terça-feira, 8 de maio de 2018

O CARRO PRATA E O TERROR NOSSO DE CADA DIA


O CARRO PRATA E O TERROR NOSSO DE CADA DIA
Houve uma época em que famílias se reuniam, à noite, sentadas em frente de suas casas para apreciar o movimento da rua, conversar e contar histórias. Muitas vezes essas histórias eram histórias de fantasmas, ou de lendas que transmitiam medo e apreensão a seus ouvintes, e que ao mesmo tempo que aterrorizava também divertia. Porém, com a crescente onda de violência em nosso país; com o medo de assaltos e de balas perdidas, esta antiga tradição acabou, assim como acabaram, também, pelos mesmos motivos, as brincadeiras infantis de rua, e o futebol no campinho de terra em algum terreno baldio da vizinhança.


O medo de se tornar mais uma vítima da crescente onda de violência ao sair de casa, de se tornar alvo casual de uma bala perdida, ou de aparecer nos noticiário de jornais como mais uma vítima crivada de bala do famigerado carro prata cresce a cada dia e com o medo aumentando a cada nova chacina.

O que são hoje o medo de histórias de fantasmas perto do terror real do nosso dia a dia de uma população que se vê cada dia mais refém da violência urbana, desamparada por seus líderes políticos que só pensam em si, e ainda debocham da população ao comentar que toda esta violência absurda é apenas uma falsa sensação de insegurança, e que, portanto, nada fazem para prover a população com mais segurança?



O que levou nosso país, famoso por sua alegria, pela hospitalidade de seu povo, a ter se transformado em um dos países mais violentos do mundo, com várias de suas cidades no ranking das mais violentas do mundo?, com corpos em corredores à espera de vagas em necrotérios abarrotados de cadáveres chacinados?

Neste mundo de violência gratuita, onde o terror do dia a dia se faz cada vez mais presente, teria ainda algum sentido ler histórias de terror?



O medo, sem dúvida, é um dos mais fortes e antigos sentimentos humanos, e não é em si um mal; é antes de tudo um modo pelo qual a natureza proveu o homem com uma forma de auto proteção, de evitar correr perigo, de estar preparado para a possibilidade de um mal vindouro.

Porém, em um mundo tomado pelo medo, há a necessidade de sabermos diferenciar entre o medo imaginário do medo real; para isso é necessário antes de tudo conhecermos seus mecanismos, como se dá o medo em nós.

E não apenas a literatura de terror, mas os filmes de terror e as lendas urbanas, que diferente do terror comum do dia a dia, tem o objetivo não apenas de assustar e divertir, mas também de educar o medo do leitor. E é justamente nessas horas que a Arte de Terror ganham maior sentido, pois faz com que o indivíduo aprenda a conhecer e a controlar melhor as reações do corpo produzidos pelo medo. É como se fosse um processo educativo, uma experiência apenas virtual que nos prepara para encarar com segurança as experiências reais do dia a dia. 

Então, em um mundo violento como o nosso, ainda vale muito apena o terror como entretenimento.

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