by Joel-Peter Witkin |
Seu corpo ao cair do cadafalso, pendurado
pela corda que lhe enforcava, se debatia, pairando no ar. Suas pernas se
contorciam, agitando-se desesperadamente, como se dançassem uma dança
frenética, uma última dança, a dança da morte.
Enquanto seus olhos se regalavam e sua
língua se estendia em direção ao chão, com a rapidez de um raio, pôde recordar
do grande mal que tinha feito.
Seu nome: Hans Brünner1, médico
alemão, cuja fama teria levado a alguns a afirmarem que este era a prova de que
Deus não existia, ou pior, que era tão mal quanto seu anjo maldito!
Brünner era um dos médicos encarregado,
naqueles dias, de pesquisar modos de aliviar e reanimar soldados alemães
feridos em combate, na segunda grande guerra. E como Menguele, o anjo da morte,
poucos foram tão implacáveis com seus prisioneiros. Para tanto, dissecava
corpos de prisioneiros ainda vivos, submetidos a câmaras de baixa pressão. Muitos
tiveram o cérebro dissecado enquanto estavam vivos. E após ver as bolhas de ar
que se formavam no sangue dos cérebros de suas cobaias, Hans Brünner exclamava:
"Sou, sem dúvida, o único que conhece por completo a fisiologia humana,
porque faço experiências em homens e não em ratos"2. Brünner
“injetou tinta azul em olhos de crianças, uniu as veias de gêmeos, jogou
pessoas em caldeirões de água fervente, amputou membros de prisioneiros,
dissecou anões vivos e coletou milhares de órgãos em seu laboratório”3,
tudo em nome da superioridade da raça alemã.
Brünner tinha um verdadeiro amor por sua
coleção de cabeças decepadas, que sempre conseguia novas comandando o programa
que exterminava doentes mentais, ou como preferiam chamá-los: “vida indigna de
viver”. E entre as muitas cabeças de sua coleção uma lhe era preferida: a
pequena cabeça de uma criança de cinco anos, deformada pelos horrores da
segunda grande guerra.
Sua mãe, a todo custo tinha lhe dado a
vida, mesmo após uma terrível intoxicação por gás venenoso, lembrança terrível
ainda da primeira grande guerra. E a mantivera protegida do frio, do pânico e
da fome. Em algumas ocasiões chegou alimentá-la, devido a escassez de seu leite,
com seu próprio sangue, que escorria de sua mama ferida, de tanta a filha
sugar. Tinha jurado jamais abandoná-la, mesmo sob todas as diversidades da vida
ou da morte. E por essas coincidências inexplicáveis da vida, que a todo custo
tentamos explicar, sua cabeça, do outro lado do corredor, olhava a cabeça da
filha, docemente, com um leve sorriso nos lábios, em meio a centenas de outras
cabeças decepadas.
NOTAS:
1. Personagem fictício que engloba em seus
atos, atos verdadeiros de alguns médicos nazistas, como o de Josef Mengele.
2. Palavras do médico nazista Sigmund
Rascher.
3. Atos praticados pelo médico nazista
Josef Mengele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário