DESVENDANDO A MISSA DAS ALMAS DO CEMITÉRIO DA SOLEDADE
O
blog BORNAL se dedicará a investigar alguns fatos tidos como sobrenaturais, em
uma coluna especial que irá chamar-se BORNAL INVESTIGAÇÕES. Hoje, dando início
a ela, iremos investigar a lenda da Missa das Almas.
A
Missa das Almas, ou Missa do Além, é uma lenda que atualmente está um pouco
esquecida, porém era bastante conhecida das gerações passadas, como um “causo”
de fantasma. Em nossa região, ela conta a história de uma senhora que ao perder
a noção das horas, chega mais cedo do que de costume a igreja para a missa da
manhã, deparando-se com uma missa estranha, composta por pessoas com aspectos
cadavéricos, descobrindo, ao final, tratar-se de uma missa composta apenas por
almas penadas (leia em detalhes aqui).
Com
uma pequena pesquisa, descobrimos que a Missa das Almas possui versões
diferentes contadas como tendo acontecido em algumas cidades de nosso país, com
algumas variações, como a que é contada na cidade de Ouro Preto, Minas
Gerais, acontecida, segundo esta versão, na igreja de Nossa Senhora das Mercês
de Cima, que se localiza ao lado de um cemitério, em que o ocorrido não teria
acontecido com uma senhora, mas com um zelador de igreja:
“Conta-se
que numa noite, já deitado, o zelador e sacristão da igreja, João Leite, viu
luzes na Igreja e pensando que fossem ladrões foi investigar. Para sua
surpresa, viu que o templo estava cheio de fiéis, lustres acesos e o padre se
preparando para celebrar uma missa. Ao entrar já percebeu que o ambiente estava
mais frio que o relento do lado de fora.
A
princípio só estranhou o fato de que todo mundo estava vestindo roupas escuras
e permaneciam de cabeças baixas. No mais, tudo parecia caminhar para uma
cerimônia religiosa tradicional. Cheiro de incenso no ar, altar arrumado, e um
silêncio sepulcral. Achou também estranho uma missa naquela hora, e sem que ele
nada soubesse. Era de fato uma coisa atípica. E os cabelos dos seus braços já
ficaram arrepiados e um frio esquisito percorreu seu corpo inteiro.
Quando
o padre se voltou para dizer o "Dominus Vobiscum", ele viu que seu
rosto era uma caveira. Viu que também os coroinhas eram esqueletos vestidos com
aquelas roupas que mais pareciam mortalhas. Não esperou para ver o resultado,
saiu apressado dali e viu a porta que dava para o cemitério escancarada.
Voltou
para casa sem saber o que pensar, completamente desorientado. Do seu quarto,
ficou ouvindo aquela missa do outro mundo até o fim.”
Outra
versão, da cidade mineira de São João Del Rei, é contada como ocorrido na
igreja de Nossa Senhora do Pilar, uma antiga construção barroca, em que uma
senhora é acordada pelo som dos sinos da igreja, tocados bem antes do horário
normal, convidando-a para o ritual religioso. Nesta versão ainda temos a
presença de um padre fantasmagórico.
Seguindo
esta pista, pelo fato de serem histórias passadas de geração em geração por
meio oral, fica difícil determinarmos qual de suas versões é a primeira.
Todavia, continuando a pesquisa, chegamos a um primeiro autor conhecido de uma
versão da Missa das Almas. Seu nome é Anatole France (1844 - 1924), escritor
francês que escreveu um conto intitulado A Missa das Sombras.
Seu
conto nos indica que a lenda da Missa das Almas, não é apenas conhecida no
Brasil, mas também em países europeus, tendo sua origem no velho continente.
E,
de fato, a Missa das Almas é conhecida em Portugal pelo mesmo nome, e também na
Espanha por Missa de las Animas. É uma velha lenda que remonta a idade média e
ao Império Romano, em que já havia a crença de que os fantasmas dos mortos se
reuniam, de tempos em tempos, em lugares sagrados; sendo adaptada, aos poucos,
a fé católica.
Portanto,
nossas variações da Missa das Almas não passa de variantes da lenda de origem
européia trazida por portugueses para o Brasil, e adaptada de acordo com cada
região que a dotou, com a função de, por meio de elementos sobrenaturais, fazer
com que o povo valorizasse a reza aos mortos.