DEATH METAL E A ESTÉTICA DA MORTE
AS ORIGENS
Torna-se difícil precisar a
data do surgimento do estilo de música conhecida como Heavy Metal. Sua ideia
seminal já estava no ar nos finais da década de 60, com bandas como Led
Zeppellin, The Kinks, Deep Purple, Blue Cheer, Black Sabbath, Jimmy Hendrix Experience,
etc. Bandas que vindas da mistura do Rock e Blues, exploravam novas sonoridades
obtidas, então, com equipamentos recentes, como distorcedores, amplificadores e
instrumentos musicais potentes.
O que conferia ao som um peso jamais visto. E como as ideias tendem sempre a serem exploradas, novas bandas exploraram ao extremo estas novas tendências. Bandas que, conscientes da novidade, exploraram toda a potencialidade que os instrumentos, vocais, velocidade e peso poderiam dar. Experimentações que bandas como Judas Priest, The Rods, Uriah Heep, Rainbow, etc., já faziam em meados da década de 70.
O que conferia ao som um peso jamais visto. E como as ideias tendem sempre a serem exploradas, novas bandas exploraram ao extremo estas novas tendências. Bandas que, conscientes da novidade, exploraram toda a potencialidade que os instrumentos, vocais, velocidade e peso poderiam dar. Experimentações que bandas como Judas Priest, The Rods, Uriah Heep, Rainbow, etc., já faziam em meados da década de 70.
O que nos leva a afirmar
que aqui começa a verdadeira história do Heavy Metal, e que culminaria, nos
finais da década de 70, com o chamado “New Wave Of British Heavy Metal”, com
bandas como Samson, Fastway, Iron Maiden, Angelwicht, Saxon, Demon, e etc.;
bandas que definitivamente deram as bases tradicionais ao Heavy Metal, que, por
sua vez, daria origem posteriormente a novas vertentes, como o Thrash Metal,
Black Metal, Death Metal, etc.
Com o Death Metal, a
agressividade e a velocidade do Heavy Metal são exageradas ainda mais, assim
como seus temas. Letras focando a morte, o demônio, a violência, são invocadas,
acompanhadas de vocais guturais que parecem ecoar o próprio som do inferno.
O AMBIENTE
O Underground é o ambiente por
excelência onde as bandas de Metal habitam.
Nascido no meio literário, o
underground (subterrâneo) - palavra inglesa para designar a corrente cultural
que procura fugir dos valores e dos interesses da grande mídia – deu voz a
valores que os grandes meios de comunicação evitavam serem abordados, em nome
de uma moral rígida ou por valores religiosos.
Autores literários, como Marquês
de Sade (1740 – 1814), levaram para as artes, comportamentos sexuais cuja
sociedade de seu tempo praticava, mas que eram proibidos de serem abordados,
como o prazer carnal associado a atos considerados incomuns, como o sexo
extremo, narrado em seus livros.
Preso em um hospital para
loucos, e ao mesmo tempo protegido pela sua suposta loucura, Sade escandalizava
e demonstrava, por meio da grande procura por seus livros, a hipocrisia de seu
tempo. Preso em sua cela, exercita intensamente sua liberdade mental. Ou como o
poeta francês Baudelaire (1821 – 1867), cujos poemas dedicados a Satã
escandalizaram a sociedade de seu tempo.
O rock incorporou a música ao
underground, associando esta a letras de canções que mantém fortes laços com os
poetas malditos do passado.
A baixo As Litânias de Satã de Baudelaire
Ó
tu, o Anjo mais belo e também o mais culto,
Deus
que a sorte traiu e privou do seu culto,
Tem
piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Ó
Príncipe do exílio a quem alguém fez mal,
E
que, vencido, sempre te ergues mais brutal,
Tem
piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu
que vês tudo, ó rei das coisas subterrâneas,
Charlatão
familiar das humanas insânias,
Tem
piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu
que, mesmo ao leproso, ao paria infame, ao réu
Ensinas
pelo amor às delícias do Céu,
Tem
piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu
que da morte, tua velha e forte amante,
Engendraste
a Esperança, - a louca fascinante!
Tem
piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu
que dás ao proscrito esse alto e calmo olhar
Que
faz ao pé da forca o povo desvairar,
Tem
piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu
que sabes onde é que em terras invejosas
O
Deus ciumento esconde as pedras preciosas.
Tem
piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu
cuja larga mão oculta os precipícios,
Ao
sonâmbulo a errar na orla dos edifícios,
Tem
piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu
que, magicamente, abrandas como mel
Os
velhos ossos do ébrio moído num tropel,
Tem
piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu,
que ao homem que é fraco e sofre deste o alvitre
De
poder misturar ao enxofre o salitre,
Tem
piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu
que pões tua marca, ó cúmplice sutil,
Sobre
a fronte do Creso implacável e vil,
Tem
piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu
que, abrindo a alma e o olhar das raparigas a ambos
Dás
o culto da chaga e o amor pelos molambos,
Tem
piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Do
exilado bordão, lanterna do inventor,
Confessor
do enforcado e do conspirador,
Tem
piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Pai
adotivo que és dos que, furioso, o Mestre
O
deus Padre, expulsou do paraíso terrestre
Tem
piedade, ó Satã, desta longa miséria!
(Tradução
de Guilherme de Almeida e Ivan Junqueira)
Quando se fala de letra de
música é natural que a maioria associe a estas, temas recorrentes, como amor, tristeza,
desilusões amorosas, ou outros mais “belos sentimentos humanos”. Esta temática
não é de hoje e perdura desde a mais antiga idade. Os ditos temas poéticos são
ensinados nas escolas e considerados o máximo da sensibilidade humana; são
temas que são inevitavelmente considerados de “bom gosto”. Esta ditadura da
beleza perdura até hoje, com padrões de beleza fixos que obrigam todos a
segui-los. E não apenas nas artes, estes invadem nossas vidas, impondo padrões
de beleza tanto de corpos, como de comportamento. E todos aqueles que não
queiram segui-los, são banidos, amaldiçoados ou tachados de loucos.
Contrariando a tudo o que foi
dito, o Heavy Metal trouxe para a música temas considerados tabus ou proibidos,
como a morte ou o demônio. Temas que embora não sejam considerados bonitos,
estão presentes em nosso dia a dia, nos influenciando bem mais que os rostinhos
bonitos, porém, acéfalos ostentados nas revistas de moda. Temas como:
depressão, medo, guerras, mitologia, religiões pagãs, etc., fazem parte de sua
poética. Tão importantes quanto os mais “belos sentimentos”; então por que não
cantá-los? E como o Heavy Metal é de todas as formas de música a mais extrema,
seria natural que o extremo fosse exagerado, não apenas na música, como nas
letras. Sub-gêneros como o Death Metal trás para a temática do Heavy Metal o
horrível, o asqueroso, o nojento, com sua temática Splatter/Gore.
Bandas como Carcass (carcaça),
Cannibal Corpse (morto canibal), Dismember (desmembrador), Malevolent Creation
(criação má), Suffocation (sufocação), Autopsy (autopsia), etc, trazem não
apenas o horror em suas letras, como em seus próprios nomes. O que os aproxima
de outras formas de arte, como a literatura fantástica e os filmes de horror, transparecendo
em muitos casos, tornando-se verdadeiras homenagens ao horror. Autores como
Sade, ou mestres do terror tais como Lovecraft, são citados, bem como filmes de
terror.
E nenhum assunto assusta mais
que a morte, tema explorado à exaustão, em capas de discos, ostentando
cadáveres putrefatos, esquartejados ou deformados.
A OBSESSÃO PELA MORTE
Como um fato natural, a morte é
poucas vezes retratada de forma tão crua, e muitas vezes exagerada, como no
Death Metal. Se o objetivo é assustar, é natural que o Death Metal a use, assim
como outros símbolos do horror, como a escuridão. E em uma sociedade que encara
a morte como um fato não natural, afastando e tachando tudo que a lembre como
horrível, é natural que ao mesmo tempo nos desperte uma curiosidade mórbida,
como a que vemos quando presenciamos um cadáver contornado por olhares
curiosos, em um acidente de estrada.
Falar sobre a morte é uma forma
de vê-la como algo natural, de exorcizá-la. E é claro que neste processo há
exageros. O que não deixa de ser sintomático, já que brincar com o que nos
amedronta, certamente é uma forma de superar nossos medos, de tentar comandar o
desconhecido.
A
POESIA SPLATTER/GORE
Relacionado diretamente com
histórias e filmes de terror, como também com o lado sombrio e os fortes
sentimentos humanos, o Splatter/gore explora o extremo, transformando o
horrível, o nojento em pura poesia.
SPLATTER-GORE NA PISTA
[por
Legume]
Crianças
brincam na rua
Mães
conversam ao portão
Motorista
embriagado
Vem
guiando seu furgão
Só
se ouve uma freada
Freada
que foi em vão
Crianças
atropeladas
Voam,
são arremessadas
Então
caem na calçada
Totalmente
inanimadas
Contorcidas,
desmembradas
Com
as caveiras rachadas
Motorista
sai do carro
Se
dizendo inocente
Esse
foi seu pior erro
Morrerá
sadicamente
Mães
tomadas pelo ódio
Pegam
paus, pedras ao chão
E
então fazem justiça
Com
as suas próprias mãos
Pauladas
deformam face
Ferimentos
doloridos
Ele
implora: "-Não me mate!"
Sangue
escorre dos ouvidos
Uma
mãe se aproxima
Com
um pedaço de cano
E
espanca a cabeça
Estraçalhando
seu crânio
O
homem tem uns espasmos
E
morre agonizando
Mais
tarde chega a polícia
Que
de longe já avista
As
carcaças das crianças
O
sangue, os miolos, tripas
O
furgão incendiado
E
o corpo do motorista
Hediondo
linchamento
Splatter-gore
na pista!!!
CONCLUSÃO
Embora questões de gostos
musicais não sejam motivos para discussões, já que estes se prendem tanto a
questões culturais quanto de personalidade, não se pode de modo algum rejeitar
a cultura underground, assim como seus expoentes musicais, como formas de
cultura inferior ou meramente degradantes, pois como foi visto, estes se
prendem a uma longa cadeia cultural, que os ligam aos grandes mestres da
literatura e da música, tornado-se tão marginal quanto foram aqueles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário