origem no antigo Egito, aproximadamente 30 séculos antes de Cristo. Ísis, assim como Maria, tinha sido uma virgem que havia dado luz a um deus, Hórus; e junto com seu filho e o pai deste, Osíris, formava, assim como Maria, José e Jesus, a Sagrada Família da religião egípcia, 3 mil anos antes da religião cristã.

Contudo, a partir do séc. V, o culto a Ísis foi pouco a pouco sendo extinto pelos cristãos; porém podemos dizer que foram pouco a pouco sendo substituído pelo culto a Maria. E que a semelhança desta com Ísis foi, certamente, um grande motivo de conversão ao cristianismo, como pretendia Constantino.

Acima, Deusas-Mães de  Outras Religiões


Na verdade, a própria deusa Isis, por sua vez, já representava deusas mais antigas, de uma longa linhagem que se perde na pré-história; chegando a mais antiga que temos conhecimento, a Deusa-Mãe, que representava a fecundidade e o Sagrado-Feminino presente na natureza. Possivelmente pertencente a uma era em que as religiões eram dominadas não por figuras masculinas, mas maternais, femininas.

Deusa-Mãe Pertencente a Pré-História

Promessas e Sacrifícios


Um dos atrativos da romaria do Círio de Nazaré são as promessas pagas, feitas em nome de Maria. Geralmente são promessas pagas com sacrifícios físicos, seja puxando a corda que carrega a imagem da santa, em meio ao aperto da aglomeração de pessoas, sob o intenso calor; seja caminhando todo o percurso de joelhos, ou caminhando com objetos pesados sobre a cabeça, que correspondem a promessa, etc.


Como regra geral, é associado o pagamento da promessa ao sacrifício físico do devoto. Mesmo neste ponto podemos encontrar semelhanças entre o tipo de sacrifício exigido no Círio com o sacrifício feito em religiões não cristãs, como no judaísmo, em que é oferecido o sacrifício físico à deus, porém não sacrifício humano mais de um animal, enquanto ao culto à Maria, lhe é oferecido o próprio sacrifício do devoto.

CONCLUSÃO
Acreditar que possa existir uma religião que seja independente de outra, que não tenha herdado nem uma tradição anterior a esta, é impossível, como deixa claro a própria religião cristã.

Para Saber Mais: 
O Imperador Constantino e a Criação da Bíblia - Parte 2

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