UM BELO ENCONTRO COM A MORTE
Dedicado a todos os mortos e moribundos.
Se o coração é um músculo sempre pronto a abarcar as mais
loucas experiência; o cérebro é uma bolha de sangue, sempre preste a explodir...
Às
dez horas da manhã o telefone toca. Ainda sonolento Valdomiro o atende, em meio
a bocejos e a contração de suas pálpebras contra a luz, que incide pelas
frestas da janela:
-
Alô.
-
Valdomiro, um cliente irá encontrá-lo às 16 horas no bar da esquina. Seu nome é
Benito. Identifique-se segurando um terço nas mãos.
-
Um terço?! De quem foi esta ideia estúpida, sua?
-
Não. Por favor, não perca a hora.
-
Mas onde encontrarei um maldito terço nessa cidade? Em algum prostíbulo?
-
Tenho certeza que isto não lhe será problema.
-
Tá bem. Tá bem. Estarei lá a tempo.
Valdomiro
possui um emprego nada convencional, mas ama o que faz; e tem certeza que
muitos o odiariam, ao saberem do que faz para sobreviver; mas, por outro lado,
tem certeza, também, que muitos o contrataria. Afinal de contas alguém tem que
pegar na sujeira, e poucos estão dispostos a isso: muitos nem limpam a própria
bunda.
Valdomiro,
em seguida, levanta-se e vai ao banheiro. E enquanto toma banho, pensa:
“Onde
irei encontrar um maldito terço nesta parte da cidade. Seria mais fácil
encontrar uma virgem nestas espeluncas, frequentadas por velhas prostitutas. E
o que tem haver terço com bar? Definitivamente, os dois não combinam.”
E
por um momento, uma ideia surge em sua cabeça:
“Sim,
embora bar não combine com terço, mas virgem e terço combinam com igreja. E
certamente deve haver alguma aqui por perto.”
Valdomiro
vestiu suas roupas e, não querendo perder tempo em busca incerta, foi
imediatamente atrás de uma igreja. Pegou um ônibus, e foi para o centro...
Perguntando
aos transeuntes, descobriu uma a duas quadras de onde estava. Entrou, olhou, e
não viu ninguém dentro da igreja, exceto um padre que passou em sua frente
ostentando o que mais cobiçava, naquele momento: um terço.
O
padre dirigiu-se para o confessionário, onde Valdomiro pôs-se imediatamente em
direção. Valdomiro, entrou, sentou-se, e disse:
-
Perdoe-me, padre, eu pecarei.
-
Não, meu filho, você quis dizer: eu pequei – disse o padre.
-
Não, padre, estou certo.
-
Mas, meu filho...
-
Já disse: estou certo – disse Valdomiro em um tom irônico, apontando-o um
revólver, enquanto o padre olhava-o espantado. - Isto é um assalto, passe o
terço, somente o terço, não se preocupe.
O
padre entrega o terço alarmado e, certamente, nunca ouviu falar em tal espécie
de roubo; e, antes de Valdomiro sair, o padre ainda recomenda-o que reze dez
ave-marias e sete pai-nossos; isto, com certeza, deve ter deixado o velho padre
confuso; mas, finalmente, Valdomiro obteve o que queria.
*
* *
Eram duas horas da tarde. Valdomiro precisava
encaminhar-se para seu encontro. Pegou, então, o próximo ônibus, e partiu de
volta.
Chegou
ao bar com uma hora de antecedência. Pediu algo para comer e sentou-se ao lado
do balcão, esperando seu cliente, com o terço nas mãos.
Ficou
a imaginar como ele seria. Valdomiro já tinha em sua mente um padrão
psicológico de seus clientes, eram pessoas decididas, egocêntricas, ambiciosas
e extremamente egoístas; mas suas aparências não obedeciam a nenhum padrão.
Havia clientes da classe mais baixa que, de qual quer modo, arrumavam dinheiro,
à classe mais alta, sendo esta a que mais o procurava. Havia também mulheres,
muitas mulheres que o procuravam, de todas as raças, de todos os níveis
sociais, de todos os credos, desde aquelas com uma linguagem requintada, às que
nem sabiam ler. Muitos lhe procuravam, principalmente, para esquecer seus
maridos e esposas.
