Após o quarto ecstasy,
Paula foi ao banheiro da boate. Arriou as calças e sentou-se no vaso sanitário;
acendeu um cigarro e ficou a olhar as paredes cobertas de frases obscenas. Uma
lhe causou risos incontidos:
“Para curar um amor platônico só mesmo uma
foda homérica.”
Tragou mais uma vez o cigarro enquanto ouvia o
cair de sua urina na privada, embalada pelo som enervante da música eletrônica
que vinha da pista de dança.
De repente, enquanto
soltava mais uma baforada de fumaça, ouviu uma voz feminina, “hei, hei, você ai
em cima”. Paula olhou para os lados, e não viu nenhuma janela e muito menos
alguém por perto. Por um momento, pensou que seus sentidos tinham-lhe enganado;
e assim voltou a tragar o cigarro novamente enquanto examinava o esmalte das
unhas. Mas a voz novamente fez-se ouvir, “hei, hei, você ai em cima”.
Paula
olhou em direção a porta do banheiro e, com a voz firme, disse: “O que é? Não
está vendo? Está ocupado. Aguarde sua vez”. A voz então lhe respondeu: “Eu não
estou à porta. Estou aqui, aqui embaixo”. Paula olhou para o piso do banheiro,
imaginando a existência de esgoto ou de algo parecido em que pudesse caber
alguém. Até que um assovio fez-se ouvir do fundo da latrina, acompanhado de um
“hei, estou aqui embaixo de você”.
Ela então olhou dessa vez para o fundo do
vaso sanitário, e não acreditou no que via: sua vagina se movia como uma boca
expelindo frases sonoras. Paula levantou-se assustada deixando suas calças
descerem até seus pés.
- Um trago, desejo um
trago – disse sua vagina.
- O que está acontecendo
comigo!!! – disse Paula consigo mesma, passando as mãos sobre o rosto e olhando,
atordoada, sua genitália falante.
- Vamos, rápido –
continuou a vagina.
- O que você quer?
- Já disse: um trago –
respondeu a vagina impaciente.
- Não acredito que estou
conversando com minha própria vagina!!!
E com a insistência da
mesma, Paula acendeu um cigarro e levou até sua vagina. E esta tragou com
voracidade...
- Sabe, nunca gostei do
termo vagina, prefiro xoxota – confidenciou a própria, tragando o cigarro e
soltando a fumaça, como as vaginas daquelas praticantes de pompoarismo da
Tailândia. – É bem mais carinhoso. E, além disso, você sabe, nenhum namorado
seu nunca me chamou, naquelas horas, de vagina; sempre foi "deixa eu ver,
meu amor, essa buceta... essa perseguida... essa xoxota". Lembro que um me
chamava de moqueca.
- Era o Marcos.
- Que Marcos? O do
apartamento 106? – inquiriu a vagina.
- Não. Esse lhe chamava
de beiçuda.
- Argh!, que horrível –
disse a vagina fazendo com a boca, ou melhor, com o que parecia ser uma, gesto
de nojo.
- Então era o Marcos do
120?
- Não. Esse lhe chamava
de “portinha do paraíso”.
- Ah! Como ele era
delicado! Era então o do 130?
- Não, não, não – disse,
rapidamente, Paula, balançando o dedinho em direção de sua vagina.
- Sei, esse não precisava
nem chamar, que você ia, né?
E após Paula dar uma
grande gargalhada, respondeu:
- Era o Salvatore?
- Ah, Sim. Ele era tão
carinhoso e engraçado.
- Mas havia aquele outro,
aquele engraçadinho que me chamava de “pata de camelo”.
- Ah, o Teco.
- Mas pior que ser
chamada de vagina, era quando aquele outro sujeito me chamava de vulva, que
nome feio.
- Ah, esse era o Haroldo,
o Brandão.
- Ele era tão metódico.
- Mas o que esperar de um
psicólogo, né?
- Pois é, então porque me
chamar de vagina, querida. Vagina é dito quando alguém não quer ter intimidade,
como um ginecologista, mas eu sou íntima de você, por isso me chame de xoxota,
meu bem.
- Mas eu sei como você
ficou na minha última visita ao ginecologista, sua danadinha.
- Também pudera com
aquele homem lindo. Fiquei toda molhadinha!
- E se fosse uma fantasia
– argumentou Paula, sentada novamente, com as calças arriadas na latrina,
dividindo o cigarro com sua vagina -, digamos que alguém me pedisse para irmos
às vias de fato, fantasiando ser um ginecologista?
- Bem, toda regra tem
exceções, minha querida.
- Ahã!, te peguei agora
sua safadinha – disse Paula dando leves palmadas em sua vagina.
- Tudo bem, tudo bem, eu
me rendo, mas não faça como aquela vez em que encontraste outra xana pra se
esfregar.
- Foi apenas uma
experiência. E que tal? Você não gostou?
- Bem, sabe quando você
quer calabresa mas lhe dão salsicha?
- Ahã.
- Foi assim que eu me
senti: não me contentei com dedos, querida. Falando nisso, não estamos
esquecendo de algo?
- Maurício! – exclamou
Paula levantando-se e vestindo rapidamente as calças.
- Ele parece ser tão bem
dotado! – comentou a vagina satisfeita, provocando risos de satisfação em
Paula.
- Não me admira que não
se contenha com salsichas, larga como estás, sobra espaço – comentou uma voz
grave.
- Quem disse isso? –
inqueriu Paula, assustada, antes de abrir a porta do banheiro.
- É ele – respondeu a
vagina.
- Ele quem?
- O seu cu.
- Ele também fala?!
- Bem, ouço mais do que
falo, mas dou meus palpites também, querida – disse o cu de Paula.
- Vamos, vamos, meu bem,
não ligue para as opiniões de alguém que nunca lhe encarará de frente –
comentou a vagina enquanto Paula abria a porta do banheiro e seguia enfrente.
- O que você sente é
inveja, já que no final eles sempre acabam procurando por mim - retrucou o cu a
vagina, enquanto esta lhe mostrava a língua, ou algo parecido.
- Ah é? Eu juro que irei
atrapalhar da melhor forma possível: merda – disse o cu irritado, enquanto
Paula seguia para mais um encontro amoroso, sendo imediatamente interrompida, e
retornando ao banheiro, mas desta vez por outros motivos.
Para Completar, veja 100 Apelidos Para Vagina:
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