O
terço em suas mãos o incomodava, sentia-se como se estivesse pagando
penitência, ou como um carola, que Valdomiro cansou de ver em sua infância. Ele
odiava todos eles, pois odiava, acima de tudo, a hipocrisia; viu muitas vezes
agirem de má fé, com maldade mesmo, e depois se escondiam atrás de uma capa de
religiosidade. Muitos eram seus clientes, que após precisarem de seus serviços
se gabavam de sua moralidade, taxando os outros de imorais. Eles eram os
moralmente saudáveis!
Alguns
fregueses olhavam com curiosidade para o terço em suas mãos; alguns chegavam
mesmo a comentar algo, com risinhos estampados em seus rostos, mas Valdomiro continuava
impassível, coisa de profissional, de alguém que respeita seu ganha-pão.
*
* *
Já
eram cinco horas, e nada do sujeito chegar, até que alguém surge no bar olhando
discretamente para os fregueses, que se encontravam sentados ao lado de suas
respectivas mesas. O sujeito, após examinar, discretamente, os fregueses,
encaminha-se em direção ao balcão. Encosta-se no mesmo, pedindo algo para
beber, e olha Valdomiro fixamente. Paga, aproxima-se, e diz:
-
Que belo terço!... Por acaso, você conhece algum Valdomiro?
-
Isso vai depender de como te chamas!
-
Sou Benito.
-
Eu, Valdomiro.
-
Bem, temos que encontrar um local mais conveniente para conversar.
Valdomiro
entra no carro do tal sujeito, e se dirigem para um motel.
Ao
entrarem no quarto, Benito tira a gravata e o paletó, e chama Valdomiro para a
cama, para junto de si, para a intimidade de sua companhia, espalmando
levemente com a mão a mão dele; e, em seguida, apontando para o centro da cama;
o qual atende prontamente. Benito põe uma pequena maleta sobre a cama, abre, e
olhando fixamente nos olhos de Valdomiro, diz bruscamente:
-
Roberto Seixas é o homem que quero que mate. Estas são as fotos da casa dele,
com o endereço no verso.
-
E as fotos do sujeito?
-
Não tive tempo de tirá-las.
-
Então como irei identificá-lo?
-
Ele estará sozinho, hoje, em sua casa.
-
Como tu sabes com tanta certeza?
-
Conheço-o bem, era meu amigo. Sua esposa e filha estão viajando. Tínhamos
negócios em comum, uma sociedade. Ele me roubou. Preciso agora que o dinheiro
retorne para mim. Você sabe!
-
Tem que ser hoje?
-
Sim, pois ele estará sozinho.
-
Geralmente eu gosto de estudar o caso; vigiar um pouco o sujeito; conhecer seus
hábitos, seus horários; para que tudo possa dar certo.
-
Mas eu preciso que seja hoje, tenho pressa.
-
Qual o melhor horário?
-
Entre meia-noite e uma hora. É quando a vizinhança está calma, e o carro do
lixo já deve ter passado.
-
E o pagamento?
-
Metade está aqui na maleta, e a outra metade após ter finalizado. Ok?
Após
alguns segundos pensativos, Valdomiro, finalmente, responde:
-
Ok. Aceito. Estarei lá neste horário. E mais uma coisa: por que o terço? A ideia
foi sua?
-
Sim, era como se você estivesse rezando pelo sujeito, uma última homenagem. É
uma boa forma de se identificar, você não acha? – com Benito estampando um leve
sorriso em seu rosto.
*
* *
Às
vinte horas, Valdomiro passa pela frente da casa do sujeito, e fica vários
minutos a olhá-la. De fato, não havia ninguém em casa, pelo menos
aparentemente. A vizinhança era extremamente calma, com vizinhos indiferentes e
discretos. E pelo que Benito tinha lhe dito, o ponto fraco da casa era a janela
dos fundos, que este cuidadosamente teve o cuidado de danificar todas as
trincas, numa última visita ao ex-amigo, fingindo uma reconciliação. E com a
planta da casa, que Benito tinha lhe dado, o serviço lhe parecia bastante
fácil.
Valdomiro
voltou então para sua casa para preparar as armas, se exercitar um pouco e
descansar esperando a hora certa para entrar na casa.
Ele
tinha verdadeiro amor pelo seu trinta e oito; dir-se-ia mesmo que confiava mais
nele do que em seu próprio pênis, pois aquele nunca tinha lhe deixado na mão.
Tinha matado vários homens com ele, e ele sempre estava lá, quando precisava.
Valdomiro
fazia parte de uma longa casta de assassinos profissionais. De sua família,
vários tinham se dedicado a tal ofício, incluindo seu pai e avô; e com eles
tinha aprendido muito, muito mesmo, sobre seu ofício; principalmente a não se
envolver com a vítima; isto era de fundamental importância, principalmente na
hora de puxar o gatilho.
*
* *
Valdomiro
chegou a casa por volta da meia-noite. Tudo estava calmo, como se a noite
conspirasse com seu plano. Nem uma alma na rua, nem mesmo cães latiam. Entrou,
então, pelos fundos, e foi direto para a janela, como combinado.
Através
da planta da casa, Valdomiro sabia agora todos os seus detalhes, pois passou as
últimas horas estudando-a exaustivamente. Sabia que deveria procurar o tal
sujeito no primeiro quarto do andar de cima; mas, como era um homem cuidadoso,
deveria deixar este por último.
Entrou
na casa, pelo andar de baixo, verificou primeiro a cozinha, que estava uma
bagunça, com prateleiras abertas, talheres e panelas pelo chão, parecia que ali
teria havido luta; Valdomiro achou estranho, mas continuou com seu ofício
verificando o banheiro; em seguida, os dois quartos de baixo, um ao lado do
outro, que também se encontravam imersos em uma extrema bagunça, com roupas
espalhadas pelo chão e gavetas abertas, como se alguém antes dele tivesse tido ali
procurando algo, e seguiu para a sala. Ao chegar à sala, com a sala em meio a
uma luz difusa, que vinha das luminárias da rua, por meio dos vidros das
janelas, o que fez com que suspendesse o uso temporário de sua lanterna,
Valdomiro teve uma grande surpresa: um homem sentado com um copo na mão parecia
que lhe aguardava. Valdomiro olhou-o e apontou-lhe o revólver, e disse:
-
Quieto! Isto é um assalto!
O
homem não esboçou a menor surpresa; dir-se-ia, melhor, que estava petrificado,
como uma estátua.
-
Estás só? – disse em seguida Valdomiro.
-
Sim.
-
Qual o seu nome?
-
Roberto.
-
Seixas?
-
Sim.
E
ao focar-lhe com a luz de sua lanterna, Valdomiro teve a segunda grande
surpresa da noite: o homem que estava ali era Benito. Então, este lhe diz:
-
Já estava a duas horas impaciente a esperar-lhe. Pensei que não vinhas!
-
O que é isto? Uma cilada? Diga?! – disse Valdomiro assustado, olhando para os
cantos e verificando que a sala também estava uma bagunça.
-
Não. Veja, eu realmente me chamo Roberto Seixas – tendo este dado ao Valdomiro
um documento. - Benito foi um falso nome, mas todo o resto é verdadeiro.
-
Então, o que queres?
-
Quero que me mate.
-
Por quê?
-
Tenho câncer, e pouco mais de três meses de vida.
-
Por que então não deixa que simplesmente aconteça?
-
Não quero mais sofrer tanto. A dor e o desconforto já começam a aparecer.
Valdomiro,
com a arma em punho, com todos os anos de matador nas costas, não podia
acreditar no que ouvia, e pôs-se a lembrar todo seu encontro com aquele homem
que lhe implorava por tirar-lhe a vida.
-
Ah! Por isso pareceu-me tão fácil: uma casa sem alarme; sem grade na janela;
sem cerca eletrificada; sem cães e vigias noturnos.
-
E por que, então, você não se mata? – inquiriu Valdomiro com um leve tom de
ironia.
-
Porque, além de tudo, sou um covarde – disse o homem entre lágrimas.
-
E tem que ser aqui, na sua casa?
-
Quero que pareça um assalto. De modo algum um suicídio, pois pretendo que meus
familiares recebam o seguro.
-
Ah! Por isso a casa está uma bagunça!
-
Sim, simulei a cena de um assalto.
-
Entendo, quando se encara a morte de frente tudo muda de sentido – com
Valdomiro guardando a arma enquanto falava.
-
Você tem visto horrores, não Valdomiro?
-
Sim. Muitos.
-
E o horror pela vida? Você tem sentido?
-
Eu...
-
A primeira vez que descobri meu profundo horror pela vida - devia ter meus dez
anos de idade - foi quando observei um terrível incêndio em um prédio. Foi como
um soco em minha alma! Vi as pessoas correndo desesperadas para o topo, como
ratos abandonando o navio preste a ser inundado, para descobrirem ao chegarem
ao topo, que havia apenas duas alternativas para elas: morrerem queimadas ou
saltarem diretamente para a morte. Todas, levadas pelo irresistível instinto de
sobrevivência, tentavam o mais que podiam afastar a primeira possibilidade,
para depois descobrirem, desconsoladas, que o melhor que podiam fazer seria uma
morte rápida, com menos dor. E assim como os ratos, saltavam do topo do prédio.
Isto foi um verdadeiro ensinamento para mim, pois descobri, vendo aquilo, que
tudo o que podemos fazer, verdadeiramente, na vida é escolher, entre as várias
possibilidades, o que consideramos ser o menos pior para nossas vidas. E mesmo
após terem-se passados muitos dias, e mesmo anos, fico ainda horas inteira a
pensar naquelas vidas...
Em
um momento mais calmo, já sentado em uma poltrona, Valdomiro responde:
-
Sei que às vezes a vida é como um edifício em chamas, mas vamos homem não seja
tão pessimista, ainda há em você vida!
-
É irônico ouvir de você isto.
-
De mim?
-
Sim, de um matador como você.
-
Pois eu jamais matei um homem – disse Valdomiro enquanto enchia um copo com
bebida de uma garrafa do bar que havia ao seu lado.
-
Como?! Então não és o homem?
-
Sou sim. Mas é como dizem: quem mata é Deus, eu só mando a bala. Apenas Ele
pode tirar a vida – retrucou Valdomiro, beijando, em seguida, o crucifixo que
possuía em seu cordão no pescoço.
-
Então devo pedir a Deus que me mate?
-
Sim, com toda certeza. E se caso mereceres, estarei aqui para cumprir o
combinado – respondeu Valdomiro levantando-se e indo para o bar.
E
após isto, enfiou uísque goela abaixo. Enxugou a boca na manga da camisa e
disse:
-
Saiba que uma vez fui contratado para matar um homem. O cabra era um sujeito
mau, vivia de explorar os outros. Apontei-lhe então o revólver para sua cabeça.
Pedi que o sujeito rezasse. Disse-lhe: vamos cabra, ajoelhe, e comece a rezar.
Hoje mesmo irás visitar o Diabo. O sujeito se mijou de tanto medo. E apertei o
gatinho. E nada. Apertei novamente... E nada. E novamente, novamente,
novamente... e nada. Meu revólver que nunca falhara, havia falhado?, pensei. Não,
isso não, não é possível; um bom revólver como este! – comentou Valdomiro com o
revolver novamente em mãos, olhando-o e cariciando-o. - Foi Deus, bendito seja
– disse Valdomiro se benzendo -, que travou o meu dedo no gatilho.
-
E o sujeito?
-
Ora, nesse meio tempo o sujeito escapou.
-
E não foste atrás dele?
-
Não, não era a hora dele. E no outro dia devolvi o pagamento que havia
recebido. E sabe o que aconteceu?
-
Claro que não.
-
O contratante achou que eu tinha sido comprado, por um preço maior, por aquele
que eu havia sido pago para matar. E que ele seria agora a vítima. Este sujeito
então puxou um revólver, como aqueles iguais de filme: um automático; daqueles
que atiram milhares de balas por minuto. E sabe o que aconteceu?
-
Claro que não homem!
-
A arma travou. E eu atirei. E a bala nunca saiu tão bem de minha arma. Foi o
meu melhor tiro: acertei-o bem no meio da testa. E o cara caiu devagarinho,
devagarinho, sem mexer um músculo se quer; sem mesmo piscar os olhos.
Após
virar-se de frente do balcão do bar, e olhar diretamente para seu interlocutor,
Valdomiro diz em voz alta:
-
O quê? Um tiro como aquele, de um trinta e oito, faria aquele sujeito
estatelar-se rapidamente contra o chão. Mas não, seu corpo paralisou-se na hora,
e manteve-se assim por alguns instantes. Por isso lhe digo: mesmo que não baste
as infinitas preocupações naturais, como as mais terríveis possibilidade de
doenças, os possíveis acidentes, a velhice e a morte; e que haja ainda a falta
de emprego, o baixo salário, a estupidez alheia, os amores não correspondidos, os
desejos não satisfeitos, a piorarem ainda mais a vida; e que a dor pareça ser
mesmo a essência da vida. Esta ainda vale apena de ser vivida, homem.
- Quanto a ideia de ser a essência da vida a
dor, a isso concordamos; pois quando tento pensar em um grau máximo de felicidade,
sempre encontro logo um limite, mas quando penso no máximo de infelicidade,
torna-se impossível encontrar um possível limite; sempre posso encontrar algo
pior ao que pensei anteriormente. E, certamente, o que há de pior na vida não é
a morte, mas nossa total ausência de liberdade, e falta de alternativa com
relação aquela, é como se a vida fosse um enorme prédio em chamas, pois mesmo
com todo o desespero e prevenção possível, é impossível não encarar a morte um
dia. E o desespero de mantê-la afastada só nos faz aproximar cada vez mais desta.
Mas quanto a manter-se vivo... Bora,
aperte o gatilho; mate-me logo, por favor! Vamos amigo – disse Roberto a
Valdomiro.
-
De todos os homens que me mandaram matar, és o mais difícil de ter a tarefa
cumprida.
-
Por quê?
-
Porque não é sua hora; e és um bom homem.
-
Deixe de ser tolo homem, pare com superstições tolas.
-
Já disse: não é sua hora, por que insiste? - disse Valdomiro, de pé, encostado
no bar, de costas para Roberto.
-
Vamos logo, o que estás esperando? Que tipo de matador você é?
-
Então queres mesmo morrer! – disse Valdomiro antes de se aproximar de Roberto,
mostrando-lhe o tambor do revólver cheio de bala, e lhe dizendo:
-
Não é sua hora, veja, veja – disse Valdomiro, disparando o revolver encostado à
cabeça de Roberto sem que nenhuma bala saísse; enquanto este, de olhos
fechados, com suor escorrendo pela testa, tremia de medo.
-
Tá vendo? Tá vendo? Já lhe disse: não é
sua hora – disse novamente Valdomiro voltando para o bar, ficando mais uma vez
de costas para Roberto.
- Que droga de matador você é que não
consegue dar um tiro? E quem pensa que és para decidir se é minha hora ou não?
Nesse
momento, Valdomiro vira-se de frente para Roberto, e, com uma estranha
expressão no rosto, lhe diz: sou a Morte, e subitamente some no ar.
Roberto
com os olhos arregalados treme de susto, enquanto volta a ficar só.
Neste
instante, sob o silêncio da noite, o estranho diálogo que tivera com Valdomiro volta
a ecoar em sua mente:
“Pois
eu jamais matei um homem... Quem mata é Deus”.
“Então
devo pedir a Deus que me mate?”
“Sim,
com toda certeza. E se caso mereceres, estarei aqui novamente, para cumprir o
combinado.”
No
dia seguinte, Roberto encontra sua maleta, com todo o dinheiro, em um dos
cômodos de sua casa. E desse dia a diante pôde acreditar que havia, sim, sido
visitado pela morte, em forma de um simples e simpático homem chamado
Valdomiro, e que esta, estranhamente, era humana e que também era vida.
E
após alguns dias, Roberto voltou novamente ater outro encontro com a morte, um
belo encontro, desta vez sem susto, dor, sofrimento ou agonia.
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